FOLHAPRESS - Primeiro, "My Policeman" chama atenção por dois nomes do elenco, Rupert Everett e Harry Styles. Ambos ícones da insubmissão à heteronormatividade, mas surgidos em períodos diferentes e com destinos quase opostos.

Everett era uma das promessas do cinema nos anos 1990 ?e um dos poucos astros assumidamente gays de então. Isso não chegou a arruinar sua carreira, mas a saída de armário a limitou. Ficou em geral preso a papéis secundários e estereotipados.

Já Styles é produto de um período de sensibilidade distinta. Tudo indica que é hétero, mas gosta de plantar a semente da dúvida com comportamentos que o fazem parecer ser uma pessoa mais fluida. No caso dele, astro pop, pode até pegar bem brincar com a imaginação dos fãs.

Ou ao menos parecia poder, já que sua presença em "My Policeman", em que vive um homossexual com medo de se assumir, provocou acusações de queerbaiting ?a tentativa de lucrar a partir de pautas LGBTQIA+ sem ser militante. Uma tolice se pensarmos na contribuição de Styles para a liberdade de gênero.

O filme narra a história do policial Tom, vivido por Styles, um rapaz conservador que se entrega a um romance com Patrick, o funcionário de um museu que sonha se tornar artista. A trama se passa na Inglaterra de fins dos anos 1950, quando ser gay ainda era um crime.

Tom se sente tão mal com sua vida que decide se casar e ter filhos com Marion, que forma com ele e Patrick um trio de amigos inseparáveis. Mas, mesmo após o casamento, os rapazes continuam fazendo sexo às escondidas, o que deixa Marion desconfiada. Décadas após o fim da amizade, os três se reencontram quando Patrick fica doente e Marion decide cuidar dele.

São inúmeros os filmes LGBTQIA+ em que um gay faz um casamento de fachada. A mulher traída poucas vezes recebeu a devida atenção. Nesse sentido, este filme se descola dos demais, e destaca Marion, em trechos mais consistentes do que os que enfocam o casal gay -que ao menos tem o derrière nu de Styles em uma cena.

Mas o diretor Michael Grandage parece ter medo de bancar esse subtexto mais feminista, como se isso pudesse significar uma demonização do romance gay. E como o drama do casal que não pode se amar já não tinha fôlego, o filme chega quase desmaiado ao final sem imaginação.

É estranho que Grandage seja um nome de tão grande prestígio no teatro, porque aqui as atuações são em geral anêmicas e sem equilíbrio. E há uma desconexão entre os atores que dão vida ao trio na juventude e os que os vivem na terceira idade.

Em "Não se Preocupe, Querida", Styles aparecia pouco e em geral não mostrava ter exatamente nascido para atuar. Em "My Policeman" ele está mais eficiente, até seguro, mas o mundo da música ainda parece ser sua especialidade.

Como a Marion dos anos 1950, Emma Corrin lembra muito Jodie Foster aos 20 e poucos anos, só que em versão mais suave; é talvez o único trunfo real do filme.

Já no papel do Patrick jovem, David Dawson é pura testa --é mais calvo e vários centímetros mais baixo que em sua versão da terceira idade, quando é vivido por Everett. Que, aliás, mostra não ter superado a sina de papéis secundários ruins (e gays). Mais uma vez é vítima da maldição que há décadas engessa sua carreira.

MY POLICEMAN

Avaliação Regular

Quando Estreia nesta sexta-feira (4) no Amazon Prime Video

Classificação 16 anos

Elenco Harry Styles, Gina McKee e Rupert Everett

Produção Reino Unido, EUA, 2022

Direção Michael Grandage


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