SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cordas, sopro e percussão. Não faltou instrumento algum no circo que Gloria Groove armou na madrugada deste sábado (17) no Espaço Unimed, casa de shows no bairro paulistano da Barra Funda, para lançar a "Lady Leste Tour 2.0", segunda etapa de sua turnê em curso, que teve uma prévia no Rock in Rio.

O show concretizou algo que a drag queen já ensaiava há tempos, o desejo de ir além do funk e do pop sobre os quais ergueu sua carreira cinco anos atrás. É a mesma tônica de "Lady Leste", seu último trabalho de estúdio, que dá nome à turnê e se tornou um dos discos brasileiros mais ouvidos e aclamados do ano até agora.

Ela não deixou de acenar ao passado, já que, naturalmente, foram com os hits mais antigos, como "Bumbum de Ouro" ou "Coisa Boa", um funk potente com 150 batidas por minuto, que a plateia entrou em chamas. Mas foi além, atravessando uma multiplicidade de gêneros rara entre os artistas do pop brasileiro contemporâneo.

GG, como é conhecida entre seus fãs, foi do funk atravessado por riffs de guitarra de "Bonekinha" e "Vermelho" ao pagode romântico de "Tua Indecisão", gravada com o Sorriso Maroto, contornando ainda o rap sombrio de "Greta" e o reggaeton dengoso de "Apenas um Neném", sua parceria com Marina Sena, revelação do pop onipresente em festivais de música Brasil afora.

A cantora, que este ano estourou a bolha do público LGBTQIA+, também acenou ao samba em "Fogo no Barraco", que incorpora as rimas eróticas do rapper carioca MC Tchelinho, e aos hinos de louvor em "Sobrevivi", que trouxe de volta o riff de guitarra em mais uma de suas parcerias, esta com Priscilla Alcantara, musa do gospel que agora se voltou ao pop.

Foi uma salada de frutas cujo principal ingrediente era a coesão. No palco, "Lady Leste" soa ainda mais catártico, graças não só à sua performance, mas aos seus bailarinos, à sua orquestra e às suas backing vocals, entre elas sua mãe, numa equipe de quase 30 pessoas que faz as vezes das parcerias do álbum e não deixam nada a desejar.

Em São Paulo, quem subiu ao palco como convidada foi Pitty, cantando os hits "Máscara" e "Na Sua Estante", mas a impressão deixada é de que qualquer cantor poderia se apresentar ao lado da drag queen. Versátil como poucos, ela cantou ainda "Exagerado", de Cazuza, e "Malandragem", eternizada na voz de Cássia Eller, enfileirando seu set-list sem desafinar em blocos rítmicos com início, meio e fim demarcados por trocas de looks.

Nenhum dos quatro que vestiu, aliás, era o body inspirado por uniformes de times de futebol estampado com o número 13, aquele que usou no último Lollapalooza quando puxou um coro de "fora, Bolsonaro". Na ocasião, o PL, partido do presidente, atravessou o festival e tentou impor censura aos artistas que declaravam apoio a Lula, o candidato do PT.

Era essa camiseta, no entanto, o look predominante entre os fãs que estavam na plateia do Espaço Unimed. Eles não perderam a chance de entoar coros de "fora, Bolsonaro" ou de "Lula lá" quando as luzes se apagavam em pausas mais longas entre uma música e outra.

Gloria não reagiu às manifestações ?seja por vontade própria, seja por receio de ser processada, visto as batalhas judiciais recentes que artistas como Ludmilla, Juliette e Manu Gavassi enfrentaram na Justiça, acusadas erroneamente de infringir a legislação eleitoral por parlamentares do MBL, que criaram até um projeto de lei para suspender cachês de artistas que fizerem manifestações políticas nos palcos.

Ao se despedir do palco, no entanto, a cantora gritou sem parar "vermelho, vermelho", enquanto pedia à plateia para fazer o L ?seja o vermelho e o L de Lula, o candidato que tem seu apoio, seja o vermelho e o L de Lady Leste, sua persona artística. Para quem sabe ler, pingo é letra. Não o suficiente, espera-se, para bolsonaristas perseguirem e tentarem trazer de volta a censura ao Brasil.


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