BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (18) que não aceitaria ser mantido no comando da autarquia após 2024, quando termina o seu primeiro mandato.

"Acho que a recondução não é saudável, ela cria uma fragilidade no meio do mandato porque vai ter um presidente do Banco Central que vai estar interessado em ser reconduzido e fica exposto, naquele momento, à vontade do Executivo", disse ele em evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo.

Campos Neto, que ocupa o cargo desde 2019, diz ter sido contra a possibilidade de recondução quando foi desenhada a lei de autonomia do BC, em vigor desde 2021. "Se tivesse dependido somente de mim, não teria recondução na lei de autonomia", destacou.

A lei determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores da autarquia, que podem ser renovados apenas uma vez e não são coincidentes com o do presidente da República.

No mesmo evento, Campos Neto disse que o BC revisará a sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022. Segundo ele, a atual estimativa está em um patamar "um pouquinho acima de 2%".

"Os indicadores de tempo real têm saído melhores. A gente qualifica que tenha alguns efeitos que são efeitos temporários das medidas do governo, mas é importante olhar um pouco o que é o crescimento para frente. A gente vê a indústria, que está um pouco parada ainda, abaixo do nível pré-pandemia e os outros setores acima, com serviços recuperando de forma mais forte", acrescentou.

Em julho, o Ministério da Economia já havia elevado de 1,5% para 2% a projeção para o crescimento do PIB do país em 2022. O mercado, por sua vez, convergiu ao valor esperado pela equipe econômica do governo nesta semana, de acordo com o boletim Focus divulgado na última segunda-feira (15).

Quanto à inflação, Campos Neto afirmou que o setor de energia continua pressionado no cenário global, mas que, no Brasil, [a inflação de energia] voltou bastante com as medidas de corte de impostos adotadas pelo governo.

Em junho, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a lei que fixa o teto de 17% a 18% para as alíquotas de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, energia elétrica, transporte e telecomunicações. Com o impacto da redução sobre esses itens, o Brasil teve deflação (queda de preços) de 0,68% em julho, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O presidente do BC disse ainda que há o entendimento dos agentes de que o trabalho da autarquia foi "em grande parte" feito no combate à inflação. Segundo ele, o Brasil é um dos poucos países em que o mercado já precifica queda de juros.

No início de agosto, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano, e disse que avaliará a necessidade de uma nova alta de menor magnitude no próximo encontro.

No último comunicado, o BC optou por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses até o primeiro trimestre de 2024, de forma a suavizar os efeitos diretos das medidas tributárias implementadas.

Campos Neto disse nesta quinta que esse modelo de análise é temporário, dado o cenário de incerteza, e não muda o alvo da autoridade monetária. "A gente está falando sobre horizonte relevante e não sobre meta de inflação", ressaltou.

"Obviamente não é permanente, é temporário. À medida que isso se ajuste, a gente volta a trabalhar na forma em que a gente sempre trabalhou", continuou.

Para o presidente do BC, existe ainda alguma incerteza em relação ao caráter temporário de algumas medidas aprovadas. Ele também voltou a dizer que há preocupação com a situação fiscal do país.

"Existe uma preocupação com prorrogação das medidas e na forma como será prorrogada. Acho cedo para falar disso, há um debate ainda em curso sobre como isso vai ser financiado", disse.

Campos Neto considera que o próximo presidente eleito ao Palácio do Planalto terá "um desafio imediato grande de olhar para o social e ao mesmo tempo olhar para a estabilidade da dívida [pública]".

Segundo ele, ao olhar para o passado, o problema parece se repetir no país. "Se a gente pegar atas de quatro anos para trás, o Brasil sempre fala sobre o fiscal. O fiscal sempre está em perigo. Quando resgato material do passado, parece que é um 'flashback', sempre tem algum problema de fiscal", comentou.


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