Quatro coletivos de artistas são responsáveis pela composição de obras que estão colorindo as ruas de Juiz de Fora com projetos de artes visuais, especialmente graffiti, street art, muralismo. A ideia do projeto, que foi proposto pela Prefeitura de Juiz de Fora, por meio do edital Caminhos das Artes Urbanas, é inserir imagens positivas nos abrigos de pontos de ônibus da cidade.
Os trabalhos selecionados foram executados nos painéis de 2,7 metros de 52 abrigos espalhados pelas regiões do município, 13 para cada um dos quatro coletivos, tornando a espera pelos coletivos menos monótona, com a possibilidade de contemplação e reflexão proposta pelos participantes.
A iniciativa teve valor global de R$ 40 mil financiados por meio de emenda parlamentar. Cada grupo selecionado recebeu R$10 mil para desenvolver a proposta. A artista Nathália Medina, que assina como Medina, é integrante do Graffiteiras da Mata e conta que o processo das quatro amigas, que se reuniram para o trabalho, se inspiraram na flora nativa da Mata Atlântica, para falar do reflorescer no pós-pandemia. “Exploramos a flora nativa e tentamos trabalhar com as plantas da região que têm propriedades medicinais”.
Para a artista, ações como essa estimulam as artes urbanas na cidade. “Quando era mais nova,estudei na região do Santos Anjos, perto do Terreirão do Samba, tinha uma quantidade enorme de graffitis sempre renovando. Isso sempre me chamou muita atenção. A pintura nas ruas é sempre de extrema importância, ela atrai as pessoas para querer estar nesse espaço.A rua é de todo mundo, de todas as pessoas e precisamos criar um sentimento de apropriação e a arte é um dos meios mais benéficos de se fazer isso.”
Nathália avalia a experiência e o contato com a população no processo de maneira positiva. “Juiz de Fora é uma cidade que sabe acolher o artista de rua. Um dia você sai e vê uma pintura nova, vê que a cidade está viva. Os artistas têm vontade de fazer e, às vezes, o que falta, é uma oportunidade, porque, infelizmente, material de pintura, material artístico é muito caro, então é importante a Prefeitura fazer iniciativas assim. Faz crescer o artista individualmente e a cidade culturalmente”.
Mariana Macedo, que faz parte do coletivo Caminho Estúdio Criativo, explica que o processo de criação partiu de uma frase do líder indígena e ambientalista Ailton Krenak.” Uma fala dele em uma live me chamou muito a atenção: ‘pise suavemente na terra’. Foi uma frase que me marcou muito.Ela que guiou esse processo de composição das imagens. A gente precisava mandar para a Prefeitura 20 composições. Fiz todas elas numa noite e escolhi como guia essa frase.”
Essa reflexão fez com que as artes realizadas por Mariana tenham os pés caminhando como fio condutor de toda a construção imagética, junto com as folhas. “Essa reflexão sobre como estamos construindo esse caminho, como a gente tem se relacionado com o outro, com os seres humanos, com os seres não humanos também. Acho que está muito relacionado com o que a Prefeitura propôs”.
“As pessoas passam e perguntam, por que tem pezinhos? Sempre é muito gostoso poder compartilhar com elas. É uma coisa instigante, que foge também do comum, porque ela está pintando pezinhos caminhando? botânica também? trazemos folhas nas composições, atrelado a esse florescer, esse olhar para o ambiente e a necessidade também dos não-humanos”, analisa.
Para o Caminho Estúdio Criativo, é uma experiência muito potente estar, pela primeira vez, compondo na paisagem urbana, em um espaço que é acessível para toda a população. “O Estúdio é muito recente, a gente começou a pintar e a fazer os murais na pandemia e tem sido muito prazeroso todo esse processo. Mas ele sempre aconteceu, até sair o edital, em espaços privados. A gente ainda não tinha tido a oportunidade de expor o nosso trabalho na cidade.”
Outro ponto que Mariana destaca é o contato com o público, como parte relevante do processo. “As pessoas passam, os moradores , as comunidades, enquanto estamos trabalhando, prioritariamente, prioritariamente no Vila Ideal. É um cuidado diferente do cuidado que a gente tem em ambientes privados. O moço do posto de gasolina ofereceu água, outro ofereceu banheiro, o outro ofereceu um cafezinho. Esse contato é sempre muito especial e muito surpreendente.”
Outro aspecto, ressaltado por Mariana, foi a vivência de trabalhar na rua. “Somos duas mulheres, estávamos muito atentas às várias violências que o corpo feminino sofre, simplesmente por existir. Trabalhar na rua não é fácil, no qual gastamos mais energia por conta da preocupação em estarmos expostas. As trocas são tão gostosas, tão prazerosas, que abafam os pontos negativos.”
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