Jovens vêm de longe para cursar oficinas do festival Estudantes enfrentam a distância vindo da Bahia e até dos Estados Unidos para aprimorar os conhecimentos musicais em Juiz de Fora
Repórter
18/07/2008
Foram 22 horas dentro de um ônibus com 30 crianças, mas a educadora musical Leniza Souza (foto abaixo) garante que vale a pena vir do interior da Bahia para Juiz de Fora estudar música.
Ela encara a estrada, religiosamente, há 16 anos para acompanhar o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que está em sua 19ª edição. Das primeiras vezes, veio sozinha, mas logo teve a idéia de trazer alguns dos 450 jovens atendidos pela Fundação Movimento de Corais Canto das Artes, onde trabalha, em Itapetinga.
Desta vez, vieram 26 alunos com idade entre dez e 18 anos, e uma pequena equipe de apoio. "Só podemos
vir porque conto com a ajuda de outras pessoas para cuidar da garotada e fazer comida lá
mesmo no alojamento"
, relata Leniza.
A garotada diz que aguarda o festival com muita ansiedade, porque onde vivem não têm a
oportunidade de ter aula com professores com experiência internacional. "Esses 15 dias
valem por um ano de estudo lá"
, diz a tutora dos meninos.
"Conhecemos pessoas novas, com pensamentos diferentes. Isso faz com que a gente cresca na
música e fique mais motivado"
, comenta Italo Sades Nascimento Araújo, de 18 anos. Ele toca
trombone de vara e vai se apresentar com a Orquestra Experimental do Festival, no dia 25 de julho.
Veja a programação.
"Lá na Bahia somos amigos, mas aqui vira todo mundo família e a Leniza é nossa mãe", diz
Augusto César Cassimiro Fontes, de 15 anos.
"Vim de família simples, mas muito rica na área cultural, por isso sei que vir para cá faz
toda a diferença. Meu objetivo é fazer a vida as pessoas mais feliz e agradável. Isso é que a
música faz, o famoso 'tirar as pessoas de situação de risco'"
, completa Leniza.
A empolgação da educadora em proporcionar alegria aos jovens é tanta que todos os anos ela traz na bagagem um peso extra: ingredientes para preparar o acarajé da confraternização. Os alunos que dividem a sala com os baianos aproveitam a festa.
Leniza diz que as realizações Centro Cultural Pró-Música
servem de espelho para ela. "É um trabalho
heróico. Participar do festival é mergulhar no mais alto nível da cultura musical e artística."
Encanto pela música antiga
Professores estrangeiros não são novidade no festival de música, mas a presença de alunos de outros países também tem se tornado freqüente, principalmente aqueles interessados pela música antiga, que têm mais dificuldade em encontrar formação especializada.
Em edições anteriores, franceses e argentinos já passaram pelas salas de aula. Desta vez, a norte-americana Katrina Marie Bushko, de 15 anos, descobriu o evento pela internet e decidiu vir conhecer melhor o país da mãe, Adriana.
Elas vivem em Keedysville, no estado de Maryland, nos Estados Unidos e não vinham ao Brasil há
12 anos. A moça até entende um pouco de português, mas a linguagem musical fala mais
alto. Katrina diz que o maestro João Maurício Galindo é o melhor regente que ela já conheceu.
Ela vai se apresentar sob o comando dele com a Orquestra Sinfônica do Festival, no dia 26 de julho, às
18h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, s/nº).
Além da prática de orquestra, Katrina faz classes de violino moderno e assiste às aulas de
violino barroco, que ficou conhecendo em Juiz de Fora. "Ela ficou encantada e quer levar
o DVD da Orquestra Barroca para o maestro e para um monte de gente nos Estados Unidos,
porque não conhecia um trabalho como este"
, diz a mãe.
"Nunca tinha feito uma master class antes. Está tudo muito bom"
, diz a garota.
Katrina é o primeiro violino da orquestra da Boonsboro High School, onde estuda, e
também faz parte da orquestra da Shepherd University, em West Virginia.
A mãe diz que não sabe de onde a menina herdou o dom para a música, pois nem ela nem o pai americano são ligados à arte. Mas Katrina já influenciou as duas irmãs mais novas. Rebecca, de 13 anos, toca flauta e Priscilla, de 11, violoncelo.