O óleo de cozinha, que costuma ser dispensado de maneira incorreta pela população, será transformado em biocombustível em Juiz de Fora. Esse é o objetivo da campanha “Óleo no futuro”, lançada em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (22). A ideia, que promoverá testes com veículos do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), visa a contribuir não só para uma redução na emissão de gases poluentes, mas também posiciona o município na busca por um papel de destaque na discussão global sobre preservação ambiental, partindo de um projeto prático.

De acordo com a Prefeita, Margarida Salomão, caso esse arranjo tenha sucesso, a intenção é atrair investimentos de empresas estrangeiras voltadas para essa atividade para Juiz de Fora. “Estamos conseguindo articular pontas muito dispersas da cidade: ciência tecnologia e,  do outro lado, os recicladores, os catadores de lixo, que vão colaborar de uma forma decisiva coletando o óleo de cozinha”. A PJF, segundo Margarida, tem atuado como mediadora, inclusive no contato com a empresa britânica Green Fuel.

O professor do Departamento de Química da UFJF, Adilson David da Silva, que é também coordenador do Projeto Plataforma de Biodiesel da Zona da Mata, exemplifica o funcionamento da iniciativa. ”Um litro de óleo se converte em um litro de biodiesel. Pegamos esse óleo, fazemos uma reação com meio básico e convertemos em óleo com resíduo de 10% de glicerina, que também é material de interesse e pode ser aproveitado na alimentação de animais e até mesmo para a produção de cosméticos.”
Para que seja viável, no entanto, o projeto precisa de uma usina para funcionar. O volume de óleo pensado inicialmente é de 10 mil litros por mês para que seja possível ter um retorno financeiro. Adilson destaca ainda, que um litro de óleo jogado em um rio tem a capacidade de poluir até um milhão de litros de água.











O destino final da pesquisa, é biocombustível, conforme o professor. Ele pontua que o bio é adicionado ao nome, porque ele não é mais um meio de energia chamado de fóssil. “Ele polui menos, libera menos dióxido de carbono na atmosfera, então reduz a emissão de gases que provocam o efeito estufa, enquanto dá uma destinação adequada ao óleo.” Para que isso ocorra, segundo Adilson, é preciso fazer com que o óleo produzido seja validado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). “É uma pesquisa bem completa na sua inovação e na aplicação para a sociedade."

O projeto ainda não é um negócio, mas os participantes enxergam nesse trabalho uma porta para viabilizar a inserção do produto no mercado, que seja capaz de diminuir a dependência que o país ainda tem dos combustíveis fósseis. “O que nos afasta de uma possível guerra, de um possível problema de entrada de combustível na cidade ou no país”, complementa o professor do Departamento de Química.

Recolhimento de materiais

Um outro viés fundamental da iniciativa está no pilar social, já que vai ter nos catadores de materiais recicláveis protagonistas desse processo, com participação na elaboração do projeto. “Estamos emocionados pela maneira que fomos incluídos. Já trabalhamos com outros tipos de resíduos e o óleo estava faltando para colocarmos no nosso currículo”, afirma o presidente da Associação Lixo Certo, José Rubens Rodrigues da Rocha. Ele orienta a população a comprar a ideia de não jogar mais óleo no ralo da pia.


A Prefeitura informou que a cidade vai contar com 18 pontos de coleta em diversos pontos da cidade, a partir da segunda-feira (25).  Para a entrega, o óleo de cozinha usado deve ser colocado em garrafa pet bem fechada, para evitar vazamentos. A população pode levar o óleo usado para o Espaço Cidade, para qualquer unidade do Ecoponto, nos Centros de Apoio do Demlurb, nas Associações Ascajuf, Apares, Alicer, Adem e ACCSJF, nos Restaurantes Universitários da UFJF e no prédio da Reitoria, no Campus.

Polo de Energias Renováveis

A transformação do óleo em biocombustível é, segundo o secretário de Desenvolvimento, Ignácio Delgado, uma das frentes que podem fazer de Juiz de Fora um polo nacional de energias renováveis.  Dados trabalhados por Delgado mostram que, de acordo com Observatório do Clima, a energia responde por 57% das emissões de CO² no município e, dentro dela, 80% das emissões derivadas do transporte, isso ajuda a ilustrar o impacto que esse tipo de medida tem. 

O experimento, segundo o secretário, ocorre em Juiz de Fora, no Catar e no Panamá. A cidade conta com o maquinário da usina de biodiesel desde janeiro de 2021. A instalação fica na sede do Centro Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão, Transferência de Tecnologia e Cultura, da Universidade Federal de Juiz de Fora (CIEPETEC- UFJF Norte). 

“A ideia é que, passada a fase de testes, esse equipamento se viabilize como produto. Isso pode atrair empresas para produção na cidade. Temos muito conhecimento, muita pesquisa, mas uma estrutura produtiva ainda com poucos setores intensivos em tecnologia. Além de participar dessa transição que é planetária, nós trabalhamos para enfrentar o dilema ambiental da cidade”, detalhou Ignácio Delgado 

Somando o conhecimento, e iniciativas como essa e como a produção de energia fotovoltaica, é alcançada a meta de colocar a cidade em uma posição de destaque nesse momento de transição ecológica e de urgência de produção de novas energias que está sendo exigido do planeta. O que ainda pode significar a atração de investimentos, uma vez que empresas desse segmento começam a se interessar e há a oportunidade de alavancar também negócios locais, que lidam com essas tecnologias.

Foto: Divulgação Prefeitura de Juiz de Fora/ Carlos Mendonça

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