PARATY, RJ (FOLHAPRESS) - A esquerda precisa "sair deste elitismo intelectual" que a impede de olhar as redes sociais sem "nojinho". Esse é um ponto crucial para o campo progressista vencer o que o deputado André Janones (Avante-MG) chama de guerra pela democracia deflagrada com o avanço do bolsonarismo, um oponente craque em usar as ferramentas virtuais a seu favor.
Ele próprio apareceu nesta quinta (23), numa lotada Casa Record da Flip, com uma camisa que o transforma em substantivo. Nela se lia "janonismo cultural", expressão criada durante a disputa eleitoral de 2022 e que se refere ao método de usar armas similares às do inimigo ideológico para derrotá-lo.
Ele não chama de fake news o que faz, como ao insinuar que se Jair Bolsonaro (PL) vencesse a eleição de 2022 convocaria Fernando Collor para sua Esplanada, ou sugerir que o então presidente que tentava a reeleição seria maçom. Ambas falsidades.
Janones se defendeu afirmando que nunca chegou a cravar que Bolsonaro de fato era ligado à maçonaria, por exemplo. Na época, ele gravou uma live em frente à réplica do Templo de Salomão construída pela Igreja Universal, e ali disse que as pessoas comentavam sobre essa possibilidade. O deputado é evangélico e produziu o vídeo para atingir aquele público, sabidamente avesso ao ideário maçom.
Segundo ele, faz toda a diferença não afirmar que Bolsonaro de fato é maçom, o que ele não poderia provar, mas atribuir a dúvida a algo coletivo, o que não era mentira --as pessoas de fato especulavam se ele integrava o movimento.
A reportagem perguntou, então, se ele acha que Bolsonaro não cometeria fake news caso adotasse a mesma fórmula e dissesse que as pessoas estão falando que Lula (PT) mandou matar o prefeito Celso Daniel em 2002, ou que a cloroquina era eficaz contra a Covid-19 --duas inverdades abraçadas em círculos bolsonaristas.
O deputado respondeu que poderia ser "eticamente duvidoso", como muitas das coisas que ele próprio fez naquela campanha, mas não fake news.
Para Janones, a esquerda padece de "negacionismo político" quando se recusa a entender o poder das redes, como se fingindo que ele não está ali fosse enfraquecê-lo. Mas não vai.
O deputado chegou a se candidatar à Presidência no ano passado, mas desistiu e anunciou seu apoio a Lula. Na mesa, contou várias histórias sobre a campanha.
Quando tentou explicar para o petista sobre a potência das redes sociais, por exemplo, ouviu de volta: "tá, mas quanto disso se reverte em votos?"
Janones contou então que, em 2018, conseguiu quase 200 mil votos fazendo sua campanha no quarto com o celular na mão. Ele, advogado que nunca teve um caminhão, projetou-se com lives sobre a Greve dos Caminhoneiros em 2017.
Essa questão do presidente com a capacidade de angariar votos era generalizada, segundo o parlamentar. "A Janja [primeira-dama] me contou que ele perguntava isso pra todo mundo, até pra Anitta."
Janones também falou sobre um recurso que aplicou a certa altura para assustar adversários do que ele chama de extrema-direita: dizer que tinha em mãos um conteúdo exclusivo do celular de Gustavo Bebianno, advogado que fazia parte da turma de Bolsonaro até romper com ele, ainda no primeiro ano de mandato do agora ex-presidente. Bebianno morreu em 2020.
Ele disse que Paulo Marinho, outro ex-aliado de Bolsonaro, até lhe passou algo, mas nada demais. Mas a expectativa de que algo pudesse sair dali "mexeu com o psicológico" dos adversários.
Janones afirmou que existe, sim, material comprometedor num aparelho de Bebianno, mas retido com a cunhada dele. Por questões de fé, a família, espírita, não quer divulgar nada por acreditar que isso pode atrapalhar o espírito de Bebianno, onde quer que ele esteja, disse.
O deputado afirmou que o tal do janonismo cultural desestabilizou o outro lado. Citou o que Sidônio Palmeira, marqueteiro de Lula em 2022, teria lhe dito: seus blefes sobre ter uma bomba com potencial de arruinar a candidatura bolsonarista chegou a alarmar o próprio Bolsonaro --que, em intervalos de um debate, teria pedido à sua equipe para dar uma olhada "se Janones postou algo no Twitter", o atual X.
Janones também pediu crédito pelo episódio em que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) sacou uma arma contra um eleitor lulista na véspera do segundo turno. Para muitos bolsonaristas, o ato da aliada ajudou Bolsonaro a perder aquele pleito. Zambelli, segundo seu colega de Brasília, costuma dizer que estava com o psicológico abalado em parte por ameaças que Janones fazia de soltar algo contra a campanha rival.
E ele acha certo as táticas que usa?
Se chega alguém dizendo que não concorda com seus métodos, e muitos chegam, Janones afirmou que responde na lata: "Somos dois".
"Gostaria que [o confronto] fosse ético e acima da linha de cintura." Mas às vezes é preciso golpear na linha da cintura, calculando para não ir abaixo dela, se quiser enfrentar o bolsonarismo.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!