SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alexandre Herchcovitch ofereceu um caleidoscópio visual no primeiro desfile em quase sete anos pela marca que leva seu nome, nesta quinta-feira, ao levar para uma passarela iluminada por luz branca de escritório um misto de mais de 30 looks monocromáticos e coloridos fáceis de vestir.

O inverno 2023 da Herchcovitch; Alexandre não tinha um tema específico, como o estilista afirmou a este jornal. A apresentação para convidados e amigos em São Paulo foi um momento de rever --e desejar-- sua moda urbana, que torna o street wear elegante e a alfaiataria menos formal.

Uma referência à história de 30 anos da grife apareceu na passarela já no primeiro look, com a tradicional caveira do estilista estampada em preto nas costas de um vestido longo branco. O rosto mórbido também adorna meias semitransparentes, vem pichado numa camiseta estonada multicolorida, esculpido nas línguas de tênis cinzas e costurado na frente de pulôveres alaranjados gigantescos.

A mesma temática aparece em vestidos e camisas de tecido claro, estampadas com ossos humanos ora sutis ora maiores, num terno salmão com detalhes esqueléticos e em uma mão de caveira dourada aplicada em bolsas pequenas --o próprio estilista tem os ossos de uma caveira tatuados em uma das mãos.

Como esperado, o aguardado retorno de Herchcovitch, um dos mais importantes criadores de moda no Brasil em atividade, teve um clima nostálgico de alegria, tanto pela primeira fila do desfile, com a presença de personalidades da moda e da noite que acompanham seu trabalho há décadas, quanto pela passarela.

Modelos que desfilavam para o criador no começo de sua marca, nos anos 1990, quando ele recém tinha se formado em moda pela faculdade Santa Marcelina, e depois no seu auge, entre 2000 e 2010, época em que tinha lojas em várias cidades do Brasil e no Japão, se apresentaram desta vez.

Ao som do trip hop noventista do Massive Attack, Marina Dias entrou de top creme sem manga de efeito molhado, calça off-white e um relógio dourado avantajado; Johnny Luxo vestia um conjunto xadrez de estética emo e carregava o acessório mais absurdo da coleção --uma bolsa rosa em formato de cabeça de caveira. Geanine Marques apareceu toda de preto, com calça de látex e mocassim de solado amarelo, traduzindo o ar de metrópole do criador.

A paleta incluía também o vermelho-sangue, em peças com ombreiras bufantes, decotes compridos e bolsos enormes --eles, aliás, estão em vários dos looks mostrados, sendo alguns postos em diagonais, como um quebra-cabeça estético. Conjuntos em laranja neon, calças cor-de-rosa com manchas marrons e sapatos verdes vão fazer a cabeça dos mais carnavalescos.

Mas nem tudo explode cores ou faz virar cabeças. Foram desfiladas peças sóbrias de alfaiataria em modelagem ampla, como blazers e calças lisas em branco, azul-marinho e cinza, além de sapatos pretos sem logotipos ou firulas.

Ao redor da passarela, montada num galpão industrial no bairro paulistano do Bom Retiro, peças de todas as coleções passadas da grife estavam penduradas em lâmpadas fluorescentes, divididas por ano, como se uma cápsula com a história da marca englobasse o que se viu agora. Nos anos em que Herchcovitch não desfilou, os suportes foram deixados vazios.

O retorno do estilista celebra sua volta à direção criativa da marca que criou, da qual esteve afastado por seis anos, após a sua venda para o grupo InBrands, conglomerado poderoso que também tem sob seu guarda-chuvas Ellus, Richards, Bobstore, VR e Salinas. A empresa continua dona da Herchcovitch;Alexandre e pretende, além do vestuário, fazer licenciamentos do nome para outros produtos.

Segundo Herchcovitch, todas as roupas da nova coleção têm tecidos que estavam intocados nos porões da InBrands desde sua saída, o que ele celebra, num aceno à moda sustentável --bandeira que vem erguendo nos últimos anos com suas marcas de roupa ao lado do diretor crativo Fábio Souza, a À La Garçonne, de preço mais elevado, e a ÀLG, bem mais acessível.

A nova coleção da Herchocovitch; Alexandre será comercializada numa loja pop-up no shopping Iguatemi de São Paulo, num site próprio e no ecommerce de moda de luxo Farfetch. O grande foco será no mercado virtual. As vendas começam em janeiro.


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