Os pobres e métodos para combater a Pobreza
O problema da pobreza no mundo não é novo. A Igreja prima na história pelo cuidado dos pobres. No último século e no atual crescem as preocupações de parte da humanidade sobre a questão, sobretudo quando as estatísticas demonstram que a riqueza acumulada na mão de uma pequena parcela causa a miséria de uma grande parte de pessoas humanas obrigadas a viverem sem condições de vida digna, sobretudo em países pobres. Papa São João Paulo II, em seus discursos, condenava o crescimento de riquezas de poucos cada vez mais ricos à custa de muitos cada vez mais pobres.
O que os cristãos têm a ver com isso? O que a Igreja teria a fazer pela classe dos que vivem nesta situação de sofrimento? Diante destas perguntas, existem aqueles que pensam que tal situação não diz respeito à religião, que a missão do cristianismo se restringe apenas à área espiritual, da oração, da celebração, do louvor, da prática sacramental e na pregação das virtudes espirituais. De outro lado há extremistas que pretendem adaptar o evangelho a teorias e a filosofias sociológicas modernas, sendo a mais evidente o marxismo.
A Igreja não se orienta nem pela posição de um e nem de outro destes grupos. Ela, pelo próprio princípio bíblico, não pode ficar alheia à situação de iniquidade social (cf Mistérium Iniquitatis e II Tes 2, 7), assistindo o poder do mal ameaçar os filhos de Deus. Sendo grave a situação da injustiça social praticada, infelizmente, às vezes, até por pessoas que se consideram cristãs, católicas ou não católicas, ela tem o dever de dar orientação sobre isso. Ela não pode desconhecer situações anunciadas por Jesus como a parábola do rico epulão e o pobre Lázaro (Lc 16, 19-31), nem ficar alheia à lógica de Cristo presente no capítulo 25 de São Mateus: “Tive fome e me destes de comer, sede e me destes de beber...”.
A Igreja tem vasta literatura oficial sobre a questão. Desde o ano de 1891, vários documentos papais têm sido publicados: a Encíclica Rerum Novarum (15 de maio 1891), de Leão XIII, a Quadragessimo Anno (15.05.31) de Pio XI, Decretum Contra Communismum, do Santo Oficio (01.071949) de Pio XII, a Encíclica Pacem in Terris de João XXIII (13.04.63), a Propulorum Progressio (26.03.1967) de Paulo VI, a Sollicitudo Rei Sociallis (30.12.1987) de São João Paulo II, Caritas in Veritate (29.06.2009) de Bento XVI, Laudato Si (18.06.2015), do Papa Francisco.
Além destes documentos de caráter universal, há os documentos latino-americanos resultados das 5 conferências do CELAM (Conferência Episcopal Latino Americana) fundado por Pio XII, em 1955, a saber: Rio de Janeiro (1955), Medellin (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992), Aparecida (2007). Todos eles tratam do assunto, sobretudo a partir de Medellin.
Se a Igreja trata com muita atenção a questão social, sua Doutrina Social não é marxista. A Igreja nestas questões não tem nenhum compromisso com a filosofia de Karl Marx, nem de Frederico Engels, nem se compromete com as ideias políticas de Lenin, Stalin, Fidel Castro Antonio Gramisci ou quem quer que seja. Se há algum eclesiástico que aja desta forma, está em situação alheia ao pensamento da Igreja.
É importante, portanto, deixar claro que, se por um lado as preocupações com a situação da pessoa humana, sua dignidade natural e a justiça social, possam admitir alguma semelhança entre os regimes socialistas e os princípios do evangelho, há uma diferença gritante entre os métodos para a busca da solução. Enquanto Cristo prega a paz, a fraternidade, o amor ao próximo, a vida eterna, o que assistimos nos regimes de fundo marxista é o da violência, a falta de liberdade democrática (partido único, proibida a oposição, a perpetuação no poder, a perseguição aos contraditórios), a eliminação do direito de propriedade e a organização social sem Deus, sem religião. Pese ainda sobre seus métodos, o comportamento de fundo maquiavélico que justifica os meios para se conseguir o fim, muitas vezes praticado. Tais práticas são condenadas pela Igreja não só nos partidos de cunho marxista, mas em qualquer outro.
Já houve quem dissesse que a diferença entre Cristo e Marx é que Marx, procurando a justiça social, diz: ‘O que é teu é meu’; e Cristo, diz: ‘o que é meu é teu’.
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