SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na primeira vez em que pisou no Brasil, há sete meses, a cantora espanhola Rosalía cantou numa segunda-feira em uma casa de shows paulistana abarrotada --mas com espaço para apenas 8 mil pessoas.

Ela havia lançado pouco tempo antes seu "Motomami", que consolidou sua fama e a fez conquistar público e crítica em uma tacada só, mas o impacto no público brasileiro ainda parecia nebuloso a ponto de ela ganhar apenas uma data no país.

Neste domingo (26) quando tocou no Lollapalooza antes que a atração principal do dia, Skrillex, subisse no palco vizinho, estendeu o impacto daquela noite de agosto a um público enorme, que preenchia todo o espaço ao redor do palco, mas seu maior feito foi ampliá-lo. Foi um show bem maior, mas ainda aquém de sua altura, e que caberia tranquilamente no palco principal do evento.

Na frente do Chevrolet, as pessoas berraram "Motomami" durante os dez minutos que a performance atrasou, e levantaram os celulares quando as luzes começaram a piscar com barulhos de moto e Rosalía e seus dançarinos entraram no palco com capacetes brilhantes de motoqueiro.

"Estou muito feliz de voltar aqui. Muito muito muito obrigada por me dar a oportunidade de voltar", disse, recebendo novos gritos de "Motomami" de volta.

O público, fiel, cantou cada linha de suas músicas em espanhol e a transformou na headliner por mérito em um encerramento de festival que perdeu, na manhã de hoje, sua atração principal. O rapper Drake, que cancelou seu show por problemas com a equipe, foi inclusive xingado pela plateia antes de o show começar.

Embora sem banda e em palco simples, o trunfo de Rosalía aparece em seus vocais consistentes, que variam com facilidade entre as músicas mais doces -como no emocionante cover de "Héroe", de Enrique Iglesias- e mais agudas, na destreza de seu trabalho de câmera e telões e na performance ao lado de seus dançarinos, capazes de ir do mais clássico do balé às dancinhas de TikTok e à montagem de uma moto humana.

Esta união -balé e câmera, muitas vezes trabalhados juntos, com imagens aéreas enquanto os dançarinos se espalham em suas coreografias- talvez seja o que mais revela o potencial criativo da cantora, e como ele extrapola os limites de sua música ao mesmo tempo em que a deixa ainda maior ao vivo.

A maior parte da gravação é feita por apenas uma pessoa, com cortes para imagens gravadas com celulares pelos próprios dançarinos e de outros aparelhos instalados na beirada do palco.

É como se o telão transformasse o show também em um clipe, que muda inclusive a experiência de quem vê em casa- a transmissão no Multishow foi feita usando as imagens cedidas pela artista.

A cantora também dialoga com a geração Z e seus vídeos verticais, transmite as telas de celular no modo de gravação de vídeos e mostra bailarinos se gravando no modo selfie, mas também acena aos millenials, como quando toca "Hentai" no piano em frente ao clássico plano de fundo de montanhas verdes do Windows.

Uma das indicações ao Grammy de Rosalía, aliás, diz respeito à sua performance de "Motomami" para o TikTok.

Majoritariamente pautado nas canções de "Motomami" --foram cantadas onzeG das 16 faixas do disco--, Rosalía também guardou espaço para colaborações, como "La Noche de Anoche" e "Con Altura", feitas, respectivamente, com Bad Bunny e J Balvin, outros astros da música cantada em espanhol atualmente. "Blinding Lights", na qual ela empresta os vocais para o hit de The Weeknd, também apareceu no setlist.

De "El Mal Querer", lançado em 2018 e em um momento em que a espanhola começou a brilhar por suas experimentações bem sucedidas com o pop e o flamenco, Rosalía cantou "Pienso En Tu Mirá", "Malamente", seu primeiro grande hit, e um trecho de "De Aquí No Sales" -que tem barulhos de motos freando e acelerando e acaba antecipando a era motoqueira de Rosalía. Ao vivo, ela é emendada em "Bulerías", do álbum seguinte.

Uma das artistas mais carismáticas a pisar no palco do Lollapalooza neste ano, a espanhola chamou o público de gostoso, fez piada dos seus apliques de cabelo que ficaram agarrados no ventilador, falou palavrão, brincou com a câmera e elogiou o funk, a bossa nova e Tom Jobim.

Foi um show grandioso e versátil como Rosalía, regado a um pop fino misturado a flamenco e reggaeton e encerrado com a apropriada "CUUUUuuuuuute", feita sobre o sample de um CD pirata de sambas-enredo paulistanos de 2017. Terminou com ela jogada no palco suando, exausta, e sorrindo.


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