Assistidos reclamam dos serviços no Centro Pop e Casa de Passagem para Homens
Os serviços, executados pela Amac, passaram a funcionar no novo endereço em novembro de 2019
Repórter
14/03/2020
Desde novembro do ano passado, o Centro Pop e a Casa de Passagem para Homens passaram a funcionar no prédio de três andares na Avenida Brasil, n° 265, no bairro Costa Carvalho. O anúncio da escolha do imóvel causou muita polêmica e resistência por parte de moradores do entorno e comerciantes, mas, por fim, os serviços executados pela Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) foram adaptados ao novo espaço, já que o imóvel anterior na Rua José Calil Ahouagi não apresentava mais condições de abrigar os usuários diários por questões estruturais e de segurança, já alvos de ações do Ministério Público.
Segundo assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), todos os espaços foram adequados ao número de usuários e com as devidas adaptações de acessibilidade e prevenção de pânico e incêndio. Assim, o prédio passou a reunir os serviços que atendem ao solicitado em chamamento público, ou seja, 100 homens na Casa de Passagem e 200 pessoas no Centro Pop. O contrato firmado é válido até fevereiro de 2023.
Usuários reclamam da prestação de serviço
A reportagem do Portal ACESSA.com esteve no novo prédio na sexta-feira, 13 de março, por volta das 11h, e notou pouca movimentação de pessoas no pátio externo do núcleo. Aos poucos, o frequentador M.A.A, de 25 anos, contou que retornou para a Casa de Passagem há pouco tempo e disse que a infraestrutura melhorou muito, mas reclamou de algumas mudanças que ocorreram sem diálogo junto ao grupo assistido. Outro homem, de 35 anos, relatou que na última quinta, 12, alguns frequentadores tentaram conversar com a coordenação sobre as adaptações das regras internas de funcionamento estipuladas em reunião. "Em vez de conversarem, já chamaram Guarda Municipal para os irmãos. Morador de rua tem que ser tratado igual, dependo disso aqui. Disseram que que a gente só tinha o direito de acatar a decisão deles", relatou.
Todos os frequentadores da Casa de Passagem entrevistados reclamaram que a alimentação servida é precária. Eles disseram que por diversas vezes o almoço chegou azedo e com legumes crus. Além disso, eles questionam os critérios usados para a aplicação das suspensões."Antes ela era aplicada no Centro Pop ou no albergue, agora a penalidade sempre é para os dois serviços. Somos moradores de rua, onde vamos almoçar e tomar café. Notamos que os funcionários têm muita implicância conosco", reclamou o usuário que preferiu não se identificar.
Natural do Rio de Janeiro, P.F, 28 anos, disse que teve dificuldades para receber seus documentos. "Todo este tempo a assistência social não me ajudou no processo de envio dos meus documentos de lá para cá, tive que pedir ajuda fora. Sou epilético e ex-usuário de drogas. Estou tentando dar entrada no INSS. Aqui não temos muitas atividades, ações para reinserção ao mercado de trabalho, apenas as meninas do serviço de abordagem que são muito atenciosas. Só tem a TV aberta e não podemos deitar no pátio para tomar sol". Seu amigo, de 38 anos, que também preferiu não se identificar, disse que possui quatro graus de astigmatismo e miopia e por estar sem óculos, tem medo de sair na rua. "Já pedi a assistência social. Acaba que a gente se auto exclui".
Outro problema que apontaram foi a falta de varal para estender roupas. Enquanto conversávamos, flagramos um varal de chão, único espaço para atender todos os assistidos.
Espaço ainda passa por adaptações
A gerente do serviço de média complexidade da Amac, Alexandra Rossi, ao ser questionada sobre as reclamações, esclareceu que o espaço ainda passa por adaptações e que são realizadas constantes reuniões e assembleias com os usuários para ouvir suas demandas, e acatadas, caso não atrapalhe o funcionamento para todos. "O problema com a alimentação é algo verídico e estamos trabalhando para melhoria da qualidade, junto a gestão da Prefeitura. Quanto às atividades, já estamos implementando novas atividades com professoras, algumas vão iniciar após o retorno da greve municipal, mas já oferecemos Escolarização, mas, até momento, apenas uma pessoa aderiu. Teremos, também, educação física e artes".
Ela desmente algumas alegações feitas pelos assistidos, como falta de atividade para reinserção ao mercado de trabalho. "Oferecemos um trabalho com auxílio de uma psicóloga. São várias etapas, como tratamento da dependência química. Hoje temos de oito a 10 currículos já encaminhados. O maior problema é eles entenderem essa outra forma de vida".
Quanto as mudanças, regras e proibição de permanência nas calçadas e restrição de tomar sol deitado na área externa, a gerente explica que foram formas de inibir a organização de aglomerados de usuários de drogas e tráfico em frente ao prédio, igual era no antigo Centro Pop. "Tivemos uma grande resistência para vir para cá por parte da comunidade local, por isso para conseguir entrar consenso com entorno, criamos as regras. Eles querem viver no espaço do jeito deles, mas precisam atender as normas para um bem comum".
Em relação aos técnicos, Alexandra defende que situações de perseguição não procedem. "Eles estão inseridos em uma rede de atendimento, onde será o único lugar onde serão ouvidos e terão voz, é normal despejarem suas frustrações. A reclamação não muda a história no foro íntimo de cada um."
Com a mudança realizada em novembro, a gerente afirma que teve grande melhora em relação a segurança do espaço, mas que adequações ainda estão sendo realizadas. Uma delas será a instalação de uma centrífuga para melhorar o espaço de lavanderia. "Já está comprada, mas com as chuvas, não conseguimos instalar ainda. Assim, as roupas vão sair quase secas e haverá locais no prédio com monitoramento para eles estenderem as peças".
Serviços
Atualmente, os serviços da Casa de Passagem para Homens: das 17h às 7h, ofertando banho, alimentação, pernoite e atendimento técnico.
Já o Centro Pop é das 7h às 18h, ofertando acolhida, escuta qualificada por equipe multidisciplinar, orientação para acesso à documentação, incentivo à participação social dos usuários e à defesa de direitos, oferta de cuidados de higiene, vestuário e alimentação, encaminhamentos para os demais serviços de atendimento, identificação para encaminhamento para programas de transferência de renda.
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