Filmes juizforanos são selecionados para a Mostra de Tiradentes 

Três dos quatro diretores são estreantes em seus gêneros. Dois filmes foram selecionados para a Mostra Cena Mineira

Bruno Caniato
*Colaboração
5/01/2017


Entre os dias 20 e 28 de janeiro, ocorre a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Entre os 72 curta-metragens selecionados para exibição no maior festival de cinema brasileiro contemporâneo, figuram três produções juizforanas, um curta de ficção e dois documentários: "A Fita", de Lucian Fernandes e Thaíz Araújo; "Primeiro Ensaio", de Daniel Couto; e "Feminino", de Carolina Queiroz.

As temáticas dos curtas variam bastante, explorando tanto o roteiro e a narrativa quanto o próprio fazer cinematográfico. Contudo, a inovação e a exploração de novos gêneros são características marcantes não só dos filmes, mas dos próprios cineastas: "A Fita", por exemplo, é o primeiro curta dirigido por Lucian Fernandes, em parceria com a já experiente diretora Thaíz Araújo. Daniel Couto e Carolina Queiroz, por outro lado, possuem ampla experiência com produção audiovisual, mas se aventuraram pela primeira vez na direção de documentários.

A Fita

Dirigido por Thaís Araújo e Lucian Fernandes, o curta-metragem de ficção "A Fita" será exibido na Mostra Regional do festival. A narrativa é situada em março de 1996, mês do acidente aéreo com os Mamonas Assassinas, e se desenvolve em torno de Pedro, um adolescente que explora a produção audiovisual usando a recém-adquirida filmadora VHS da família. O curta marcou a primeira direção de Lucian e teve um processo de produção de 8 meses, desde a pré-produção até a finalização.

"O filme não se encaixa em um gênero muito especifico", comenta Lucian. "Podemos brincar chamando de conflito adolescente, mas no caso acho que dizer que é ficção ja é o suficiente". "A Fita" foi exibido em festivais como o Primeiro Plano, de Juiz de Fora, e no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. "Conseguir entrar num festival como o de Tiradentes é muito satisfatório. É uma resposta ao empenho de todos os envolvidos, desde a equipe e elenco até os amigos que torciam pelo filme", comemora o diretor.

Primeiro Ensaio

"Primeiro Ensaio" é o primeiro documentário dirigido por Daniel Couto, proprietário de uma produtora audiovisual de Juiz de Fora, e foi selecionado para a Mostra Cena Mineira. A estreia no gênero, segundo Daniel, foi motivada por interesse pessoal e por estudos na área. "Sempre trabalhei com ficção. Minha praia no documentário é mais estudar, assistir... talvez por isso tenha optado em ensaiar alguma coisa dentro do gênero", conta.

O curta de cerca de 5 minutos é um documentário auto-referente que brinca com os clichês do gênero documentário. As filmagens foram realizadas no bairro Poço Rico, e todo o processo de produção durou menos de dez dias, de acordo com Daniel. "A ideia foi concebida alguns meses após iniciar meu mestrado em cinema, onde estudo justamente documentários", relata. "Estava muito frustrado em estar estudando várias coisas novas e não conseguir colocar nenhuma ideia em prática. Daí surgiu o filme: um filme sobre não conseguir fazer um filme".

O diretor celebra ter sido escolhido para o festival e ressalta que a cena do cinema juizforano está em crescimento. "Poder estar presente no festival que abre o calendário de festivais do país é muito gratificante", declara. "Ano passado, Juiz de Fora foi a cidade que mais aprovou filmes para o festival. Tem muita coisa boa aqui sendo produzida e 'exportada', e acho que o município poderia abrir os olhos e ajudar com outros mecanismos além da Lei Murilo Mendes", opina.

Feminino

"Como a performatividade de uma drag queen é capaz de nos mostrar que, no fundo, não existe a natureza do feminino além dos atos, gestos e signos?". Esta é a reflexão central trazida pelo documentário LGBT "Feminino", da diretora e estudante Carolina Queiroz. Através de relatos e filmagens de Nino, drag queen juizforana, o curta explora questões de gênero e teoria queer. "Comecei a desbravar o tema a partir do meu local de fala, como eu me vejo como mulher e como enxergo os limites de gênero", explica a diretora. "Sempre gostei de trabalhar com o Nino, não foi a primeira vez que filmei ele, então foi espontânea a decisão de usar ele como tema".

Carolina já trabalhou em vídeos como diretora de arte, mas considera "Feminino" seu primeiro documentário e curta-metragem. Assim como "Primeiro Ensaio", a proposta original também foi concebida a partir da sala de aula. "A proposta de fazer um documentário surgiu na aula. No início, procurei por um tema que fosse facilitar a fotografia, queria um cenário interessante, e comecei a buscar pela estética", explica Carolina.

Após um longo processo de produção que começou em 2015 e só terminou em 2016, o curta foi exibido no festival Primeiro Plano e em eventos internacionais, como o britânico Fringe e o mexicano Allucinema Fest. Em Tiradentes, "Feminino" foi selecionado para a Mostra Cena Mineira. "É muito bom ver o trabalho da gente sendo reconhecido", comemora. "Entrei em festivais mais locais e outros mais voltados para a temática queer, então, num festival em que concorre tanta coisa diferente, ser selecionada é bem gratificante."

*Bruno Caniato é estudante do 10º período de Jornalismo da UFJF

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