Quinta-feira, 21 de outubro de 2010, atualizada às 19h05

Escritor defende que situação brasileira atual é fruto do período colonial

Aline Furtado
Repórter
Laurentino Gomes

"Carregamos, até os dias atuais, o passivo impregnado de escravidão, de pobreza, de analfabetismo e de exclusão de tempos passados." A afirmação é do escritor e jornalista Laurentino Gomes, autor do livro 1808, que esteve em Juiz de Fora, nesta quinta-feira, 21 de outubro, para lançar sua obra mais recente, 1822.

Segundo ele, o resultado da vida política do país é decorrente da forma como o Estado foi construído. "Brasília foi construída de cima para baixo. O que temos é um Estado controlador, que seduz e acaba por originar a corrupção que vemos por aí."

Gomes afirma que a única maneira de o cenário ser diferente seria com a constituição de uma sociedade organizada, já que o Estado brasileiro não foi totalmente finalizado. "Ainda estamos aprendendo a fazer democracia." Isso explica, de acordo com ele, o fato de as pessoas não se reconhecerem na política e não se esforçarem a ponto de se envolverem com ela.

"E mais, temos sérios problemas de autoestima, o que pode ser percebido quando criamos um Brasil daqui e outro lá de fora. Um exemplo é o fato de darmos nomes de lugares e pessoas relacionadas ao exterior aos nossos edifícios. É como se o entorno de onde vivemos não fizesse parte do nosso mundo. O desafio está justamente em como fazer os Brasis caminharem juntos. Era o desafio de tempos atrás e continua sendo o desafio atual."

Risco

Para o escritor, que trabalha a história de forma diferenciada, por um viés inusitado, o grande risco está em desenvolver um livro de história ou mesmo textos jornalísticos que não tragam apenas o viés do entretenimento e que não aprofunda demais, a ponto de excluir leitores leigos. "Nosso desafio está exatamente em encontrar o meio-termo. Como ampliar, sem ficar na superfície e sem aprofundar a ponto de não sermos compreendidos?", questiona.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken