Aladdin, vale a pena assistir

Victor Bitarello Victor Bitarello 18/06/2019

O primeiro ingrediente é a sabedoria. Sabedoria obtida após milhares de anos de uma vida que viu muitas manifestações da ganância humana. Que mostrará às crianças a importância não do tamanho ou da quantidade daquilo que se possui, mas da qualidade de quem se é. E essa mesma sabedoria, que vai aos poucos se abrindo para a construção de uma forte relação de amizade, ajudará seu amigo a resolver seus problemas, sempre a contento, mesmo que a custo de algo chamado perda, mas com muito amadurecimento.

Soma-se então um rapaz. Belo. Desejado pelas moças locais. Porém pobre. Não somente pobre. Paupérrimo. E que identifica-se fortemente com a identidade de ladrão. Alguém que não tem valor algum. Sua fala se justifica quando diz que a única coisa que recebeu da família (mãe) é a recordação de uma canção. Um rapaz que rouba. Rouba sempre. Ele explica, em uma das encantadoras músicas da trilha do filme, que é para sua sobrevivência. Sempre alegando a necessidade de comer. O que então pensamos sobre isso? Podemos aceitar um crime? Podemos aceitar que um reino, um Estado, permita que sua população chegue ao ponto de necessitar roubar para comer?

Então, aquilo que dá o gosto mais bonito, mais agradável, se apresenta ao público. Uma jovem princesa. Muito ingênua. Ingenuidade adquirida em virtude do isolamento em que vive. Que não consegue entender como é possível um sistema político e econômico insensível à fome de duas crianças. Uma jovem que, ao pedir ao pai a independência de um marido para sucedê-lo no sultanato, não está, com isso, almejando o poder, mas o reconhecimento. O reconhecimento de que se preparou. De sua capacidade de fazer o melhor pelo povo que ama, e que se revolta com o fato de não poder fazê-lo simplesmente por ser mulher. Obrigada a ouvir que é melhor contentar-se em ser vista, a ser ouvida.

Então ela se encontra com ele. Aladdin. Dois extremos se encontram. E, com isso, uma atração linda surge, nos emocionando, do início ao fim, em mais um clássico da Disney. Não tenho preocupação em dizer que já é um clássico. Repleto de conteúdo político, muito mais adulto que infantil.

Nele, vemos um gênio engraçado e azul (a genialidade e a inteligência não possuem raça...), que diz uma verdade dura de ser encarada: "se eu transformar seu exterior, as roupas que usa, sua aparência, não te reconhecerão. Verão aquilo que querem". E estava certo. Nem a princesa, nem o cruel vizir, que já o haviam visto, o reconhecem.

O papagaio, Iago, é uma demonstração muito inteligente do que representa os seguidores de líderes tirânicos. São, não somente, aqueles que os incentivam ao mal (lembrando-os a todo tempo de sua posição de "segundo" e que estão "certos"), mas repetindo cegamente suas falas e ensinamentos. Um papagaio é o melhor tipo de animal para simbolizar o seguidor de um ditador. Os ditadores são a maior demonstração pública daqueles que acreditam que vencer na vida é acumular. É ser único. É ser exclusivo. É ser maior.

E então, tem-se o ápice do filme, quando Jasmine conclama Hakim, o líder dos soldados, à reflexão. Ele, que sempre foi fiel ao sultão, obedecia uma lei que foi criada sob a égide da ética. Agora, ele estava sendo chamado a seguir aos desígnios de um tirano. Cabia a ele decidir sobre qual a função das armas durante um momento de golpe. É arrepiante.

"Aladdin" é um filme que possui cores. É harmonicamente colorido. Danças. Música. Atores de países que não estamos acostumados a ver. Diversidade. Eu reconheci somente o estadunidense Will Smith, que eu adoro. O diretor é o britânico Guy Ritchie, bem como a atriz que interpreta Jasmine, Naomi Scott. Em pesquisa no Google, verifiquei que o ator que fez Aladdin, Mena Massoud, nasceu no Egito, mas cresceu e vive no Canadá. Há atores do Irã, Holanda, Turquia.

Indico demais. É um excelente filme. Excelente mesmo!  

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