FOLHAPRESS - "Quem tem asas não precisa de cavalos." A frase, dita mais de uma vez no longa "Down Quixote", está ligada às desventuras de Dom Quixote de La Mancha, mas também ao processo criativo do filme. São 23 atores com síndrome de Down que protagonizam a adaptação do clássico de Miguel de Cervantes no cinema e propõem um olhar imaginativo e fascinante para o cavaleiro andante da triste figura.
No processo de criação, conduzido pelo diretor Leonardo Cortez, os atores participaram diretamente do desenvolvimento do roteiro, por meio de improvisações a partir da obra de Cervantes. Eles também colaboraram no processo de montagem. Não é pouca coisa.
O trabalho coletivo transforma os sentidos da obra. A síndrome de Down deixa de ser apenas uma característica peculiar do filme, para se tornar a sua substância, seu coração, a perspectiva pela qual se observa o clássico da literatura mundial.
O modo singular com que esses atores encaram a vida transforma a maneira de compreender o universo de Dom Quixote. As ênfases que eles põem nas falas, por exemplo, são bastante incomuns, mas não um problema. Pelo contrário, acabam por iluminar aspectos muito bonitos e divertidos das construções literárias de Cervantes.
Em vez de demonstrar o delírio de Quixote, eles se interessam mais pelo companheirismo, pela intensidade sentimental e pela imaginação livre que percorre o universo do cavaleiro. Eles levam a sério e respeitam as personagens e, assim, o filme mostra como as situações é que são engraçadas, muito mais do que o desvario das figuras.
O grupo de atrizes e atores consegue, por isso, destacar o andamento ao mesmo tempo vibrante, cômico e também melancólico que percorre a obra do autor espanhol.
O modo de criação livre e colaborativo, no filme, tem suas raízes no trabalho do grupo de teatro da Adid, a Associação para o Desenvolvimento Integral do Down, também dirigido há anos por Leonardo Cortez.
O grupo trabalhava na adaptação de "Dom Quixote" para os palcos, em 2020, mas tudo foi interrompido pela pandemia. Surgiu aí a ideia do filme, gravado na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, onde um dos atores passava os meses de isolamento.
As marcas do teatro, contudo, não foram removidas. É um filme cheio de recursos e referências teatrais, como o sol de papelão suspenso numa engenhoca de madeira, os animais de papel, a apresentação de fragmentos da peça "A Vida É Sonho" de Calderón de la Barca durante as andanças de Quixote e seu escudeiro --ou ainda os planos documentais do grupo de teatro da Adid trabalhando na montagem da peça.
Tal característica híbrida do filme não é apenas uma referência ou homenagem ao teatro, mas também a transposição para o cinema daquelas possibilidades democráticas, experimentais e também livres que a velha arte teatral às vezes ainda carrega.
DOWN QUIXOTE
Avaliação: Ótimo
Quando: Qui. e sex. às 14h e às 19h30; sáb., às 19h30; dom., às 18h30. Até dom. (18)
Onde: Centro Cultural FIESP - av. Paulista, 1313, São Paulo
Classificação: Não informada
Elenco: Diogo Junqueira, Juliana Bessa e Rodrigo Bottoni
Produção: Brasil, 2022
Direção: Leonardo Cortez
Link: https://www.sesisp.org.br/
Outras sessões: Informações sobre as exibições em Campinas, Itapetininga, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto em sesisp.org.br
Acessibilidade Arquitetônica: Há acesso e circulação sem barreiras físicas, sanitário adequado e local reservado para cadeirantes com acompanhante
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