SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O papel de Amanda em "Onde Está Meu Coração" levou Letícia Colin, 33, a se aprofundar nos diferentes tipos de dependência, seja em drogas, sexo ou comida. A atriz, que foi indicada ao Emmy Internacional de atriz pela personagem, está feliz de que essas reflexões agora cheguem à TV aberta, já que a trama, que estreou em 2022 no Globoplay, chega à Globo no dia 31 de janeiro.

Para interpretar os diferentes estágios do vício da personagem, Colin visitou clínicas de reabilitação, CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) e a Cracolândia, área no centro de São Paulo que abriga muitos usuários de drogas. A experiência foi muito intensa para ela, que se diz "honrada" de poder contar essa história.

A artista conta que, quando visitou a Cracolândia para gravar a série de 10 episódios, percebeu que o espaço representa muito mais do que aquilo que as pessoas conhecem. "O interesse para que esses lugares sejam sempre vistos como marginalizados contribui para a situação de perigo e violência. Só vamos conseguir transformar quando olharmos com dignidade para essas pessoas", conta em entrevista à Folha de S.Paulo.

No final do ano passado, Colin deu vida ainda à ardilosa Vanessa da novela "Todas As Flores" (cuja segunda temporada chega ao Globoplay em abril e que também está programada para chegar à TV aberta em 2023). Ela diz enxergar semelhanças entre a vilã capacitista, que é capaz de várias maldades contra a irmã cega vivida por Sophie Charlotte, e alguns políticos.

"Acredito que a Vanessa encarna muito bem várias figuras do nosso mundo social, figuras políticas importantes. Ela cruza todos os limites éticos, sociais e morais. Mas acho que temos em comum o fato de rir de si mesma, tem momentos que ela tem a consciência de como ela é patética", diverte-se.

Na atual fase da vida e da carreira, Colin conta que está conectada com outros valores e que, o tempo todo, está reavaliando o que é ou não importante. "Estou escolhendo cuidar mais da minha saúde e abrir mão de coisas que não me acrescentam. A vida é sobre se conectar com esses lugares que deixam a gente mais leve. Todo mundo é um pouco ridículo", comenta aos risos.

Ciente da sorte de ter podido viver duas personagens tão diferentes entre si em tão pouco tempo, a atriz faz uma reflexão sobre a cultura no país nos últimos quatro anos e comenta que o período foi de medo para toda a classe artística. Porém, conseguir "furar a bolha" e internacionalizar as produções nacionais é, para ela, um indicativo de que o país está conseguindo conquistar um espaço maior e se tornar mais relevante na cena mundial.

"Eles já estão olhando para nós, é que às vezes nós esquecemos. Nos últimos tempos tivemos a dignidade de artista ferida. A arte é muito útil, e ter ido para o Emmy me reconectou com isso. Precisamos refletir sobre o que o nosso país está vivendo e repensar a nossa sociedade", avalia.

Questionada se almeja uma carreira internacional, Letícia afirma que adora atuar em português. "Tenho muito orgulho de ser brasileira. Nossa história pode chegar muito longe, não precisamos fazer um filme americano para estar no mundo."


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