Dossi? revela os mist?rios de Saci Categorizado como literatura infanto-juvenil, Dossi? Saci ? um livro para todas as idades e traz registros hist?ricos sobre o mito mais popular da cultura brasileira


Marinella Souza
*Colabora??o
19/06/2008

De imediato, s? pelo t?tulo, imagina-se ser uma obra para crian?as. ? poss?vel, tamb?m, achar que se trata de alguma nova investiga??o de algum crime pol?tico, afinal, a pol?tica nacional ? cheia de nomes po?ticos. Mas n?o ? nem uma coisa nem outra.

Dossi? Saci ? uma compila??o de informa?es relacionadas ao menino negro de uma perna s? e seus gorro e cachimbo. A autora o define como um livro para todas as idades, tanto que logo na primeira p?gina ela dedica a obra "a todos aqueles que j? viram, t?m vontade ou conhecem o Saci".

A capa dura e as folhas envelhecidas d?o o tom misterioso do livro, que j? come?a com um relato curioso sobre ele mesmo. Reza a lenda, que Dossi? Saci ? uma r?plica do original, encontrado h? 200 anos em um casar?o abandonado e j? demolido de Juiz de Fora.

A autora, Margareth Assis Marinho jura ter encontrado tal original nas prateleiras de um sebo e teve a id?ia de reescrev?-lo. Se essa hist?ria ? verdade? "Sim! ? a minha verdade!", diz Margareth. Assim como ? verdade que ela tem um viveiro de Saci em sua fazenda.

Foto da primeira p?gina do livro, com a dedicat?ria As p?ginas amareladas, sem numera??o e as letras manuscritas, s?o ind?cios de que a hist?ria contada por Margareth pode ter fundamento, mas pode ser uma perip?cia de Saci tentando enganar os olhos do leitor. Seja como for, o livro re?ne relatos sobre a origem e a hist?ria do negrinho moleque, que pouca gente sabe.

Segundo Margareth, seu livro cont?m informa?es sigilosas sobre o Saci. A mais secreta delas ? a de que o Saci ? respons?vel pelo sumi?o inexplic?vel de objetos. "Quando isso acontece, basta que voc? amarre uma palha em algum lugar, como uma cadeira, por exemplo, e d? tr?s n?s. Isso vai apert?-lo ao ponto de deix?-lo com vontade de fazer xixi e ele vai acabar te mostrando onde est? o objeto perdido", garante a autora.

Foto de
ilustra??o do Saci Margareth se denomina uma "saci?loga" porque, sendo contadora de hist?rias, dedicou parte de sua vida ao estudo dos mitos populares, em especial, ao Saci e aprendeu muita coisa sobre ele. Reunindo suas leituras de autores como Monteiro Lobato e C?mara Cascudo, mais a cultura oral que cada um tem sobre Saci, Margareth ia incrementando as suas hist?rias com objetos que remetem ao universo de seu personagem favorito.

Fasc?nio

Em suas andan?as, percebeu que Saci mexia com a cabe?a de crian?as e adultos, por isso, resolveu registrar tudo o que sabia para que as travessuras do moleque de uma perna s? n?o se perdesse no tempo. O resultado foi um livro esteticamente original que desperta a curiosidade logo no t?tulo e instiga o leitor pela atmosfera de mist?rio que a autora criou em torno da obra.

A leitura n?o deixa a desejar e corresponde ?s expectativas. Pelo menos, foi o que o autor Moacyr Scliar revelou ? autora quando acabou de ler. "Ele deixou um recado na minha secret?ria eletr?nica dizendo que a hist?ria era genial", orgulha-se.

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ilustra??o do livro Margareth acredita que o grande charme de Saci, o que o faz um personagem t?o especial ? o seu poder. "O fato de ele poder ir e vir, desaparecer a hora que quer, chegar sem ser notado, rir ?s gargalhadas das pr?prias travessuras, tudo isso o aproxima muito desse universo infanto-juvenil, que ? t?o l?dico", diz.

Dossi? Saci ainda n?o foi oficialmente lan?ado, mas teve um pr?-lan?amento no Fest Ler e o resultado foi o melhor poss?vel. "O primeiro encantamento das pessoas ? pelo formato. A partir da? elas se sentem estimuladas ? leitura, que ? f?cil e prazerosa", acredita.

Foto de p?gina
manuscrita do livro Para o lan?amento, previsto para o fim de junho, Margareth queria uma festa "bem ? la Saci", mas pessoas envolvidas no projeto a desestimularam. "Eu queria que a festa de lan?amento fosse no meio da mata, com muito verde, mas meus parceiros est?o me convencendo de que n?o ? uma boa por causa do frio e da possibilidade de chuva", lamenta.

As ilustra?es que contribuem para que a imagina??o do leitor adentre na floresta habitada por Saci s?o de Daniel Rodrigues, que traduziu em desenhos singelos o que Margareth Marinho escreveu (ou transcreveu, se embarcarmos na verdade dela) com uma linguagem simples, por?m de teor hist?rico.

As origens de Saci

Margareth conta que muitas vers?es d?o conta da origem do Saci. Uma delas relata a exist?ncia do mito desde os tempos da escravid?o. "Naquela ?poca os senhores de escravo puniam os negros fuj?es cortando-lhes uma perna, muitos deles morriam e os demais escravos juravam que viam o fantasma desses escravos vagando pela fazenda em uma perna s?".

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ilustra??o de Saci com rabo Outra vers?o tem um embasamento mais religioso. "Dizem que houve uma rebeli?o no inferno e todos os capetinhas fugiram e foram capturados pelo Diabo, menos o Saci, o que justificaria suas atitudes endiabradas". Outro detalhe que d? veracidade a essa vers?o ? o rabo que o personagem tinha e perdeu ao longo do tempo.

"Foi uma transforma??o hist?rica. Ele perdeu o rabo para se assemelhar mais ? verdade, porque nossos mitos n?o podem se assemelhar ao diabo porque n?o se mant?m dessa forma", explica.

*Marinella Souza ? estudante de Comunica??o Social da UFJF