SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi o produtor Guilherme Araújo, peça central da Tropicália, quem convenceu Maria da Graça Costa Penna Burgos a adotar o nome artístico de Gal Costa. Para a tristeza de Caetano Veloso.

Caetano chamou Araújo, em seu livro "Verdade Tropical", de "um coidealizador do movimento [tropicalista]". Mas não gostou nem um pouco do apelido inventado para sua amiga pelo produtor que trabalharia também com ele, Maria Bethânia e Gilberto Gil.

Antes dele, Maria da Graça era só Gracinha ou Gau -escrevia-se assim- para os íntimos. Araújo achava que seu nome de batismo parecia o de uma cantora de fado. Nada a ver com a carreira que vislumbrava para ela.

Gau era legal, mas ele achava Gal, com o "l", uma grafia mais feminina. Caetano, contudo, se incomodou com a alcunha porque ela servia de abreviação para general. Pior -soava quase igual a Gal. Costa e Silva, o general que presidia o Brasil na época, uma das fases mais chumbadas do regime militar.

A história, contada no site Memórias da Ditadura, é relembrada à Folha de S.Paulo por Paula Lavigne, mulher do artista. "Caetano achava que devia ser Gau. Todo mundo já chamava ela assim. Mas Guilherme argumentou que Gal era mais glamuroso, e ficou Gal."

No fim, o baiano acabou se afeiçoando a Gal. "Ele não passou a vida reclamando, acho que acostumou", diz Lavigne.

Em 2007, o jornal O Estado de S. Paulo recuperou uma entrevista com Araújo, que morreu naquele ano. Ele conta de outra pessoa que se aborreceu com o nome criado para uma das maiores vozes da música brasileira. "Gal chegou no Rio como Maria da Graça, apelido Gracinha. Passei uma noite rabiscando no papel um nome mais sonoro, que tivesse a ver com a verdade. Gao, Gau, cheguei a Gal Costa. A mãe dela, dona Mariah, escreveu-me uma carta furiosa."

Na mesma entrevista, ele rememorou uma briga que teve com Gal. Segundo Araújo, depois de quase 20 anos de trabalho, a cantora resolveu fazer uma parceria com uma marca de cigarros sem o consultar. "Dizia que não achava meus direitos fonográficos justos e me trocou por um contrato, em 1982, de 1 bilhão de cruzeiros."

O produtor também puxou para si o crédito de fazer de Gal uma estrela. "Até mudando o visual de adolescente tardia, umbigo de fora, cabelos revoltos. O maior sucesso da sua carreira, 'Festa do Interior', de Abel Silva e Moraes Moreira, foi insistência minha."


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