SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A festa da vitória de Lula (PT) na avenida Paulista teve nomes de peso como Daniela Mercury e Maria Rita, mas ninguém levantou tanto o público quanto a até recentemente desconhecida banda Maderada Brasil, de Iguaí (BA). Foi só "Tá na Hora do Jair Já Ir Embora" ter os primeiros versos entoados que o público começou a pular e a cantar a plenos pulmões.

O jingle caiu na boca dos eleitores do petista, que não veem a hora de Jair Bolsonaro (PL) "arrumar as suas malas, dar no pé e ir embora". Tanto que, nesta segunda-feira (31), a canção amanheceu no topo do ranking Viral 50 do Spotify Brasil.

"Eu estava mais focado na campanha do Lula, não estava acompanhando a evolução que a música estava tendo", afirma Juliano Maderada, 48, um dos autores do hit, ao lado de Tiago Doidão. Apesar da fama repentina, ele conta que até agora, a conta bancária não mudou muito. "As distribuidoras costumam repassar o pagamento a cada 3 meses ou semestralmente", explica. A boa notícia é que a banda começou a ser mais procurada para shows --foram 8 nos últimos 2 meses.

O cantor, compositor e empresário conta que fez cerca de 100 jingles políticos para as eleições deste ano, para candidatos de diversos cargos e estados --de Roraima ao Rio Grande do Sul. Apesar de não se recusar a trabalhar para quem tem outras preferências políticas, ele diz acreditar que o sucesso da música sobre o presidente se deu justamente por ter sido feita com emoção.

"Se você me pedir uma música, vou fazer uma música nos termos que você me pediu para falar", explica. "Mas o Lula nunca me pediu nada, era o que eu sentia. O coração falava por mim. O Lula eu admiro a vida toda, sou filiado ao PT e já admirava ele por todas as questões que ele passou na vida."

O que pouca gente sabe, no entanto, é que essa é uma versão mais suave da letra. A primeira foi recusada pela distribuidora ONErpm, que faz a ponte entre artistas e plataformas como o Spotify, por causa do teor político. Consultada, a empresa não se manifestou até a última atualização deste texto.

"Antes, a letra falava 'o Jair não vale nada, tem apoio de Cunha, isso é laranjada', era toda de política, mas eu tirei essa parte e ficou parecendo ser sobre um relacionamento", comenta Maderada. "Ficou 'ele te fez sofrer, ele te fez chorar, eu bem que te avisei, bota ele pra vazar'. Assim, o Jair poderia ser o padeiro da esquina, já que era só a história de um Jair que não gostava da mulher."

Natural de Araguapaz (GO), Maderada conta que começou a trabalhar cedo. "Era na roça, com coisas pesadas, tirei leite, plantava tomate", enumera. Concluiu o ensino médio, mas não o curso de agronomia, para o qual passou com 17 anos. Com 20 anos, dava aulas de matemática, mas aos 23 largou tudo para viver da música.

Apesar de saber tocar desde cedo, ele não costumava ficar à frente da banda no palco. Ele sempre contratava vocalistas para apresentações ou para gravar os jingles, caso de Doidão. "Ele já é mais conhecido, fez músicas para Léo Santana, Zé Felipe, Wesley Safadão e Xand Avião", diz. "Já eu tiro leite de pedra. Faço qualquer coisa, tenho uma empresa pequena de eventos, organizo festas, vendo show e monetizo o canal do YouTube."

Foi na pandemia, quando viu sua renda minguar, que resolveu cantar para não deixar de produzir novos vídeos. O tema escolhido foi a saudade que ele estava do governo Lula. "No dia que Lula foi tornado elegível, eu postei a primeira música", lembra. "O canal tinha 4.000 inscritos e a música teve 7.500 visualizações em 24 horas. Normalmente dava 100 visualizações. Então eu entendi que poderia fazer um trabalho com músicas pró-Lula."

Logo depois, ele começou a tentar contato com a campanha de Lula. "Chamei o pessoal aqui de São Paulo, mas não tive retorno", conta. Foi o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) quem primeiro lhe deu atenção, passando o contato de Maderada para o fotógrafo Ricardo Stuckert, que acompanha Lula.

Os dois se falaram duas vezes no telefone. Na terceira, Stuckert colocou o então candidato do outro lado da linha. "Ele disse que já tinha escutado algumas músicas minhas, que não merecia tanto e que a Janja [mulher de Lula] tinha as músicas em um pendrive", relata.

A partir daí surgiu um convite para eles se encontrarem em Salvador, quando Maderada cantou para Lula em um espaço reservado em um hotel. Depois disso, o artista passou a ser visto em alguns eventos públicos de campanha, como o encontro com artistas realizado em setembro.

No dia da vitória, não estava programado que ele participasse da festa. Na verdade, ele só decidiu vir para São Paulo depois de falar com Lula ao telefone. "Eu estava na minha cidade, morrendo de medo e ansiedade, mas ele disse para eu ficar tranquilo, que ia dar certo", conta.

De última hora, acabou pegando um voo para conferir o final da apuração na Paulista. "O Tiago não queria nem vir", revela. Quando subiram ao trio, foram convidados por Daniela Mercury a dar uma palinha. "Foi muita felicidade", conta. "Para mim, foi uma realização como pessoa, profissional e brasileiro."

"Venho fazendo essas músicas há quase dois anos no canal, a música do Jair só veio para coroar", avalia. "Eu só queria realmente participar e ajudar o Lula de alguma forma. Mas aquele abraço que as pessoas estavam se dando na Paulista era o retrato do que o Brasil estava precisando. Parecia que as pessoas estavam se libertando de uma prisão."


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