SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Lotação máxima todos os dias. Após ser adiado por um ano devido à pandemia do coronavírus, o Rock in Rio retornou neste mês com 700 mil ingressos vendidos ?100 mil por dia de festival.
A procura pelos megaeventos parece um pouco dissonante em relação à recente pesquisa Hábitos Culturais, realizada pela terceira vez em uma parceria do Datafolha com o Itaú Cultural.
Feito entre junho e julho deste ano com 2.240 pessoas de 16 a 65 anos, o levantamento apontou que apenas 26% dos entrevistados retomaram a mesma frequência de atividades culturais que tinham antes da pandemia, 62% fazem menos programas do que antes, e só 12% aumentaram as atividades.
Quando se observa apresentações artísticas (teatro, shows e dança), 18% realizaram alguma atividade presencial ou online no último ano, contra 39% antes da crise.
Mas se os megaeventos estão de volta com força, esse movimento não é visto em casas menores, que lutam para se aproximar dos patamares de frequência pré-pandemia.
Shows e peças de teatro em espaços fechados foram os que mais demoraram para retornar após o afrouxamento das restrições sanitárias.
O pequeno Ó do Borogodó, em São Paulo, chegou a anunciar o fechamento da casa e só sobreviveu com a ajuda recebida em um financiamento coletivo. O tradicional Bourbon Street também passou por dias difíceis. "Se olhasse só para os números, talvez devesse ter fechado, mas não fazia bem para a alma", conta o proprietário, Edgard Radesca.
A casa de shows está em média com 70% da ocupação que tinha antes da pandemia, incluindo muitas noites de lotação completa. No entanto, a oferta da programação é menor. "Antes abríamos de terça a domingo, agora é de quinta a domingo, com uma ou outra quarta", contabiliza Radesca.
O empresário lembra que frequentadores habituais tiveram "escoriações financeiras que impossibilitam o mesmo nível de gasto de antes".
Mas Radesca também aponta para o sucesso de eventos maiores, como os festivais, para atrair o público. "O Bourbon Festival deste ano foi um sucesso, com a maior ocupação entre todas as edições do evento, que já está no 12º ano. O público veio". Em setembro, a casa aposta no sucesso de outro festival, o Bourbon Street Fest, entre os dias 21 e 24, com dois dias gratuitos no parque Burle Marx e sete atrações internacionais.
O dono do Bourbon acredita que a volta aos números de 2019 ainda demora um pouco e não acontece neste ano.
Presidente da Associação dos Produtores Teatrais Independentes e curador teatral em São Paulo, André Acioli também acredita que o retorno é gradativo e que os sucessos atuais são de nichos de projetos, ou o que ele chama de "best-seller".
Um deles é "A Alma Imoral", há 16 anos em cartaz e atualmente no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista. "São peças que furam a bolha para chegar ao público, principalmente em tempos em que a divulgação teatral diminuiu, com a ausência de produtos como guias culturais."
Vencedora do prestigiado prêmio Shell de melhor atriz, a peça com Clarice Niskier, de acordo com Acioli, tem um boca a boca que foi consolidado durante anos.
"O público precisa saber da existência do espetáculo. Veja o caso do Cirque du Soleil. Estavam com ingressos esgotados no primeiro fim de semana, mesmo com tíquete a mais de R$ 600. Então não é uma questão só financeira."
Por outro lado, Acioli aponta que as novas produções não têm dinheiro suficiente para temporadas de dois meses ou mais. Assim, muitas vezes o espetáculo não tem tempo para ganhar esse boca a boca.
O Teatro Porto (antigo Porto Seguro) teve 68% de ocupação entre janeiro e agosto deste ano, contra 60% no mesmo período de 2019. Mas essa frequência é reflexo de uma oferta bem mais comedida.
"Em 2019 tínhamos uma programação com shows às terças, um espetáculo às quartas e quintas, outra de sexta a domingo e ainda uma atração infantil", diz Acioli, que é curador do espaço e do Teatro Eva Herz.
Neste ano, o teatro está apenas com sua quarta peça em cartaz. Depois de "Misery", "Pós-F" e "A Última Sessão de Freud", apresenta agora "Ensina-me a Viver", de sexta a domingo. "Optamos em concentrar forças para um único espetáculo por semana", diz Acioli, apontando que a volta aos bons números de bilheteria é possível, mas gradativa.
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