SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No carnaval do Recife, Armando Babaioff está em todos os lugares ao mesmo tempo. Na multidão que assiste aos shows do Marco Zero, no camarote do Galo da Madrugada ou em blocos que desfilam no centro histórico. O ator de 41 anos, que nasceu na capital pernambucana, se tornou conhecido de todos.

Babaioff é o folião-mor.

"Cresci vendo o Carnaval de Recife e voltando todo o ano para cá nessa época, essa é a minha história, tenho uma ligação com essa terra de muitos anos", diz ele, durante uma entrevista no camarote do Galo da Madrugada.

Para a conquista da insígnia, foi determinante trazer sua Festa Sopa, em 2020, para a cidade natal. Ele deixou de ser apenas folião, passando também a produzir o Carnaval.

Na edição deste ano, que ocorreu na noite da segunda-feira (20), Luísa Sonza e Gloria Groove subiram ao palco montado no camarote Parador. A Sopa se tornou uma das festas mais famosas do Carnaval da cidade, sendo a um só tempo glamourosa e descolada. Babaioff e seu sócio, o músico e artista plástico Marcello H., comandam as carrapetas.

A poucos metros do Marco Zero, o camarote fica numa posição privilegiada no bairro do Recife, no centro histórico. Durante a noite, curiosos passavam pelo local, admirando o palco imenso ao qual não tinham acesso. Muitos ficaram por ali, aproveitando a boa música.

A Festa Sopa nasceu há onze anos, numa laje na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Babaioff e H., dois amantes da vida noturna, reclamavam muito das músicas que tocavam na noite carioca. Então, decidiram fazer uma festa própria.

"Até hoje tem um espírito de festa de apartamento, com um iPod na mão, porque eu adorava botar som para os meus amigos", ele afirma.

O nome do evento homenageia os versos de "Nem Vem que Não Tem", de Wilson Simonal. "Nem vem de garfo/ Que hoje é dia de sopa". E também faz alusão à mistura de gêneros musicais, principal marca da festa.

Babaioff conta que aprendeu sozinho a ser DJ, vendo os outros tocarem e experimentando ritmos e tecnologias. Em geral, a música brasileira compõe o repertório da festa, onde também é possível ouvir hits de Madonna e até música judaica.

"Não tenho setlist, é um grande improviso, mas há muitas diferenças entre as festas no Rio e no Recife, aqui o funk carioca não tem entrada, por exemplo", diz ele. "A grande brincadeira de ser um mestre de cerimônias é fazer as pessoas pularem ou se beijarem, é uma peça de teatro."

Filho de uma costureira e de um advogado, Babaioff nasceu numa família de judeus do Uzbequistão, que fazia parte da União Soviética. Ainda na infância, se mudou para o Rio de Janeiro, onde aos 11 anos começou a estudar teatro.

Em 2004, protagonizou com Vera Fischer a peça "A Primeira Noite de Um Homem", com direção de Miguel Falabella. Na TV, é figura conhecida de novelas, como "Páginas da Vida", de 2006, até "A Lei do Amor", de 2016.

Agora, Babaioff viaja pelo mundo com "Tom na Fazenda", peça dirigida por Rodrigo Portella, inspirada no texto do canadense Michel Marc Bouchard --o mesmo que serviu de esteio para o filme homônimo de Xavier Dolan, em 2013.

Na história, após a morte do namorado, Tom vai à fazenda da família para o funeral. Ao chegar lá, ele descobre que a sogra nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia que o filho era gay.

No ano passado, a peça integrou o Festival de Avignon, na França, um dos mais importantes do mundo, e agora ficará um mês em cartaz em Paris, no Théâtre Paris-Villette. Em maio, "Tom na Fazenda" volta a São Paulo.

"Com humildade, digo que o que fazemos com essa peça é histórica, é teatro brasileiro, encenado em português, emocionando plateias que assistem tudo com legendas", afirma.

Apesar do sucesso de crítica e público, Babaioff nunca conseguiu um patrocínio sequer para a peça, tendo que bancar a montagem do próprio bolso. "Essa peça não me deu dinheiro, mas me deu prestígio, me colocou em outro lugar como artista."

Em 2024, ele vai excursionar com a peça pela Europa. "Eu vou me apresentar no Teatro Nacional da Bélgica, e não ganho um fomento na cidade do Rio de Janeiro."

Por isso, a retomada do Ministério da Cultura, segundo ele, é também um momento de esperança.

"Espero que a ministra Margareth Menezes tenha toda assessoria possível, espero que esse governo olhe para a cultura como indústria, é um patrimônio do povo. Independente de quem esteja no poder, as pessoas no exterior estão curiosas por saber o que estamos produzindo no Brasil."


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