SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na primeira vez que J Balvin veio ao Brasil, há cinco anos, ele se apresentou no VillaMix Festival, no Rio de Janeiro. "Foi legal, mas era um festival. Ontem foi diferente, era só sobre nós", diz o cantor, um dos maiores expoentes do reggaeton e da música latina ao redor do mundo, sobre o show que fez na última quarta (5), no Rio. No sábado (8), ele se apresenta em São Paulo, no Allianz Parque Hall.

Em 2017, Balvin vivia seu momento de maior ascensão. Foi quando ele lançou o álbum "Vibras", impulsionado pela música "Mi Gente", parceria com Wily William que depois ganhou remix com Beyoncé e se tornou um hit de proporções globais. Só no YouTube, a faixa tem mais de 3 bilhões de visualizações.

De lá para cá, o colombiano só cresceu. "É bonito [lembrar deste momento], porque se trata de um processo, algo que acontece passo a passo", ele diz. "De lá para cá, tenho tentado ser um ser humano melhor e continuar me desafiando para ser também uma artista melhor."

Desde "Vibras", Balvin cantou em "I Like It", hit arrasa quarteirão de Cardi B com Bad Bunny, gravou com Rosalía, cantou no Super Bowl e foi o primeiro latino a cantar no palco principal do festival Coachella e virou ícone do que se convencionou chamar de onda latina na música. É uma ideia que passa pelos sucessos da música "Despacito" e do cantor Maluma, --além de exemplos brasileiros, como "Bum Bum Tam Tam", do MC Fioti, e a obra de Anitta.

O próprio tratamento de todos esses nomes como parte de um mesmo movimento, o da música latina, acaba soando reducionista, algo que talvez seja mais fácil de perceber no Brasil. Mesmo fazendo parte da América Latina, o país não tem costume de receber grandes shows de reggaeton ou de outros ritmos latinos contemporâneos, sendo J Balvin uma exceção.

Para ele, o Brasil é um destino estratégico. "O reggaeton está no mundo todo, e esses são um dos primeiros grandes shows de reggaeton no Brasil", diz o cantor. "Então, é uma coisa interessante, um mercado novo, que podemos abrir e torná-lo cada vez maior."

Para quem está acostumado a tocar, como ele diz, em lugares como Rússia e Japão, o Brasil parece muito mais acessível. "Por que não no Brasil? O Brasil está na América Latina. Somos latinos. Quanto mais eu vier, mais a minha base de fãs vai crescer porque quanto mais eles me verem, mais vão querer espalhar a palavra. É um desafio."

Mas não se trata de um caminho sem percalços. O show de Balvin no Rio, possivelmente devido a baixa procura por ingressos, acabou mudando de espaço --da Jeunesse Arena para o Vivo Rio, casa de shows com capacidade menor.

Ainda assim, Balvin vê o público brasileiro mais conectado com suas faixas. "O 'molho' do Brasil é maravilhoso", diz. "A conexão é incrível porque vocês gostam de dançar e sorrir, o que deixa tudo ainda melhor."

Balvin traz ao Brasil a turnê "Jose", baseada no álbum que ele lançou no ano passado. É uma obra que vem depois de "Colores", de 2020, quando o colombiano afirmou esta vertente dançante, polida e pop do reggaeton --ritmo que surgiu em Porto Rico nos anos 1990 e, desde o fim da década de 2000, vem ficando mais comercial, mesclado ao trap e à EDM (eletronic dance music).

Ele também se juntou ao porto-riquenho Bad Bunny, a grande estrela do estilo no mundo atualmente, no álbum "Oasis", o primeiro álbum latino a ter todas as faixas entre as cem mais tocadas do Spotify. O cantor é o artista mais ouvido do mundo na plataforma de streaming há dois anos seguidos e coleciona números expressivos nos últimos anos.

"Eu conseguia enxergar esse sucesso todo meu e de Bad Bunny, sempre foi a nossa visão", diz Balvin. "Temos a mesma missão. Queremos ir além do reggaeton, abordar aspectos diferentes de culturas diferentes. E somos únicos, somos diferentes. Nos destacamos porque sempre nos apresentamos do jeito que somos. Não pedimos permissão a ninguém para fazer algo, só fazemos."

Agora, com "Jose", seu nome de batismo, Balvin chega ao seu trabalho mais pessoal. "Quis fazer uma espécie de playlist com o tipo de música que eu gosto", ele diz. "Cresci no gueto ouvindo esse tipo de música, é algo que me dá uma nostalgia."

Com 24 faixas, o disco de fato lembra esse formato de playlist. As sonoridades mais nostálgicas a que Balvin se refere surgem ao longo do álbum, em faixas como "Perra", em que o colombiano se aproxima da sonoridade caribenha do dembow, surgido na República Dominicana. Também em "In Da Getto", produzida por Skrillex, com sample de "In De Ghetto", música eletrônica de pista dos anos 1990.

Ele também canta para seu filho, usa samples de voz de sua mãe e, em "7 de Mayo", recorda a juventude nas ruas de Medelín. "Desta vez, o conceito não foi algo comercial, o conceito sou eu e a música que eu gostava de ouvir quando criança", ele diz. "Eu estava em quarentena, num momento introspectivo, só pensando em na minha vida."

A faixa traz um sample de Daddy Yankee, porto-riquenho que é pioneiro do reggaeton e voz da clássica "Gasolina", de 2004. Yankee faz este ano sua turnê de despedida dos palcos --sem datas no Brasil.

Balvin, hoje com 37 anos, tinha 19 quando ouviu o porto-riquenho pela primeira vez, a música "Latigazo", de 2002. "Eu estava num posto de gasolina ouvindo música com os amigos. Aquilo explodiu minha cabeça. Meu coração pregou naquilo", ele diz. "Antes, eu já fazia música, era mais rap, estilo Jay-Z, mas quando ouvi [Daddy Yankee], decidi que era aquilo que eu queria fazer para o resto da vida."

Amigo de Anitta, Balvin também diz que a Colômbia passou a ouvir ainda mais música brasileira quando ele e ela gravaram "Downtown", em 2017. "As pessoas amam a Anitta nos países da América Latina. Nós somos irmãos. Amo ela demais. Em qualquer lugar do mundo, as pessoas amam a Anitta. Ela é muito real, e muito talentosa. Não há motivos para não amá-la."


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!