SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um documento de provocação. É assim que o fotógrafo Jairo Goldflus define "Singular", livro em que retrata 130 mulheres, entre famosas e anônimas, com um diferencial: a ausência completa de maquiagem, filtros ou qualquer tipo de retorque. A obra acaba de ser lançada.

Nem mesmo o uso do corretivo era permitido, embora algumas delas tenham tentado "dar esse truque", segundo conta ele. "A minha ideia é mostrar a vida, a vida de verdade", afirma.

A apresentadora Fernanda Lima e as atrizes Maria Fernanda Cândido, Luciana Vendramini, Carol Castro e Gabriela Duarte (ex-mulher de Jairo) fazem parte da publicação. Afastada da mídia desde 2010, Ana Paula Arósio também é retratada no ensaio. Jairo fotografou ainda Manuela, sua filha de 16 anos, do relacionamento com Gabriela Duarte.

O projeto, aliás, começou a partir do olhar do fotógrafo sobre a jovem e sobre a geração dela. "As meninas não saem nem do banheiro sem usar maquiagem", diz. Por outro lado, ele afirma que tem notado que as mulheres mais velhas estão fazendo muitas intervenções estéticas no rosto, numa tentativa de se manterem jovens eternamente. No meio disso tudo, há ainda o uso excessivo dos filtros em aplicativos como o Instagram, que distorcem a imagem real das pessoas.

Ao falar sobre a sua proposta, Jairo afirma que inicialmente todas as mulheres ficaram um tanto "ressabiadas". De fato, na visão dele, posar para uma foto sem roupa tende a ser mais fácil do que se desnudar em frente às câmeras no sentido de não ter qualquer controle sobre a imagem que resultaria da experiência.

O trabalho de Jairo era criar uma relação de confiança com a fotografada para que ela pudesse se soltar. Por isso, ele conta que a maior parte do tempo do ensaio fotográfico era dedicado a conversar com elas. A pergunta inicial era: você usa muita maquiagem?

Depois, os assuntos variavam. "Falávamos de tudo que você pode imaginar: Pandemia, política, economia, briga em família, relacionamentos, separação." O bate-papo podia seguir por horas ?um deles se estendeu por cinco horas. Já o tempo da foto em si era rápido: em torno de três minutos e dez cliques.

Jairo mostrava o resultado para elas na hora e garante que nenhuma ficou infeliz. "A partir do momento em que a pessoa se vê de verdade, ela se encanta", afirma. "O que acontece é que todo mundo se acostumou que beleza é a da selfie", completa.

Todas as mulheres foram clicadas sob o mesmo ângulo e com a mesma luz.

É uma volta ao básico, acrescenta Jairo, em que o objetivo é capturar o sentimento da pessoa retratada no exato momento do clique. "Fotografar pode ser lúdico", pontua. Desta forma, algumas das mulheres aparecem plácidas, outras alegres e algumas angustiadas. "A diversão para quem vê as imagens é tentar adivinhar o que elas estavam pensando naquele momento da foto."

Jairo explica que as imagens não deixam de mostrar as imperfeições. Em todas, por exemplo, é possível ver os poros da pele. "A ideia é plantar uma sementinha. Quando uma mulher anônima ver a imagem da artista de cara lavada e que ela segue bela, que possa surgir essa reflexão de que dá para ser bonita sem todos esses artifícios [maquiagem, filtros, intervenções estéticas]", pontua.


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