"Trabalho volunt?rio ? uma li??o de vida" Professor de viol?o acredita que a m?sica pode ser
um caminho para mudar o mundo

Marinella Souza
*Colabora??o
26/05/2008

O m?sico Marcos Ramos nasceu no interior do Rio de Janeiro, cresceu na Baixada Fluminense, se profissionalizou no interior de S?o Paulo e se encontrou em Juiz de Fora, atrav?s do trabalho volunt?rio.

Filho de pais nordestinos, Marcos cresceu com variados instrumentos musicais espalhados pela casa e desde cedo se envolveu com a m?sica. Aos nove anos, ele e o primo, de dez anos j? se arriscavam em apresenta?es em bares do bairro onde moravam. Nessa ?poca, Marcos apostava na voz grave como instrumento de trabalho.

O m?sico conta que sempre quis desenvolver um trabalho social, mas n?o sabia como fazer isso, at? que, em Juiz de Fora, uns amigos lhe falaram da Associa??o Beneficente e Cultural Amigos do noivo e, h? tr?s meses, decidiu conhecer o local.

Chegando l?, viu que existia um projeto cultural que desenvolvia aulas de dan?a, teatro, capoeira,artesanato mas n?o havia um professor que ensinasse viol?o ?s crian?as. Ele se disp?s a fazer isso e a proposta foi aceita de imediato.

foto de Marcos abra?ando o viol?o "Acho que eu apareci na hora certa e no lugar certo. J? no primeiro dia um aluno se interessou. Chegamos a ter cinco crian?as, mas o viol?o ? um instrumento dif?cil e algumas desistiram. Hoje tenho dois alunos que est?o desde o in?cio e um que acabou de entrar e tem sido muito bacana", conta.

Marcos explica que seu projeto se baseia em ensinar m?sica atrav?s dos acordes da MPB. "A MPB tem dois p?los: algumas composi?es s?o extremamente f?ceis, outras, no entanto, s?o muito complexas. Eu procuro trabalhar os acordes mais f?ceis, porque o curso ? para iniciantes e o resultado tem sido muito bacana".

Resultados

Em pouco tempo, os meninos j? conseguiram compor um riff, que ? uma seq??ncia de acordes, uma poesia e j? tiraram uma m?sica sozinhos,o que deixa o professor muito orgulhoso. "Quem conhece m?sica sabe que isso n?o ? f?cil. Os garotos est?o progredindo muito r?pido e isso me deixa muito feliz. Procuro incentiv?-los a n?o se limitarem ao que eu ensino em sala de aula e eles seguiram isso. Juntos, eles estudam, trabalham suas defici?ncias t?cnicas, se ajudam e aprendem bastante. Outro dia eles tocaram um pagode que aprenderam sozinhos", orgulha-se.

Meninos tocando viol?o H? pouco tempo, os alunos de Marcos fizeram uma apresenta??o na institui??o para um grupo que veio de Volta Redonda fazer uma oficina e, o resultado n?o poderia ser melhor, segundo o professor. Sem nenhum recurso t?cnico, fazendo o que os m?sicos chamam de "apresenta??o ? capela", os meninos tocaram e cantaram cinco m?sicas, encantando os convidados.

Al?m disso, o professor j? pode perceber uma mudan?a no gosto musical dos seus meninos. "Quando eu cheguei eles disseram que adoravam pagode e n?o gostaram muito quando eu disse que iria ensinar MPB. Hoje eles tocam as m?sicas e admitem que est?o gostando do que est?o ouvindo. Outro dia um deles me disse: 'n?o acredito que vou acabar gostando disso'", relembra.

Para Marcos, essa ? uma grande conquista. "? muito bacana ver o resultado do meu trabalho no semblante deles. D? para ver que eles est?o gostando do que est?o aprendendo, que para eles aquele ? um momento especial", comenta.

"O grande espet?culo da minha vida!"

O m?sico revela que o trabalho volunt?rio foi uma grande surpresa na sua vida e teve um efeito inesperado. "Apesar de sempre querer ajudar o pr?ximo atrav?s da ?rea que eu gosto, n?o imaginava que iria me emocionar tanto", admite.

Marcos conta que no dia da primeira apresenta??o ele estava t?o ou mais nervoso que os meninos. "Era como se eu estivesse tocando! Queria que tudo desse certo porque era muito importante para eles". Quando os viu tocar t?o direitinho o m?sico teve a certeza de que estava no caminho certo.

Marcos tocando viol?o "Esse trabalho, sem d?vida, ? o grande espet?culo da minha vida. V?-los tocar me provoca a mesma emo??o indescrit?vel que senti quando estive no palco pela primeira vez. Voc? n?o sabe o que ? e v? aquela gente toda... ? muito bom".

Ele acredita que aprende muito mais do que ensina. "A gente n?o imagina o quanto essas crian?as d?o valor ao que estamos fazendo. Com eles, descobri que posso ajudar muito mais do que imaginava".

Ele comenta que ? uma grande li??o de vida saber que pode ajudar uma crian?a atrav?s da m?sica. "Com a m?sica, crian?as que poderiam se desviar para a criminalidade t?m a oportunidade de aprender uma coisa melhor, aprofundar seu aprendizado cultural" , diz.

Expectativas

Marcos revela que est? preparando seus alunos para apresenta?es em outras institui?es e tamb?m no encontro nacional de institui?es que acontece todos os anos e, em 2008, vai ser em Natal. "Esse encontro vai ser uma chance deles mostrarem sua cara e tamb?m de a Aban ter seu nome divulgado".

Marcos e seus alunos Ele ressalta que pretende mudar a vida dessas crian?as, estimul?-las a trabalharem pelo seu futuro. "Eles t?m muito talento, est?o aprendendo mais r?pido do que eu imaginava e podem ser grandes m?sicos se estudarem para isso", destaca.

Marcos acredita que, apesar de clich?, o futuro do pa?s est? nas nossas m?os. Basta que cada um tenha a boa vontade e a iniciativa para ajudar. "O Brasil precisa de educa??o para ser transformado. Eu acredito que posso educar atrav?s do meu trabalho, porque essas crian?as acabam me tomando como refer?ncia, ficam atentas ao que eu falo, na maneira como me comporto. Tenho um compromisso com eles", diz.

Ao mesmo tempo em que ensina os acordes da MPB para seus alunos, Marcos conversa com eles, apresenta-lhes o que a m?sica brasileira tem de melhor, instiga a curiosidade dos pequenos. "N?o quero dar tudo de m?o beijada para eles. Todo conhecimento tem seu caminho mais ?spero, eles t?m que aprender a fazer", declara.

Para o futuro, Marcos pretende dar continuidade ao projeto, faz?-lo crescer, conseguir mais apoio porque se conseguir conquistar a curiosidade de mais crian?as, pode ser que n?o tenha instrumentos para todas. "Eu acredito que ? medida que as outras crian?as forem vendo o desenvolvimento dessa turminha v?o acabar se interessando mais. N?s ganhamos alguns instrumentos, mas ainda ? dif?cil fazer com que as pessoas nos ajudem", lamenta.

Maravilhado com os efeitos que o trabalho volunt?rio fez em sua vida, Marcos tem outros projetos sociais em andamento e afirma que esse ? o caminho para conseguirmos as transforma?es de que precisamos.

*Marinella Souza ? estudante de Comunica??o Social da UFJF


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