Paula Medeiros Paula Medeiros 29/1/2011


Amor por Contrato retrata os problemas de uma sociedade capitalista e consumista com falso moralismo 

Atenção! Esse texto contém informações detalhadas sobre o filme.

É realmente interessante notar que, hoje em dia, qualquer tema pode virar – e vira – filme. É mais interessante ainda notar a falsa autocrítica de alguns, como no caso de Amor por Contrato, de Derrick Borte, que tem como tema principal explorar as consequências devastadoras do capitalismo sobre a sociedade. E que, mesmo com esse mote, não deixa de inserir merchandising na trama por um minuto sequer.

Amor por Contrato conta a história de uma família extremamente bem-sucedida, em que todos são bonitos, interessantes, elegantes e antenados. Só que os Jones não são exatamente uma família. Fazem parte de uma estratégia de publicidade que trabalha com o conceito do self marketing, ou seja, da venda da aparência pessoal como um todo. Portanto, empresas que buscam vender seu produto, articulam uma imagem de sucesso sobre famílias falsas para, inconscientemente, provocar o desejo de consumo naqueles que vivem ao seu redor.

É dispensável o comentário sobre a semelhança com a realidade. Não é isso que vemos todos os dias na televisão, nas revistas, nos famosos reality shows e em tudo que chega às nossas mãos? Só que assumir uma postura crítica diante disso vai muito além de fazer um filme como esse, principalmente porque o longa faz exatamente o que aparenta criticar. De crítica mesmo, ficou só a ideia, pois o filme passa longe disso, uma vez que usa o merchandising real a todo momento que tenta ilustrar o consumismo excessivo como prejudicial às relações humanas.

Amor por Contrato tem uma proposta interessante, um enredo de encher os olhos, porém, mal articulado e falsamente explorado. É possível notar ainda que o roteiro tem uma profunda inspiração no capitalismo de O Show de Truman (1998) e uma vaga semelhança com Mulheres Perfeitas (2004), no que diz respeito à construção da família ideal. Mas parece que ainda falta um teor de crítica mais ácido no filme de Borte.

Independentemente de tudo isso, o filme se desenrola de forma simpática, serve como um passatempo light, se você não tiver mais nada para fazer ou assistir. Também não é um filme chato, apesar dos clichês românticos, como o do casal que não poderia se apaixonar, mas se apaixona perdidamente. E, obviamente, é muito atraente como showroom de videogames de última geração, carros luxuosos, joias raras e tudo mais que o consumismo permitir.

Diferentemente de como muitos o classificaram, o filme em questão não se trata de uma comédia, mas sim, de um drama porque, apesar dos deslizes, o desenrolar da trama nos faz lembrar, lá no fundo, do quanto vivemos pelas aparências e do quão impotentes somos diante disso. Só que quando começamos a levar em consideração essa reflexão, a história volta a pecar.

E nesse pecado está o maior erro do filme. Ilustrar o capitalismo como uma coisa tão contornável quanto um desentendimento amoroso. Só que, pelo menos, em relação a isso, observamos alguma coerência no desfecho: Steve (David Duchovny) e Kate (Demi Moore) dão as costas ao "sistema" para o qual tanto trabalharam e vão embora, para viverem felizes em seu mundo perfeito, sem as adversidades do consumismo exacerbado e onde o amor tudo supera. Como se isso pudesse acontecer.

Mais falso moralismo do que isso, impossível.

Ficha Técnica
Amor por Contrato/The Joneses
EUA , 2009, 90 minutos
Drama
Direção: Derrick Borte
Roteiro: Randy T. Dinzler, Derrick Borte
Elenco: David Duchovny, Demi Moore, Ben Hollingsworth, Amber Heard, Gary Cole e Lauren Hutton

 



Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.