Jornalista e professor da UFJF lança livro sobre segurança pública

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Jornalista e professor da UFJF lança livro sobre segurança pública e jornalismo

Ricardo Bedendo aborda forma como área é tratada pela mídia e relata parte de sua experiência de sete anos como repórter

Lucas Soares
Repórter
29/10/2013

"O jornalismo e a segurança pública ainda têm muito a aprender uma com a outra." A frase é do jornalista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Ricardo Bedendo, autor do livro Segurança Pública e Jornalismo, que será lançado na noite desta terça-feira, 29 de outubro, à partir de 19h30 no Fórum da Cultura (rua Santo Antônio 1112, Centro).

O objetivo principal da obra é fazer um convite à reflexão sobre os desafios que envolvem as relações entre a imprensa e a área de segurança pública, bem como a compreensão de conceitos fundamentais à formação técnica e social de jornalistas e de agentes públicos do setor. "Eu enumero algumas coisas que devem ser repensadas, como quebrar um estereótipo que a notícia na segurança pública só pode se tornar manchete através da tragédia alheia. São muitas boas ações e é relevante que isso também seja divulgado", exemplifica Ricardo.

O começo da carreira na área policial, meio a contra gosto, foi lembrado pelo jornalista. "Minha vida profissional teve início no rádio esportivo, na Rádio Solar. Depois fui chamado para assumir a página de esportes do Diário Regional. Três meses depois, em 1997, fui transferido para a editoria de polícia. Aquilo foi uma grande surpresa, um grande susto. Jamais imaginei que poderia trabalhar naquela área. Eu não queria, relutei, mas a voz da experiência falou mais alto e acabei cedendo. Decidi ir um dia para a rua com a repórter da época e, depois daquele dia, fiquei sete anos consecutivos fazendo a área policial, que hoje eu chamo de segurança pública", afirma.

A experiência trabalhando na área trouxe enormes benefícios ao jornalista, tanto que ele acredita que essa vivência deveria fazer parte da carreira de todos os profissionais da mídia. "É, sem dúvida, nenhuma a área na qual você se aproxima de todos os conceitos da vida. Você passa a conhecer muito profundamente o ser humano e as instituições que o rodeiam. Você passa a entender melhor os contextos sociais nos quais você está inserido e ali você pode perceber uma essência muito importante do jornalismo, que é narrar histórias de vida. E quando você narra histórias de vida, com tantas ligações, histórias e ambientes, você passa a entender mais de ética e da equipe. Se eu pudesse, de alguma forma, fazer com que todo jornalista passasse por essa área, seria muito bom", conta.

Apuração

Ricardo debate ainda a forma como são feitas as coberturas na área de segurança pública. Segundo ele, os vícios tecnológicos e a internet tiram um pouco do romantismo e da tradição do jornalismo. "(O trabalho) era mais difícil e prazeroso. É um aspecto que eu discuto aqui. Os riscos e a minha preocupação com o trabalho jornalístico movido ao ritmo da banda larga. Às vezes tenho uma sensação de que há uma alergia à espera, à pausa. Eu sei que os deadlines das redações são muito corridos. Mas nessa área, é preciso confrontar com o relógio. As responsabilidades de administração de nomes, histórias, imagens crescem ao passo da velocidade de administração das tecnologias. Eu gosto muito do Facebook, mas nada melhor do que o face to face. Nada melhor do que esse cara a cara. Ir até o local, presenciar os fatos, ouvir as pessoas, sentir o ambiente e aí você começa a reapurar melhor aquilo que eu disse de conhecer o mundo. Eu tenho um receio que essa tecnologia esteja exercendo, de alguma forma, uma tendência que muitos profissionais fiquem dependentes só da máquina e das suas tecnologias. Uma informação de homicídio, por exemplo, não ir ao local do fato é muito temeroso. Somente confiar nas informações da Polícia Militar (PM) é ter uma narrativa muito reduzida. Essa é a importância desses métodos mais tradicionais e românticos", afirma.

A PM e a mídia

Por fim, o jornalista fala de como vê a relação hoje entre PM e mídia. "É uma relação que avançou bastante. Tivemos uma abertura democrática nesse sentido, até porque a imprensa passou a frequentar os batalhões e a PM reservou policiais para atender a imprensa. A PM se aproxima da imprensa e, ao mesmo tempo, da comunidade", revela.

O avanço é enorme, tanto que o prefácio da obra foi escrito pelo tenente-coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, Alexandre Nocelli, considerado uma das maiores referências no país sobre o estudo e a aplicabilidade de conceitos e de ações da filosofia de polícia comunitária, termo em crescente discussão na área e abordado por Ricardo no livro, que foi editado pela editora Insular.

A obra é dividida em dois eixos de pensamento. O primeiro é sociológico e apresenta as trajetórias de algumas instituições policiais no mundo e a discussão acerca do contemporâneo conceito de Policiamento Comunitário. O segundo foco é na formação jornalística, com ênfase em aspectos teóricos e práticos do dia a dia da imprensa diante desse especializado fluxo de informações.