SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A rotina de Kid Bengala, que não foi eleito deputado federal por São Paulo nas eleições disputadas em 2 de outubro, continua agitada mesmo após a votação. O então candidato do partido União Brasil está conferindo contratos e documento para a prestação de contas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Referência na indústria pornô, Clóvis Basílio dos Santos, que completará 69 anos em novembro, recebeu 10.312 votos. Mas a expectativa era grande: segundo o TSE, foram investidos mais de R$ 2,4 milhões na campanha do artista. Cada voto recebido custou aproximadamente R$ 240.

"Perdi a pegada da assinatura, a minha mão está doendo. É muita documentação para ser revista. O tribunal está de olho em mim, todos sabem quanto custou", disse o ex-ator em entrevista a reportagem.

O candidato e o partido mantiveram altas expectativas. Durante a campanha, ele teve um de seus vídeos proibidos pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) e, segundo pesquisas de sua equipe, tinha plenas condições de se eleger neste mês.

"Todos pensaram que eu ia ganhar, mas tivemos uma surpresa desagradável na hora da apuração. Perdi como guerreiro, 10 mil votos foi um número legal. Não vou reclamar sobre algo que faltou ou precisava melhorar, nem posso questionar as minhas equipes. Seria ingratidão", opinou.

'SAÚDE DE FERRO'

Se Clóvis "broxou" na hora H nas eleições, ele não nega que ser uma referência da indústria pornográfica no Brasil o atrapalhou na disputa por uma vaga na câmara federal. Segundo o IMDb, o ator participou de pelo menos 30 filmes eróticos entre 2005 e 2020.

"Seria incoerente me passar por santo. Sou um eterno ator pornô, vou morrer assim, é a minha história. Não tem como apagar. O estigma atrapalha. Mas não me arrependo. Quando comecei a carreira de ator pornô fiz tudo com conta própria, assumi todos os riscos".

O sucesso de Kid Bengala também foi internacional. O ator participou de produções na Alemanha entre 2008 e 2010 após perder a sua primeira eleição ?na época, Clóvis buscava uma vaga na câmara dos vereadores de São Paulo.

Ele decidiu "buscar um pouco de alegria" fora do país, mas optou por voltar ao cenário político após dez anos. Em 2018, ele não conseguiu se eleger pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) como deputado federal. Uma nova tentativa de se tornar vereador fracassou em 2020, época em que o candidato obteve pouco mais de 900 votos.

"Eu mudei a minha cabeça, tenho outros caminhos pela frente [fora do pornô]. O Kid Bengala não é um apelido, mas sim uma marca, a empresa que me sustenta. Eu não ganho mais dinheiro transando ou com as minhas ereções".

Ele relata que costuma receber pedidos para retornar aos filmes eróticos, mas tem outros objetivos para os próximos anos.

"Sei que vou 'arregaçar' se eu voltar para o pornô, porque tenho uma saúde de ferro. Os melhores médicos cuidam da minha ereção. Ela é do cacete", diz.

"Na forma em que estou, dá para seguir até os 100 anos. O bicho está maneiro por aqui. O meu problema é desacelerar, perder a ereção. Tenho que me aplicar para o bicho arriar", completou o ex-ator.

'UMA INJUSTIÇA'

Uma decisão do TRE-SP derrubou o vídeo de campanha de Kid Bengala no dia 15 de setembro. A declaração foi inspirada em vídeo gravado por José Serra veiculada durante a disputa pela presidência da república em 2010.

"Como Lucas, como seu João, como José, como Ricardo, também como Flávia, como a Maria, como a Joice. Enfim, como todos os brasileiros e brasileiras, estou de saco cheio de tanta 'sacanagem' na política. Por isso, como você, eu resolvi inovar para meter o pau nessa bagunça. Pode apostar que eu vou entrar com tudo", diz o texto citado na gravação.

"Foi uma injustiça, não um erro de estratégia. [...] Meus trocadilhos foram feitos com respeito. Caso não fosse assim, o TRE-SP tinha me tirado da eleição. Eles têm poder para isso", opinou.

Segundo a decisão da juíza Maria Cláudia Bedotti, o vídeo utilizado por Kid Bengala é "ofensivo à moral e aos bons costumes" e "extrapola limites da liberdade de expressão".

O ex-ator pornô admite que não se vê como um político, mas foi convencido a retornar para uma quarta campanha eleitoral após ser informado sobre possíveis investimentos.

"Eles me trouxeram pelo dinheiro. Foi pela verba eleitoral. Ofereceram R$ 500 mil reais e a agência especializada para trabalhar a minha campanha. A estrutura diferenciada me atraiu", contou.

BASTIDORES DA DERROTA

O clima era de "já ganhou" entre outros políticos e membros da equipe de Kid Bengala no momento da apuração. O nervosismo aumentou após o início da contagem de votos.

"Eu fiquei alterado. Pedi para ir ao banheiro fazer xixi. Peguei minha mulher, pois já tinha uma festa preparada para quando acabasse a votação. Já tinha mais de 500 pessoas, todo mundo queria tirar foto comigo".

Kid Bengala deixou o local acompanhado de sua mulher, mas decidiu voltar ao local para acompanhar a apuração até o final. "Passei em uma farmácia para tomar um calmante, estava muito ansioso", brincou.

"Fizemos muitas pesquisas internas. Depois que o vídeo bombou, tudo indicava que eu ia estourar nos votos. Mas a pesquisa falhou", concluiu.


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