PARATY, RJ (FOLHAPRESS) - "Queremos ouvir e ver Alice e Midria mais um pouquinho", dizia o bilhete que chegou da plateia e foi lido pela mediadora, Anabela Mota Ribeiro, na noite deste sábado (26) na Flip. E isso foi numa mesa em que o terceiro convidado era Lázaro Ramos.
O momento encapsulou o clima de um encontro dominada pelas duas jovens poetas --Midria é brasileira e Alice Neto de Sousa, portuguesa com raízes angolanas, como faz questão de ressaltar. As duas artistas da palavra falada encantaram o público com suas apresentações, e Ramos não pareceu se incomodar nem um pouco de ficar meio de canto.
"Fico absolutamente emocionado de estar aqui vendo vocês trazerem luz para o mundo", disse ele. "Venho de uma geração em que me sentia muito sozinho às vezes, ver a poética de vocês foi mais uma maneira de me curar."
Por duas vezes cada uma, Midria e Neto de Sousa se levantaram no palco para fazer performances repletas de beleza e força retórica.
A primeira vem das batalhas de slam em São Paulo e, em sua poética, sobraram críticas ao presidente Jair Bolsonaro e aos "500 anos de inferno astral" do Brasil, numa verve mordaz e divertida que misturava comentário político e piada com ioga, tarô e constelação familiar.
A segunda cativou a plateia por uma veia mais terna, com um poema disparado pela comparação de um "lápis cor de pele" com a sua própria cor --Midria também refletiu sobre a sua relação com a negritude na performance "A Menina que Nasceu Sem Cor".
Lázaro parecia tão interessado em ouvir as jovens de 23 e 29 anos quanto em apresentar seu recém-lançado "Você Não É Invisível", sua primeira obra voltada ao público juvenil onde escreveu coisas "que queria que tivessem me falado quando tinha essa idade". "Por exemplo, você é belo, você deve sonhar, você é importante para esse país."
Ao se preparar para ler um trecho do livro, ele brincou, dizendo "vocês vão ver agora como a geração é outra". E pôs um óculos no rosto.
"Tenho pensado muito em como criar pontes para um futuro mais saudável", disse o escritor, também conhecido como ator e diretor. "Vivemos um tempo de tanta violência aplaudida, violência votada. É a utopia que nos salvará, e ela virá da indignação imediata, mas também do amor e do afeto extremo."
Foi uma fala que ecoou outros comentários feitos pelas poetas. "A história que vivemos coletivamente é em maior parte da dor", disse Midria, após ser lembrada de uma vez em que disse que buscava escrever menos a palavra "eu" e mais "nós".
"O desafio é a gente se deixar afetar em um lugar positivo e propositivo, ressignificando as dores e não nos limitando a elas."
Neto de Sousa lembrou a máxima "odeio escrever, mas adoro ter escrito". "Meus poemas trazem sempre algo que salga, mas são o lugar em que consigo transformar a dor."
A Flip segue até a tarde deste domingo em Paraty, com mesas que trazem Cida Pedrosa, Teresa Cárdenas e Cidinha da Silva
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