SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em resposta ao decreto de falência da Livraria Cultura, a unidade de São Paulo do Teatro Eva Herz convocou uma ocupação, com pouca adesão, nesta terça-feira (14), na loja do Conjunto Nacional, na av. Paulista, em São Paulo.

No começo do evento, às 15h, poucas pessoas estavam no local. Uma delas, um palhaço, leu um poema em homenagem à Cultura e aos livros.

Mais tarde, quando cerca de 50 pessoas se reuniram no local, uma ex-funcionária da Cultura Jéssica Ribeiro Santos, de 32 anos, protestou afirmando que a rede não lhe paga todas as verbas rescisórias há mais de dois anos. Ela leu trechos do próprio contrato rescisório.

As atrizes Leona Cavalli e Clarice Niskier e André Acioli, curador do teatro, falaram ao público reunido citando trechos de obras literárias, como proposto pelo movimento Ocupe a Livraria Cultura.

Jéssica relatou que a livraria não está cumprindo o acordo previsto no contrato --ambas as partes concordaram que a rescisão seria paga em nove parcelas de R$ 600. Ela diz que apenas três foram pagas até hoje.

Procurado pela reportagem, Sérgio Herz, CEO da Livraria Cultura, não respondeu até a conclusão deste texto.

Segundo um funcionário da loja, que preferiu não se identificar, nos bastidores, o clima é de incerteza --nunca se sabe o que vai acontecer quando ele e os colegas iniciam o expediente.

"Ele [Sérgio Herz] faz parecer que [a recuperação] é bem mais fácil, mas há mais de duas semanas a gente já sabe que as coisas não são assim. A notícia da falência não chocou os funcionários", conta.

O funcionário diz que o convênio médico da equipe foi suspenso, enquanto o salário --em torno de R$ 2.200 no valor bruto--, o vale-refeição e o vale-transporte são pagos em parcelas de até dez vezes, com atrasos frequentes. A loja, ele diz, há pelo menos um ano não tem conseguido pagar comissões aos funcionários que batem metas.

O protesto não velava a unidade, mas pedia para que o espaço se mantivesse aberto e operante. Para a atriz Leona Cavalli, o fato de Jéssica ter protestado simboliza por si só a pluralidade de um espaço cultural como o da loja. "A cultura é isso, é ouvir as vozes dissonantes. É legítimo e necessário que ela [Jéssica] seja ouvida. A gente quer que nosso grito ecoe e que o espaço seja mantido. E que os funcionários sejam pagos", fala.

André Acioli, curador do Eva Herz, diz que, do ponto de vista financeiro, o teatro está totalmente ligado à livraria -e, inclusive, estão vinculados ao mesmo número de CNPJ. A receita das bilheterias não cobre por inteiro o custo operacional do teatro. Se a loja fecha, o público do Eva Herz míngua, ele conta.

"Os técnicos de som e luz e o curador artístico, que trabalham só para o teatro, nós conseguimos pagar, mas manutenção e limpeza [que são da loja], que têm um custo muito alto, não conseguimos."

O futuro do Eva Herz é incerto, mas ele reforça que a livraria sempre priorizou o teatro em meio a impasses tais como alugar o espaço para eventos que pudessem vir a atrapalhar a programação das peças.

"Mesmo tendo a oportunidade de alugar o espaço para fazer muitos eventos, sempre priorizou o teatro."


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