Minha Fama de Mau

Victor Bitarello Victor Bitarello 20/02/2019

Quando eu estava no início da minha adolescência, minha mãe comprou uma coletânea de CDs com músicas de vários cantores dos anos 60 no Brasil. Salvo engano, nós não tínhamos um aparelho de som para tocá-los, então tivemos que esperar para ouvi-los. O CD ainda era uma novidade por aqui, e somente os mais abastados possuíam. Ela comprou porquê, em sua juventude, era muito fã de um programa no qual aqueles artistas se apresentavam. A “Jovem Guarda”.
    Assim, após conhecer aquelas músicas ingênuas e divertidas, acabei, também, me tornando um fã.

Baseado no livro “Minha Fama de Mau”, o filme, de mesmo nome, conta a história do compositor e cantor Erasmo Carlos, indo desde a adolescência pobre, quando ele e seu grupo de amigos sonhavam em serem cantores (incluindo o mau humorado Tião, que depois se tornou Tim, o Tim Maia, e Renato, de Renato e Seus Blue Caps), até conhecer a mulher de sua vida, Nara.

Não digo que seja bom, mas também não digo que seja ruim. É um filme de aspectos. Em alguns aspectos, ele investiu e deu certo, enquanto que outros aparenta ter deixado totalmente de lado. Chay Suede protagoniza a trama. Eu não conheço essa época de Erasmo mas, de tudo que já vi dele até hoje, somado a uma entrevista dada pelo próprio cantor recentemente, a desenvoltura do ator foi satisfatória, principalmente considerando a responsabilidade do papel que carregou. A questão, pra mim, é que focaram tanto nele, que os outros não tiveram boas atuações. Malu Rodrigues e Gabriel Leone não foram Wanderléa e Roberto Carlos. Foram apenas personagens. E bem simplórios diga-se de passagem. Não houve a dramaticidade adequada. Foi uma falha grave de direção. Uma ideia interessante teria sido colocar Chay Suede para atrair o público, já que ele é muito conhecido e queridinho da Rede Globo, e fazer um teste bem amplo para escolher quem faria Roberto e Wanderléa. Assim, a qualidade dos atores ajudaria a direção.

Uma escolha que considerei muito boa foi Bianca Comparato representar a mulher na vida de Erasmo. Do início ao fim, sendo variadas mulheres. Uma ideia grata e muito bem-vinda. Gostei.

Outra característica boa foi a apresentação de uma série de imagens antigas que, sob meu ponto de vista, ajuda demais a viver a emoção da época em que a história se passa.

Um probleminha chato do filme é que o roteiro não é coeso. Em vários momentos, temos que nos esforçar demais para entender quem é tal pessoa, ou o que está acontecendo. Ele é meio apressado. Essa definição é boa. Apressado.

Eu realmente fiquei muito incomodado com o que disse um pouco acima. A quase total falta de empenho em caracterizar os personagens que circundam Erasmo, bem como, ao menos, um pouco mais de esclarecimento sobre figuras públicas muito conhecidas e que participam do longa foram coisas que atrapalharam a diversão. É interessante ater-se a foco, mas houve excesso.

Muito provavelmente, o público que mais gostará será aquele formado de fãs do cantor, ou de pessoas que curtiram a jovem guarda. Mesmo com esses defeitos, foi muito agradável as cenas de época, bem como as músicas. Os efeitos que mostravam um Rio de Janeiro de outros tempos ficaram muito legais. 

De certa forma, acredito que valha a pena conferir o trabalho. A sensação é como se estivéssemos prestigiando Erasmo. E como não gostar dele né!

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