Mais um ponto na carreira de Woody Allen Desencontros e cinismo no amor em "Match Point", novo filme do diretor americano, entra em cartaz em Juiz de Fora

Marcelo Miranda
Rep?rter
17/03/2006
Tem quem tor?a o nariz, tem quem idolatre. Mas qualquer um que se arrisque a ver nunca sai indiferente de um filme de Woody Allen. Dos mais simples e inofensivos (como o recente "Igual a Tudo na Vida") aos complexos e densos ("Interiores", "Crimes e Pecados"), os trabalhos dirigidos pelo diretor americano mexem com as emo?es do p?blico de alguma forma - seja atrav?s da com?dia rasgada ("O Dorminhoco") ao humor e drama de relacionamentos amorosos ("Noivo Neur?tico, Noiva Nervosa").

Estreou, em Juiz de Fora, o mais recente filme do cineasta. "Ponto Final - Match Point" ? sua 35? obra em 36 anos de carreira - o que d? quase um filme por ano. Desta vez, Allen foge da com?dia de situa?es, caminho tra?ado por ele nos ?ltimos tempos, para entrar no territ?rio do drama e da trag?dia. N?o deixa de tratar de rela?es humanas, tema central de todo o seu cinema, mas o faz com mais acidez, cinismo e poucas concess?es.

"O Woody Allen ? um cineasta odiado e amado ao mesmo tempo. Ele possui realmente momentos muito bons e outros nem t?o inspirados", diz Carlos Pernisa Junior, professor na UFJF e membro do grupo Luzes da Cidade. "Algumas obras variam quest?es de cunho pessoal e particular, que remetem ? pr?pria realidade do espectador, enquanto outras fantasiam mais e tratam de temas espec?ficos nem sempre focados em algum tipo de realismo", explica o professor.

Para o primeiro caso, ele exemplifica com "Hannah e Suas Irm?s" e "Noivo Neur?tico, Noiva Nervosa"; j? no segundo, cita "Tiros na Brodway", "O Escorpi?o de Jade" e "Zelig". Pernisa (foto ao lado) tem como um dos preferidos na carreira de Allen "Sonhos de um Sedutor", mas n?o curte a incurs?o do cineasta no musical em "Todos Dizem Eu Te Amo". "Tem alguns filmes em que ele se repete demais tamb?m, como diretor e ator, o que pode cansar ?s vezes. Mas h? ocasi?es em que ele prefere ousar mais e at? ficar fora de cena, apenas dirigindo", completa.

"Match Point" seria um caso de ousadia. Allen sai da Nova York que tanto o marca (sendo a obra-prima "Manhattan" quase o ?pice dessa sua rela??o com a cidade) e filma em Londres a hist?ria de um ex-tenista que, de casamento marcado, se apaixona e tem envolvimento com a noiva do cunhado. ? o primeiro filme em que o diretor trabalha com aquela que ele elegeu como nova musa: Scarlett Johansson, atriz de "Encontros e Desencontros", "Mo?a com Brinco de P?rola" e "A Ilha", que toma um posto dado a Diane Keaton e Mia Farrow em produ?es anteriores do cineasta dos anos 70 e 80 - a de mulher-fetice que enlouquece o protagonista.

Allen continua seguindo em "Match Point" algumas de suas caracter?sticas de produ??o: baixo or?amento (gastou aqui U$ 15 milh?es, num mercado de cinema em que os valores chegam a passar de U$ 50 milh?es), filmagem em loca?es e elenco grande - mas diferente de em outras ocasi?es, agora ele se utiliza de atores menos badalados. Al?m de Johansson, participam Jonathan Rhys-Meyers e Brian Cox. O restante n?o tem cara conhecida pelo p?blico.

E em todas as frentes, Woody Allen parece ter acertado, depois dos mal recebidos "Igual a Tudo na Vida" e "Melinda e Melinda". Recordista em indica?es a melhor roteiro original no Oscar (foram 14 vezes nos 78 anos de pr?mio), o diretor n?o concorria desde 1998, quando esteve na premia??o com "Desconstruindo Harry". Em 2006, "Match Point" cravou a indica??o - ali?s, a ?nica do filme, perdida para "Crash - No Limite".

Al?m disso, o filme abriu o ?ltimo Festival de Cannes, na Fran?a, em maio de 2005, e desde ent?o colheu cr?ticas excepcionais e bilheteria razo?vel. At? mesmo no Brasil, onde seus filmes t?m certa dificuldade de atingir o p?blico, "Match Point" vem tendo uma bem-sucedida passagem pelo circuito comercial de cinemas. Aos 70 anos, Allen ainda parece ter muito a dizer e saber como transmitir isso aos espectadores.