Filatelia em JF perdeu 90% de adeptos nos últimos 15 anosNúmero de colecionadores de selos na cidade reduziu de 90 para 8, desde 1995. Dia do Filatelista Brasileiro é comemorado nesta sexta, 5 de março

Clecius Campos
Repórter
4/3/2010

O Dia do Filatelista Brasileiro é comemorado nesta sexta-feira, 5 de março. Apesar da data, a filatelia — ciência de colecionar selos postais — não tem muito a festejar. Isso porque, segundo dados da Sociedade Filatélica de Juiz de Fora, a cidade perdeu cerca de 90% de colecionadores nos últimos 15 anos. Conforme o presidente da sociedade, Sérvulo Nunes, em 1995, o grupo era composto por cerca de 90 adeptos. Atualmente apenas oito representantes formam a sociedade.

"A modernidade mudou a vida de todo mundo. O avanço da tecnologia fez com que a garotada despertasse mais interesse por computadores e jogos eletrônicos. É difícil ver um adolescente que se dedique à coleção de qualquer coisa. A juventude não tem ingressado na filatelia."

Para o também filatelista Edi Marcuzzi, o esvaziamento das agremiações filatélicas pode estar também relacionado ao advento da internet. "Qualquer pessoa pode obter informações e até comprar selos em todo o mundo pela rede, com facilidade." Nunes lamenta o pouco convívio entre os colecionadores. "Os encontros e exposições competitivas são ótimas oportunidades para o fortalecimento de amizades e a troca de conhecimentos, quesito principal para ser um bom filatelista."

No entanto, o último evento do tipo organizado pela sociedade juizforana ocorreu em 1992. "Não consigo entender o que acontece com Juiz de Fora. Em grandes centros como São Paulo ou no Sul do país, a filatelia é desenvolvida. Nos eventos que promovíamos na cidade, os juizforanos sequer compareciam para visitar." Além da falta de interesse da população, o filatelista acredita que poderia haver mais apoio institucional dos Correios e da Prefeitura de Juiz de Fora. "Devagar, tentamos reativar a sociedade, que hoje vive do aluguel e da colaboração dos poucos sócios. Com um pouco mais de divulgação, a atividade poderia se desenvolver mais na cidade. "

O gerente dos Correios na Zona da Mata, José Sérgio Sacramento, afirma que a empresa realiza reuniões semanais de colecionadores na agência filatélica de Juiz de Fora. O espaço, que antes ficava no hall da Agência Central dos Correios, passou para o segundo andar do prédio, onde ganhou uma sala exclusiva para esse fim. "As alterações foram feitas para dar conforto ao colecionador de selos e melhorar o atendimento", afirma. Nunes desaprova a mudança. "Embaixo tínhamos mais visibilidade."

Foto de selos Foto de selos

A Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) informa por meio de sua assessoria que não executa política específica de apoio a esse tipo de atividade, mas que reconhece o valor da filatelia. A fundação acrescenta que dispõe de canais de incentivo a diversas iniciativas culturais, como a Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei Murilo Mendes, por meio da qual qualquer pessoa ou grupo pode solicitar recurso financeiro, mediante a apresentação de projeto artístico-cultural.

Diversão e conhecimento

Entre os resistentes filatelistas da cidade, está o diretor de uma instituição de ensino, José Paixão de Souza. Há 20 anos, ele se dedica a colecionar selos com a temática de orquídeas. "A vantagem é que não precisa aguar, nem pulverizar", brinca. Para Souza, a filatelia é fonte de diversão e conhecimento. "Cheguei a comprar livros de orquídeas, só para conhecer as diferentes espécies e montar uma coleção perfeita. Não sei ao certo, mas devo ter mais de mil exemplares", perde a conta. Além das orquídeas, Souza acumula selos com motivos infantis e tem uma pequena coleção de bandeiras. "É o meu lazer."

Segundo Nunes, a modalidade filatélica mais colecionada é a temática, por ser fácil de ser desenvolvida. "Os colecionadores inventam um tema e buscam selos do mundo inteiro para trabalhá-lo. Todo tipo de assunto é possível de ser explorado com a coleção de selos, de orquídeas a temas mais específicos como mamíferos de água salgada, por exemplo." Para se tornar um bom colecionador, é preciso muita dedicação e conhecimento. "Frequentemente os filatelistas cometem erros. Ou porque conhecem pouco ou por ainda não terem ingressado na ciência. Uma boa coleção é composta de apresentação, bela montagem e pesquisa. As peças devem ter perfeita coesão com o tema, do contrário podem perder pontos e até ser desclassificadas em exposições competitivas."

Foto de selos Foto de selos Foto de selos

A confecção dos selos também costuma conter alguns equívocos. Em 1975, os Correios lançaram uma edição de selos com peixes brasileiros de água doce (acima à esquerda). Um dos exemplares continha a figura de uma espécie conhecida como barrigudinho. "O selo traz o nome científico do peixe — Phallocerus caudinaculatus —, mas a forma como está escrito é incorreta. Caudinaculatus, se ainda me lembro das aulas de latim, significa pinta de cauda, ao passo que o peixe tem uma pinta na cauda, por isso deveria ser Phallocerus caudonaculatus", exemplifica.

Juiz de Fora foi tema de selos em duas ocasiões. Em 1950, os Correios homenagearam os 100 anos da cidade (acima, ao centro) e em 2000, seu 150º aniversário (acima, à direita).

Os textos são revisados por Madalena Fernandes

http://www.acessa.com/cultura/arquivo/noticias/2010/03/04-filatelia/