ARACAJU, SE (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Mauro Cid contará detalhes da relação de Jair Bolsonaro e seu entorno com veículos de imprensa alinhados ao governo do ex-presidente em sua delação premiada. O acordo foi homologado no fim de semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Cid também falará sobre a proximidade do antigo governante com a Jovem Pan, canal de notícias que tinha em seu elenco apoiadores públicos de Bolsonaro.

O militar vai dizer como ajudava Jair Bolsonaro a marcar entrevistas com a Jovem Pan, e também dará detalhes de seu contato direto com comentaristas e repórteres da emissora para alinhamento de discurso, como se fosse um assessor de imprensa do então presidente.

Com a Jovem Pan, Bolsonaro cedeu diversas entrevistas, especialmente dentro do programa Pânico, exibido entre 12h e 14h e comandado por Emílio Surita.

Durante a campanha eleitoral, em agosto do ano passado, Bolsonaro foi pessoalmente à sede da empresa, na avenida Paulista, em São Paulo, e ficou por duas horas e meia conversando com o elenco do humorístico. Em setembro de 2022, ele foi ao Morning Show, matinal da mesma emissora.

Como já informou a Folha, nos quatro anos de Bolsonaro no poder (2019-2022), a rede de rádio e TV firmou contratos que somaram R$ 18,8 milhões, de acordo com informações públicas da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da presidência da República. São excluídos dos números a publicidade de bancos e gigantes estatais, como a Petrobras.

O valor colocou a Jovem Pan nos anos Bolsonaro como a 12ª empresa com mais verbas de publicidade federal. Sob Lula, há um único registro no sistema de divulgação de verbas federal em 2023, de R$ 2,4 mil, para uma rádio afiliada de Manaus (AM), para veiculação de campanha de combate à tuberculose.

Outro ponto que Cid abordará será a relação financeira com empresários, jornalistas e donos de órgãos de imprensa ligados à extrema-direita, e que teriam recebido financiamento para aumentarem sua estrutura em troca de defesa e divulgação de realizações do antigo governo federal. A defesa de Cid diz ter comprovações de pagamentos que teriam sido feitos e que irá apresentá-los na delação.

A ideia de Cid neste ponto é provar que ele tinha conhecimento de tudo o que ocorria ao redor de Jair Bolsonaro enquanto ele era presidente da república, inclusive da divulgação de fake news e financiamentos de mídia alternativa.

Procurada pelos reportagem desde a manhã da última terça (12) por quatro vezes por WhatsApp e por outras nove vezes por ligação telefônica, o advogado Cezar Bittencout, que defende Mauro Cid, não atendeu aos chamados. A Jovem Pan não se pronunciou.


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