Casal juiz-forano recicla resíduos orgânicos através da técnica de compostagem com minhocas

Inês e Fernando praticam a consciência ecológica há 56 anos e, atualmente, deixam de descartar 2 kg de lixo por dia para transformá-lo em adubo natural

Angeliza Lopes
Repórter
23/04/2016
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Conscientes da importância de pequenas atitudes, o casal juiz-forano Maria Inês Dias Vieira Braga, 74 anos, e Antônio Fernando Vieira Braga, 80 anos, reinventa formas de manusear o lixo produzido dentro de casa há 56 anos. Além da separação dos resíduos recicláveis e não recicláveis, os dois passaram a adotar há dois anos a composteira doméstica – reservatório onde ocorre o processo de transformação dos restos orgânicos em adubo com o auxílio das minhocas. Esta atitude evita o descarte de quase metade do lixo produzido diariamente no lar do casal, visto que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2008, 51,4% de todo o resíduo sólido coletado no Brasil é material orgânico, jogados, em sua maioria, nos lixões e aterros sanitários.

A prática de condicionar papel, vidro, metal e plástico separados das cascas de frutas, legumes e restos de comida se tornou corriqueira na vida dos dois, que estavam décadas a frente da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída através da lei n° 12.305/2010, que determina novas formas de entender, distinguir e trabalhar os resíduos recicláveis e rejeitos. Questionada sobre os motivos que levaram a família a viver de forma ecológica, Maria Inês brinca. "Essas ideias vieram da cabeça do meu marido".

"A mãe dele morava em fazenda e tinha o costume de separar o lixo seco do orgânico, que era enterrado no quintal. Quando ela veio para a cidade, trouxe a prática, herdada pelo Fernando. Esta terra se transformava em adubo. Sempre deixamos separados os jornais e papeis para os coletores de materiais recicláveis. Também separamos pilhas, seringas descartáveis e ampolas de remédio, que acabam se tornando um problema, pois é pouco divulgado onde recolhe este tipo de resíduo", conta a dona de casa, mostrando a garrafinha de plástico cheia de ampolas usadas. "Estamos guardando até descobrir onde entregar!".

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Fernando Vieira, engenheiro ferroviário aposentado, tinha um espaço no quintal da antiga casa que morava com Inês e os filhos, na rua Olímpio Reis, reservado para que ele pudesse enterrar os restos orgânicos. "Eu tinha um quadrado que jogava tudo lá e enterrava". Ele recorda também da proximidade que tinha com Vera, uma das coletoras que sempre recolhia o papel e outros recicláveis que era produzido na sua casa.

"Hoje, mesmo separando os resíduos secos, não temos certeza que estão sendo destinados para a coleta seletiva, pois desce tudo junto com o lixo do condomínio. Não damos o valor necessário ao trabalho destas pessoas que não tem hora para parar e são responsáveis pelo destino correto de nossos resíduos. Existe uma lei no Brasil que diz que os lixões devem deixar de existir, mas sabemos que ainda temos muitos em todo país e pessoas que vivem à custa do que retiram de lá.", lembra Vieira ao se referir ao prazo estipulado pela PNRS, que expirou em agosto de 2013 com menos de 10% dos municípios adotando o aterro sanitário.

Composteira doméstica

Sem espaço para enterrar os restos orgânicos, o jeito era pensar em uma outra forma de descartá-los. Há quatro anos, uma das filhas do casal descobriu durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, uma nova forma de tratar a compostagem em apartamentos. A descoberta foi apresentada pela empresa Morada da Floresta, em um estande, que utiliza do auxílio das minhocas - californianas (vermelhas), para o processo biológico de transformação da matéria orgânica em composto, adubo natural semelhante ao solo. Mas, a composteira também pode ser feita de diferentes formas, como barril e tonel, em diversos tamanhos e formas, conforme explica o site Recicloteca.

"A nossa composteira é suficiente para armazenar os resíduos gerados por seis pessoas, que seria, em torno de, 2 kg de lixo descartados por dia. Ela é formada por três recipientes, sendo que o primeiro nós colocamos os restos de castas de legumes, frutas e outros. Gosto de picá-los antes e depois tampar com folhas secas, que ajudam a evitar mau cheiro e aproximação de moscas e bichos. Antes eu usava serragem, mas ela é mais difícil de encontrar e tem restrições, como serragem de madeira envernizada ou de compensados, que não são recomendadas. Depois que fica cheio, eu desço com o recipiente para baixo, que precisa ficar processando por 20 a 30 dias. O último depósito é onde desce o líquido, que retiro sempre e também é ótimo adubo e pesticida natural para as plantas. Ele deve ser diluído na proporção de uma parte do composto para 10 litros de água, com intervalo de uma semana nas aplicações", explica.

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Informações: Manual da Composteira Doméstica Morada da Floresta

Podem ser colocados na composteira frutas, legumes, verduras, grãos e sementes, casca de ovo, borra e filtro de café, sachê de chá e erva de chimarrão, sem a etiqueta. Já os que devem ser colocados moderadamente são as frutas cítricas, alimentos cozidos, laticínios, flores e ervas medicinais, guardanapos e papel toalha. Existem alguns orgânicos que não podem ser condicionados na composteira, que são as carnes, limão, temperos fortes, líquidos de iogurte, leite, caldos de sopa e feijão, óleo e gorduras, fezes de animais e pepeis higiênico, jornais e papelões.

Todo composto sólido processado pelas minhocas são reutilizados pelo filho de Maria Inês em plantações. "Quando ficamos com o recipiente cheio, meu filho leva os sacos de adubo, que é 100% natural. Para não machucar as minhocas, eu deixo o caixa destampada, que elas descem, por serem sensíveis a luz e vou retirando por cima. Nada é perdido, tudo se transforma em algo útil.", completa.

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