Mineiridade da Zona da Mata ganha formas e cores nas pinceladas de Francisco SeverinoArte naïf é utilizada pelo mineiro de Descoberto, que há 36 anos cria trabalhos que já foram expostos em diversos países. Ele expõe obras na mostra Sangue Mineiro

Jorge Júnior
Repórter
1/6/2011
francico_severino

A mineiridade do cotidiano da Zona da Mata ganha formas nas pinceladas de Francisco Severino. Natural de Descoberto (MG), o artista plástico, ao longo de 36 anos de carreira, já levou sua arte para vários lugares e países do mundo, como França, Estados Unidos, Marrocos, Holanda e Inglaterra.

Tempos atrás, Severino mudou-se para a Grande São Paulo, a fim de trabalhar como metalúrgico em São Bernado do Campo. Foi nessa cidade que teve oportunidade de ingressar no mundo das artes.

"Como eu gostava de sair à noite, tive o privilégio de conhecer diversas galerias de arte. Foi a partir daí que tive o primeiro contato com uma senhora da República Checa, que me ensinou os primeiros passos da arte." O pintor conta que ele criou três quadros que foram levados, por um amigo, para os Estados Unidos. "As telas foram vendidas e, após dois anos, abandonei minha profissão, passando a me dedicar apenas à pintura," explica, destacando que sua carreira foi impulsionada a partir do apoio de amigos estrangeiros.

Com a imagem na cabeça e a vontade de expressar os seus sentimentos, Severino voltou para Minas Gerais, e instalou-se no município de Cataguases. Na cidade, o artista conheceu o cineasta Humberto Mauro, durante uma exposição. Segundo o artista, era comum que fosse comparado ao produtor devido a semelhanças com relação às obras dos dois artistas. "As pessoas me falavam que eu não era um primitivo, mas, sim, um puro artista," recorda.

Foi justamente o contato com Humberto Mauro que motivou a organização da exposição Sangue Mineiro, inspirada no produtor. Na mostra, são apresentados 22 quadros confeccionados em óleo sobre tela, além de pedras pintadas com tinta acrílica. Segundo o artista, os trabalhos não foram criados para a exposição. "A ideia foi de um amigo, que resolveu reunir alguns dos meus trabalhos e fazer a curadoria da mostra." Ele revela que as telas foram feitas de acordo com o momento vivenciado. "Não tem um tempo certo para criação, vai muito do estado de espírito."

Arte naïf retratada nas telas

A partir do momento em que começou a viver da arte, o estilo seguido por Severino foi a arte naïf, ou arte primitiva moderna. "É um estilo moderno, uma arte genuína, que retrata o país. É a mesma origem seguida pelos primitivos, que faziam arte espontaneamente. Esta técnica já é conhecida há mais de um século," esclarece.

De acordo com Severino, na Zona da Mata, o naïf ainda é pouco difundido. "Os artistas têm receio de se expor porque você deixa à mostra a sua alma." O pintor complementa que, no Brasil, o naïf é muito superficial, já em outros países, a arte é mais valorizada. "Todas as artes passam, mas o naïf fica."

Segundo o mineiro, suas raízes estão presentes de forma intensa em sua obra. "Não tem como não ver que as minhas obras retratam Minas Gerais. Olho Minas por todos os lados. Quando observo ao meu redor, vejo os meus quadros. Na minha própria casa, vejo algo que me inspira," conta Severino. "Sinto-me privilegiado por ter ido para São Paulo e vencido na vida. Aprendi algo que posso fazer em qualquer lugar, isso me deixa orgulhoso, feliz e realizado."

Os trabalhos que compõem a exposição Sangue Mineiro podem ser conferidos até o dia 9 de julho, no Espaço Cultural Correios. As visitas podem ser feitas de segunda a sexta, das 10h às 18h, aos sábados, das 10h às 14h.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken