Filme O Poço, nova sensação da Netflix


[COLUNISTA_NOME] 30/03/2020

Com viés fortemente religioso cristão, a mais nova sensação da Netflix, o espanhol "O Poço" ("El Hoyo"), conta os dias vividos por Goreng (Iván Massagué), em um local denominado "O Poço".

As alegorias escolhidas pelo roteiro são bastante interessantes.

É inevitável, nesta análise, expor fatos do filme. No entanto, isso não atrapalha quem quiser assisti-lo, porque ele ser é um trabalho muito diferente do que costumamos ver.

Ao acordar naquele ambiente, totalmente comparável ao nascimento neste lugar que chamamos de Terra, Goreng é apresentado a uma única pessoa, Trimagasi (Zorion Eguileor), que acaba por ser quem irá introduzi-lo a tudo de mais básico, em especial o ato de comer. Percebemos no filme que o comer é o grande divisor de águas. Ele diz tudo sobre a história e sobre as pessoas. Ele é a grande preocupação. Trimagasi o cria, o educa e, inclusive, gera seus mais profundos traumas. 

Amadurecido para viver, Goreng consegue alcançar um momento bom em sua caminhada no local. Conhece Imoguiri (Antonia San Juan), a qual passou a vida toda acreditando que todos os seres humanos são capazes de serem solidários. Que querem aproveitar a oportunidade de irem ao Poço e saírem dele evoluídos. Há um momento muito bonito, que é quando ela o questiona sobre o porquê dele ter escolhido trazer consigo um livro (todos que iam para lá podiam escolher um objeto antes de ir). O livro era "Dom Quixote". De acordo com ela, quem escolheria um livro para ir para lá?

Afirmei acima que o filme tem caráter cristão. Um dos motivos é esse. O que ficou de Jesus foi sua Palavra, a qual se encontra em um livro celebrado por tantas pessoas no mundo, a bíblia. E assim como na bíblia consta que todos viam somente o lado ruim de Madalena, menos Jesus, que a salva, Goreng vê a humanidade da personagem Miharu (Alexandra Masangkay), por quem se encanta e que muito bem pode ser comparada à figura bíblica.

Goreng propõe um mundo no qual as pessoas sejam solidárias. E junto com o amigo Baharat (Emilio Buale), a quem ele convence de suas colocações, ele segue pelo Poço espalhando essa nova e possível realidade. E quando consegue enviar a "mensagem" à Administração, não havia mais necessidade dele permanecer ali. Bastava agora aguardar o que fariam com ela.

Com o uso de atores representando as pessoas mais vulneráveis do mundo atual - e de sempre -, "O Poço" não é uma obra de fácil digestão. Tem um roteiro relativamente arrastado, uma história pesada, mas ganha na criatividade. Porém, se considerarmos a história que conhecemos, pode-se dizer que ele sempre será atual.

Provavelmente não será o melhor filme da vida de alguém. No meu caso, eu não curto trabalhos em que a intenção crítica fica muito óbvia. Gosto de ir conseguindo perceber e reparar isso aos poucos. O longa se entrega muito rápido e muito fácil. Talvez seja seu principal defeito. Mas de toda forma, vale a pena assistir.

ACESSA.com - Filme O Po?o, nova sensa??o da Netflix