Na sequência Oscar 2019: Nasce uma estrela 

Nome do Colunista Victor Bitarello 12/01/2019

Eu preciso fazer uma ressalva, por respeito ao leitor, antes de iniciar a crítica. Quando eu escrevo as minhas colunas, meu intento é me colocar no lugar de quem, assim como eu, vai ao cinema. Eu sempre pensei que as pessoas não são obrigadas a terem pré conhecimentos para assistirem, entenderem e gostarem de um filme. Os deveres ficam por conta de quem faz o trabalho. De realizá-lo com qualidade. Se o fizer, e se mesmo assim o público não se identifica, basta não tornar a prestigiar.

Faço essa introdução para dizer que não tenho um conhecimento aprofundado da vida e obra da cantora Lady Gaga, protagonista do filme, a também cantora Ally. Com o pouco que sei, assim como a personagem, Gaga é, por muitos, considerada inadequada. Mas é muito amada por grande parte do público LGBT que curte música pop, sendo também uma grande, uma fabulosa artista. Então, não sei se houve uma intenção de fazer um paralelo com sua trajetória, e até onde foi esse paralelo.

O roteiro conta a história de duas vidas que se encontram e passam a se amar, apesar de estarem em momentos completamente distintos. Jack Maine (Bradley Cooper) é um cantor já renomado, uma estrela da música e de carreira consolidada. Ally (Gaga) é funcionária de um restaurante e, após o trabalho, se apresenta como cantora em uma boate voltada para o público gay, onde performers drag queens também se apresentam. Eles se conhecem quando Jack, após um show, decide entrar no local, em busca de bebida. Ela mostra a que veio no filme, cantando "La vie en rose", de Edith Piaf. É, talvez, um dos melhores momentos do longa, que tem nas apresentações musicais, sejam elas as maiores ou as mais intimistas, seus pontos mais emocionantes.

"Nasce uma estrela" é um filme pop. É feito para agradar com facilidade, para emocionar com facilidade. Apesar de pregar que um artista deve levar ao seu público aquilo que ele tem de melhor, independente do público gostar ou não, ele se ocupa disso. Ele quer que o público goste dele. É romântico, é dramático, é bonito. Tudo com medidas muito agradáveis. Músicas lindas, boas atuações, boas surpresas. Foi muito legal ver as "meninas" de Rupaul Drag Race no filme.

Não tenho porque ficar criticando o filme por ele ser pop. Eu só apontaria que isso trouxe a ele dois defeitos. Ser abrangente demais, mostrando muita coisa, o que o torna um pouco cansativo. E também longo, mesmo tendo um tempo de duração semelhante aos filmes comuns americanos.

A indicação a melhor filme será cabível. É emocionante, tem uma história que, em muitos aspectos, nos fazem refletir, em especial sobre o tratamento que as celebridades recebem, como se elas fossem obrigadas a tolerar qualquer coisa. Eu gosto muito de propostas de reflexão. É muito legal também a homenagem que Gaga faz a seu público, que tanto lhe ama. Muitas empresas viraram as costas para o público gay. Lady Gaga faz o oposto disso no longa.

A canção "Shallow" é arrepiante. Só de me lembrar deles cantando eu tenho essa sensação, a de arrepio. É linda. Apesar de ainda não ter conferido as outras, é uma fortíssima candidata ao prêmio de canção original, porque é muito tocante e muito forte.   

Bradley Cooper deve ser indicado em duas categorias. A de melhor diretor e a de ator. Como diretor, fica difícil dizer, por ausência, assim como falei da canção, de parâmetro de comparação. No entanto, o que posso afirmar é que será justo. É uma direção que está toda muito bem apresentada, auxiliando o roteiro a ser o tempo todo muito coerente, tanto com a história de Ally quanto com a de Jack. Ally cresce na medida certa e seus tropeços e medos são muito bem dirigidos. Todos os momentos de Jack também. No entanto, como ator, Bradley continua caindo no mesmo problema de sempre. Ele é um ótimo ator, sabe passar a mensagem, mas não vende o personagem. Foi o que aconteceu em suas outras três indicações. Quando dividiu a cena com Jennifer Lawrence, em "O lado bom da vida", tem-se um exemplo. A atriz, mesmo sendo tão jovem, e com menor quantidade de participação no filme que ele, mostrou com muita habilidade o que a personagem pedia e levou a estatueta. Mas, de qualquer forma, a indicação a ambos os prêmios é praticamente certa.

Eu estou um pouco na dúvida sobre o que dizer da também provável indicação de Lady Gaga como melhor atriz. Considerando o que vejo já há muitos anos, acredito que o façam por uma questão de espetáculo, de show. Sem dúvida, daria um enorme ibope. Mas a qualidade de sua atuação é mediana. Seus melhores momentos são durante as apresentações enquanto cantora, que já é o que ela faz, e muito bem, como dito acima. Ela faz apenas o suficiente para levar o drama. Só que não o suficiente para levar um prêmio desse porte. No entanto, se tem uma coisa que vem acontecendo no Oscar são injustiças.

De qualquer forma, é um filme muito bonito. Apesar de não ser do estilo musical, são lindas todas as apresentações. É um grande show!

ACESSA.com - Na sequ?ncia Oscar 2019: Nasce uma estrela