SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se fosse vivo, Tim Maia completaria 80 anos no próximo dia 28. E estaria preso, diz o jornalista e produtor musical Nelson Motta, autor da biografia sobre o cantor. "Ou teria muita gente pedindo a prisão dele", completa.
É Nelson Motta quem dirige, ao lado do escritor, cineasta e colunista deste jornal Renato Terra, a série documental "Vale Tudo com Tim Maia", produção do Globoplay que estreia no dia em que o músico faria aniversário.
"O Tim é exatamente o oposto de tudo que está acontecendo hoje no Brasil. Ou pelo menos [contra] esse 30% da população brasileira que está na Idade Média", afirma Motta à reportagem. "Ele era um outsider, completamente independente. Era o oposto de toda essa caretice vigente no país", acrescenta.
Mesmo se considerando um "PhD em Tim Maia", Nelson Motta prefere não arriscar em que ele votaria nas eleições deste ano. "Tenho medo do Tim puxar a minha perna de noite", brinca.
"Na verdade, eu não sei se Tim Maia chegou a votar alguma vez na vida", pontua. "Acho que provavelmente ele ia esquecer de votar". Motta relembra que o músico teve uma incursão na política ao se filiar ao PSB e anunciar a sua candidatura ao Senado pelo Rio ?morreu, porém, antes da eleição, em 15 março de 1998, aos 55 anos.
"O que posso afirmar é que ele agradaria lulistas e bolsonaristas, mas rejeitaria todos", diz. "Acabei de receber essa mensagem dele aqui", diz o produtor musical, aos risos. Em vida, Tim Maia se manifestou contra armas e defendeu a entrada de mais políticos negros na política. "Não precisamos de tiros. Precisamos de música, de som", disse.
Após livro, musical e filme sobre a vida e obra do cantor de "Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)", a série documental promete uma abordagem diferenciada: é o próprio Tim Maia que narra os três episódios. Para conseguir isso, Nelson Motta afirma que eles fizeram uma ampla pesquisa nas entrevistas em vídeo e áudio que o músico deu ao longo de sua vida.
O resultado, segundo ele, é um "show de comédia". "Duvido que tenha uma série musical mais engraçada", diz. Segundo o produtor, Tim Maia era dono de um "humor anárquico e hilariante".
Há também quase 30 minutos de cenas inéditas, provenientes do acervo de Carmelo Maia, filho do cantor. Foram digitalizadas 51 fitas VHS e oito rolos de super-8.
"Tim Maia é multidão, confusão, festa, baile. Mas esse material inédito mostra também um outro lado, em que ele se revela amoroso, doce e carinhoso". Nas imagens, há ainda shows do cantor que nunca foram exibidos.
"E todos tiveram o som restaurado. Nem o Tim Maia iria reclamar de tão bom que ficou. Vai ser ouvido como ele gostaria", afirma Motta, relembrando uma das características mais marcantes do cantor: reclamar do som. "É uma série para você ver dançando."
Apesar de mostrar o Tim Maia esfuziante, a produção não esconde que ele era também um "cara solitário", como afirma Nelson Motta. "Ele reclamava que as mulheres o largavam, que era corneado e que vivia muito sozinho."
"Às vezes, ele chamava duas, três garotas de programa, mas não era para sexo não, era para fazer companhia. Tem isso na série, na voz dele", conta o produtor.
Nelson Motta afirma que a música do cantor segue conhecida pelas novas gerações: "É a garantia dos DJs. É só tocar Tim Maia que enche a pista". Com a nova produção, diz ele, será uma oportunidade para todos saberem mais sobre o músico como pessoa.
"O problema e a glória do Tim é que todo o mundo gostava dele. Ele atravessava gerações e classes sociais", finaliza.
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