Sobre um belíssimo Oscar!

Victor Bitarello Victor Bitarello 7/02/2020

2020 será um ano difícil, porém bonito, para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela entrega do Oscar, fazer suas escolhas.

Digo isto, porque 2019 nos mostrou muito talento e criatividade vindos de uma enorme quantidade de pessoas envolvidas nesse mundo de alegria e entretenimento que é o cinema.

Inicio pelo prêmio principal da noite.

Baseado em tudo o que eu acredito que essa arte representa, e tendo o deslumbre de cada detalhe como critério de desempate, o melhor filme do ano passado foi “1917”, de Sam Mendes. Não tenho dúvidas quanto a isso. Aliás, penso que ele merece vencer em todas as categorias às quais foi indicado.

Vale destacar, aqui, seu grande oponente, o fantástico “Era Uma Vez Em... Hollywood”, de Quentin Tarantino. Trata-se de mais uma obra prima do diretor. Tarantino se esmerou em fazer mais um de seus trabalhos deslumbrantes. Ele é um dos maiores e melhores diretores e roteiristas da história. Porém, mais uma vez, ele encontrou um concorrente muito forte. No entanto, independentemente de qual ganhar, ambos são momentos lindos do cinema.

“1917”, na categoria original, está à frente de seus quatro colegas, tendo o roteiro de Tarantino ali pertinho. Os outros três não são páreo. Porém, eu gostaria de dizer que, enquanto filme, diversão e oportunidade de sentir variadas emoções numa sala de cinema, "História de um Casamento", "Parasita" e "Entre Facas e Segredos" são obras deliciosas de serem assistidas. O último é um gostoso e bem feito caso de suspense, como há tempos não vemos. Os outros são boas obras críticas e reflexivas.

Quanto a roteiro adaptado, eu destacaria somente "O Irlandês", de Martin Scorsese, apesar de ter minhas ressalvas quanto a fazer um filme tão extenso, com poucos atrativos excitantes.

Eu fiquei bastante incomodado com dois dos indicados a melhor diretor. Sam Mendes, Quentin Tarantino e Martin Scorsese estão na lista e isso é justíssimo. Foram três trabalhos excelentes. No entanto, indicaram também Todd Philips, por "Coringa" e Bong Joon-ho", por "Parasita". Foram guias fracos e confusos, em especial o de "Coringa". Phillips conduz o roteiro, e toda a história daquele que viria a ser o Coringa, de um jeito vergonhoso. Sua direção merece o troféu framboesa. Pedro Almodóvar, por "Dor e Glória", Greta Gerwig, por "Adoráveis Mulheres", e Noah Baumbach, por "História de Um Casamento" seriam indicações melhores.

Faço questão de fazer um elogio a Scorsese. Sua direção em "O Irlandês", filme de três horas e meia, mostra o quanto ele sabe, o quanto ele tem a manha da coisa. Não é pra qualquer um fazer aquilo. Eu, enquanto público, não me identifico com as histórias que ele conta. Acho um diretor chato e aborrecido. Mas isso não me impede de reconhecer sua genialidade. É um mestre.

Com relação às obras estrangeiras, seria uma pena não premiarem "Dor e Glória", de Pedro Almodóvar. Aliás, como eu disse acima, ele deveria estar na lista dos indicados a melhor diretor, e também roteiro. A película é uma linda homenagem à sétima arte. Fiquei emocionadíssimo assistindo ao filme, que conta a história de um homem que se torna diretor de cinema. Apresenta fases de sua infância, as consequências que a relação com sua mãe terá em sua vida e os primeiros desejos homossexuais. A fragilidade de sua saúde e a tristeza por não poder mais trabalhar são abordadas primorosamente. Almodóvar é fabuloso! O roteiro do filme é milimetricamente bem feito. Antonio Banderas está muito bem no papel principal. No entanto, ao que tudo indica, o filme vitorioso será o sul coreano "Parasita". Ele conta a história da família paupérrima que vai, pouco a pouco, se instalando na vida de uma família rica, mostrando, nua e cruamente, o quanto a gravíssima desigualdade social mexe com a visão das pessoas sobre moral, ética, caráter, prioridades, caridade e amor ao próximo. O filme nos traz, de maneira direta e escancarada, a aversão que o homem rico tem da pobreza. Um nojo à "instituição" pobreza. Os pobres, por sua vez, acham certo o vale tudo para conseguirem sair da situação em que se encontravam. Justificam a perda da moral com sua situação de miserabilidade. A obra gira em torno desses questionamentos. Não é um filme para julgar, e sim para nos fazer pensar sobre o quanto tanta desigualdade maltrata as pessoas.

Com relação aos atores, o mais provável vencedor será Joaquin Phoenix, por seu "Coringa". Discordo veementemente da justiça dessa vitória. Há quem concorde comigo, há quem não. Mas o fato é que, a meu ver, ele tentou ganhar no grito. Joaquin é bom demais, não precisava disso. Caso ele realmente venha a ganhar, é uma pena que ele carregue o peso de um Oscar sem merecer. E, só para completar, eu espero que sua companheira, uma das minhas atrizes preferidas, Ronney Mara, não vá fantasiada de princesa Leia de novo, como fez no Globo de Ouro.

Os outros quatro atores indicados estão maravilhosos. Jonathan Pryce deveria levar a estatueta. Sua atuação em "Dois Papas", como Papa Francisco, está sublime. Tão lúcida, precisa, madura. Um ator mostrando o que é ser ator. Pontuo que foi uma agradabilíssima surpresa o trabalho do Antonio Banderas. Não me recordo de nada dele que tenha me chamado atenção.

Infelizmente, tenho pouca referência das atrizes, porque não tive acesso a todos os longas. Gostei bastante de Saoirse Ronan, em "Adoráveis Mulheres", baseado no clássico da literatura americana "Little Women", de Louisa May Alcott. Apesar de Scarlett Johansson estar bem em "História de um Casamento", Saoirse me agradou mais. Neste caso, admito que pode ser uma questão de afinidade com a personagem, a feminista Jo, e também sua construção, que foi riquíssima. Mas o mais provável é que vença Renée Zellweger, por "Judy: Muito Além do Arco-Íris".

Brad Pitt, que está brilhante levando o personagem Cliff Booth, em "Era Uma Vez Em... Hollywood", é o candidato mais forte a receber o prêmio na categoria ator coadjuvante. Eu só faço questão de mencionar o quanto Joe Pesci está impagável em “O Irlandês”, de Martin Scorsese, no papel de Russell Bufalino. De qualquer forma, os cinco trabalhos indicados estão lindos.

Das atrizes coadjuvantes, eu amaria ver Kathy Bates, essa fantástica atriz do cinema dos Estados Unidos, ser mais uma vez agraciada, agora por "O Caso Richard Jewell". Ela, como sempre, está uma diva. Seu personagem cresce e suas emoções são contidas ou explicitadas com gradação certeira, interessante, considerando cada nuance (o jeito com que ela lida com as características emocionais do filho e com o abalo que o escândalo causa à família. Caramba! Ela está digna do Oscar sim!).

Finalizando, repito: carrego forte torcida para que "1917" vença em todas as indicações que ele recebeu. Além das que já citei, tem as de direção arte, fotografia (um esplendor de beleza), edição de som, mixagem de som, efeitos visuais, maquiagem e trilha sonora.

Nesta, que promete ser uma cerimônia tão preciosa, sigamos todos aguardando ansiosos o envelope de melhor documentário em longa-metragem ser aberto, e o anunciante falar o resultado em alto e bom som: "And the Oscar goes to... "Democracia e Vertigem", from Petra Costa!

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