RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A série feita a partir do filme "Cidade de Deus" vai ser filmada em São Paulo, disse Fernando Meirelles, que foi diretor do longa-metragem original e é um dos produtores do programa, em uma entrevista coletiva nesta sexta-feira, 14, na Rio2C.

"A produção está andando muito rápido, vamos começar a filmar em agosto. Estamos fazendo teste de elenco, vamos rodar grande parte em São Paulo", disse. Ele acrescenta que apenas algumas imagens de favelas cariocas serão filmadas na capital fluminense.

"É uma questão econômica, é mais fácil fazer em São Paulo."

Não é incomum que filmes e séries sejam filmados em locais diferentes de onde as histórias se passam. O cineasta também falou que considera mais difícil filmar em favelas do Rio do que em favelas paulistanas.

"Aqui é um pouco menos organizado, os acordos...", falou, sem entrar em detalhes.

Na entrevista coletiva, Meirelles foi questionado sobre como seria fazer o filme "Cidade de Deus" hoje, sendo um cineasta branco.

"Não conseguiria com a equipe que eu fiz, tudo coxinha branco de São Paulo... Eu ia ser massacrado", afirmou. "Eu entendo a motivação desse patrulhamento, mas é um pouquinho exagerado, passa a medida. Mas respeito."

Meirelles disse que a produção tem tido o cuidado de ter moradores da Cidade de Deus sala de roteiro que sejam negros. "Estamos tentando ter pelo menos metade da equipe que conhece aquele universo para ter o famoso lugar de fala."

"Ainda não existem muitos roteiristas disponíveis que conseguem estruturar um roteiro, uma série, que são muitos episódios. Nesse momento, são sentimentos que precisamos formar, porque não tem gente. Tem ótimos diretores negros, mas são pouquíssimos", afirmou.

"Estamos jogando na mão para ver quem dá conta, porque não é o fato de o cara ser negro que vai ser excelente, nem o cara ser branco, o cara precisa ser bom também."

A série, que tinha recebido no ano passado o sinal verde da HBO para o desenvolvimento de um roteiro, virá mais de 20 anos depois do filme. O programa para o streaming, Meirelles explicou, vai trazer personagens que sobreviveram no fim do longa original, agora no fim dos anos 1990.

"O filme era sobre a criminalidade. Agora, na série, a virada é a comunidade reagindo, como as comunidades passaram a ter voz, produzindo pessoas como Marielle. É o momento em que a milícia está entrando e os movimentos negros estão se fortalecendo."

A série pode ter três temporadas. Na segunda, a ideia é saltar dez anos no tempo, e, na terceira, fazer algo contemporâneo.


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