Entrevista com o poeta Jorge Lenzi

Nome do Colunista Daniela Aragão 8/12/2018

Daniela Aragão: Como começou a descoberta da palavra em sua vida?

Jorge Lenzi: É um processo muito antigo. Volto ao tempo, quando fiz o primário no Grupo Escolar Eduardo de Abreu, no Vitorino Braga. Tinha muito o lance de fazer composição sobre um determinado assunto. Na época era muito comum escrever sobre as férias. Me recordo de uma professora, dona Zila, uma das principais que tive na época. Ela estimulava muito a questão da leitura e da escrita.

Eu comecei a gostar de ler a partir dos gibis, das revistas em quadrinho. Meus pais compravam de vez em quando umas duas revistas para mim. Isso quando eu morava no Vitorino Braga. Com nove anos me mudei para o Jardim Glória, lá eu tinha uma vida social de menino maior. Eu morava próximo a praça. Havia o hábito de ler revistas em quadrinho que trocávamos entre os colegas. Tinha uma diversidade, com pouco dinheiro se fazia uma leitura constante. Hoje tem internet. Fazíamos as trocas de revistas e a leitura ia fluindo. Depois fui cursar o ginasial na Academia e lá passei a ter um estímulo maior com literatura. A partir daquele momento obtive um contato maior com a palavra. Não me recordo em qual momento me bateu o estalo da escrita.

Daniela Aragão: Você se tornou professor e veio a trabalhar com a escrita.

Jorge Lenzi: A escrita é paralela. É importante que eu te conte como se deu o percurso.  Depois de cursar o ginásio fiz o científico e tentei um vestibular para engenharia, empreitada que não deu certo. Em seguida, fui servir no exército em 1974, auge da ditadura militar. Servi na quarta região militar, ao lado do Museu Mariano Procópio. Veio comandar aqui o general Bandeira, um dos mais violentos generais do exército na época da ditadura. Ele veio de Brasília pra cá, pois lá tinha sido ameaçado de morte. Foi um período de dez meses muito pesado em minha vida. Servir exército já é complicado, naquela época em plena ditadura os direitos eram cerceados. Você não podia pensar, falar, e eu sempre tive uma visão muito crítica das coisas. Passei então dez meses praticamente silenciado, para acentuar os pecados ainda fui servir por ordenança do general, aquele serviço de servir cafezinho, “limpar a bota do chefe”. Foi um período que me marcou bastante.

Eu fazia cursinho após a saída do serviço no exército. Foi uma época praticamente perdida em minha vida devido ao excesso de tensão. Depois fui fazer um curso técnico e em seguida fui aprovado num concurso para a Telemig. 

Daniela Aragão: A experiência no quartel gerou algum texto?

Jorge Lenzi: Comecei a registrar bem mais tarde uns pensamentos. Tenho uma agenda de papel. Quando passei a ter esses insights passei a anotar também no papel e em guardanapos que estavam ao meu alcance. Fui juntando e quando percebi, já tinha doze anos de coisas guardadas. Hoje doze anos é quase uma vida. Já havíamos montado a LEIA e a escritora Fernanda Lima da “Paratexto”, me pediu para que lhe mandasse algumas estrofes de poemas, para fazer uns imas de geladeira. Ao invés de mandar estrofes de poemas, que costumam ficar quebrados e fora de contexto, optei por enviar uns pensamentos. Ela aproveitou os pensamentos e fez ilustrações. O resultado ficou bacana. Fiz uma primeira triagem de 50 e agora outra de 100.

Daniela Aragão: Como surgiu a liga de Poetas?

Jorge Lenzi: Abriu um campo pra gente muito interessante. Em novembro de 2015  Margareth Marinho e Dalila Holf (contadora de história) estiveram em Belo Horizonte  e voltaram de lá com algumas ideias relacionadas a literatura. Trouxeram para nós a sugestão para montarmos  uma associação de escritores.

Fizemos algumas reuniões e fomos nos estruturando e abrindo caminhos  para montar a Liga. Firmou-se uma união de escritores e ilustradores a princípio. No primeiro momento da Liga participamos da bienal de livros e bancamos um stand em 2006. Colocamos nosso trabalho ao lado das editoras de grande porte que estavam lá. Expusemos nosso livro em nossa banca. Participamos também da feira literária realizada na Academia de Comércio, com a realização de bate-papo com alunos. Negócio muito interessante, pois temos um projeto da Leia de levar a leitura até as escolas. Abordar as peculiaridades dos gêneros, o que é um romance, poesia. A princípio partimos para as escolas municipais.  

A Leia é um projeto super interessante, visto que todos nós temos através deste meio  condição de mostrar nosso trabalho. Eu que escrevo poemas, outros que escrevem romances. Temos atualmente vinte e três integrantes, entre escritores e ilustradores. Os ilustradores pertencem a editora Alva e a Fernando Lima é da Paratexto. Quando fundamos a Leia era um movimento bem pequeno, mas estamos crescendo. Temos três anos de atividade.

Daniela Aragão: O que é a literatura para a sua vida?

Jorge Lenzi: Há uma mantra que me resume hoje. É um mantra que utilizo nos saraus que organizo. A minha religião é a amizade, sou devoto da paixão, minha oração é a poesia.

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