GRAMADO, RS (FOLHAPRESS) - A Secretaria Nacional do Audiovisual promoveu, nesta segunda-feira (15), um bate-papo como parte da programação do 50º Festival de Cinema de Gramado --só que para quase ninguém. A sala para cerca de 60 pessoas estava esvaziada, com apenas três cadeiras ocupadas --uma delas, por este repórter, e outra por um dos curadores do festival.

Previsto para as 14h, o debate intitulado "O Investimento Público em Audiovisual no Brasil: Uma Análise dos Últimos Anos" começou às 14h16, na expectativa que mais público chegasse. Mais quatro pessoas se juntaram ao bate-papo com atraso.

Nos primeiros três dias de festival, é possível notar um clima político acentuado, com palavras de enfrentamento ao governo federal sendo vociferadas em todas as sessões oficiais dos filmes em competição até aqui. Gritos a favor de Lula também se tornaram frequentes no Palácio dos Festivais.

É um contraste interessante numa cidade que ostenta rótulos de cerveja com o rosto de Jair Bolsonaro nas vitrines das lojas e também cartazes em apoio ao presidente na estrada que liga Porto Alegre a Gramado.

No tapete vermelho, que corta a rua Coberta, em que turistas e população local se reúnem em mesas para jantar, por outro lado, é comum ouvir gritos de "mito" conforme os artistas passam.

Gustavo Chaves Lopes, secretário nacional do Audiovisual e palestrante da mesa que ocorreu nesta segunda, destacou essa ambiguidade em conversa com a reportagem. Ele acredita que a sala de debates esteve vazia mais por questões de agenda -"horário de almoço, na ressaca de segunda", comentou ao iniciar sua apresentação.

Vale ressaltar que, paralelamente ao debate, ocorria também uma conversa entre a imprensa e o homenageado da noite, o cineasta Joel Zito Araújo --mas esse tipo de evento não costuma ser frequentado por outros visitantes de Gramado, como produtores e distribuidores, a quem os debates são, a princípio, destinados.

Durante o bate-papo, que foi até as 14h35, Chaves Lopes comentou dados de mercado, os impactos da pandemia no setor, incentivos fiscais, Lei Rouanet, Fundo Setorial do Audiovisual, Lei Paulo Gustavo -vetada por Bolsonaro- e Cinemateca Brasileira, que na visão do secretário "não pegou fogo, o que pegou fogo foi um anexo". "A perda é irreparável, mas é muito pequena", afirmou ainda.

Em julho do ano passado, um dos prédios que abriga rolos de filmes e outros arquivos do maior acervo de audiovisual da América Latina pegou fogo. Entidades relacionadas à preservação da memória fílmica do país denunciaram o descaso do governo e o congelamento de verbas de manutenção como facilitadores para o incêndio.

Após o bate-papo, Chaves Lopes comentou, em conversa com a reportagem, as reações políticas ao longo do festival. Ele, que discursou na abertura do evento na última sexta-feira, se mostrou surpreso por não ter sido recebido por vaias na ocasião.

"Se acontecer, eu e o governo vemos isso de forma tranquila, é do jogo democrático. São públicos diferentes. Os artistas, o público do festival, de fato se colocam contra o governo federal -apesar de ele estar fazendo investimentos no setor-, mas, de outro lado, a população vaia esses artistas. Essa divisão está muito clara", afirma. "É fundamental a secretaria estar aqui em Gramado, ainda mais numa data especial, no aniversário de 50 anos."

Questionado se esta é uma tentativa de reaproximação do setor, amplamente atacado por Bolsonaro desde que tomou posse, o secretário diz que não. A presença da Secretaria do Audiovisual, bem como de representantes federais das áreas de direitos autorais, da Biblioteca Nacional e da Lei Rouanet, tem como simples objetivo uma "prestação de contas".

"A gente nunca quis se afastar da cultura", finaliza.


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