BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal cumpre nesta terça-feira (23) mandados de busca contra empresários que, em um grupo de mensagens privadas, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Lula (PT) vença Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro.
Além das buscas, o ministro Alexandre de Moraes também autorizou que os empresários sejam ouvidos pela PF e o bloqueio de suas respectivas redes sociais.
Entre os alvos estão Luciano Hang, da Havan, José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, do Barra World Shopping, André Tissot, do Grupo Sierra, Meyer Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, e Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu.
As conversas entre os empresários foram reveladas pelo site Metrópoles.
As buscas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e têm como base um pedido da Polícia Federal, no âmbito do inquérito das milícias digitais, que mira uma suposta organização criminosa responsável pela disseminação de fake news e ataque às instituições.
Moraes também autorizou o bloqueio de contas nas redes sociais e quebras de sigilos bancário e telemático dos alvos. Os mandados são cumpridos por agentes da PF no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
Em uma das mensagens reveladas pelo portal, o empresário José Koury diz preferir um golpe à volta do PT e que "ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil" caso o país vire uma ditadura.
André Tissot, do grupo Sierra, em outra postagem disse que "o golpe teria que te acontecido nos primeiros dias de governo. "[Em] 2019 teríamos ganhado outros dez anos a mais", afirmou.
Koury, segundo o Metrópoles, também chegou a sugerir o pagamento de bônus a funcionários que votassem seguindo a indicação dos empresários. A possibilidade foi alvo de comentário de Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, que lembrou a possibilidade de a proposta configurar compra de votos.
No pedido, a PF indica que as buscas têm como objetivo entender a atuação do grupo de empresários em uma possível tentativa de planejar e apoiar ações no sentido de ruptura do Estado democrático Direito.
O crime é previsto no artigo 359-L no Código Processo Penal. "Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais", diz trecho do artigo citado pela PF.
No início da tarde desta terça, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, elogiou a decisão de Moraes. "Acho que foi uma decisão firme e importante. O TSE tem que tomar as providências em relação a isso. Afinal, uma conspiração de pessoas desse nível atenta contra a democracia e as instituições."
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi questionado sobre o tema, mas afirmou que não tinha notícias sobre a operação da Polícia Federal contra empresários bolsonaristas. Pacheco, no entanto, afirmou que a defesa de retrocessos democráticos é uma traição ao país.
"Acho que qualquer pessoa, independente de ser empresário, famoso ou não, conhecido ou não, acho que toda pessoa que prega retrocessos democráticos, atos institucionais, volta da ditadura, está redondamente equivocado, é um desserviço ao país, é uma traição. Isso obviamente precisa ser rechaçado e repudiado com toda a veemência pelas instituições", afirmou.
EMPRESÁRIOS NEGARAM INTENÇÃO GOLPISTA
Após a divulgação das mensagens que defendiam um golpe, Luciano Hang, dono da Havan, confirmou ao jornal Folha de S.Paulo que integra o grupo, mas disse que quase nunca se manifesta e em momento algum falou sobre os Poderes.
"Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história", disse Hang à Folha de S.Paulo. "Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso."
Questionada sobre as manifestações do fundador no grupo de empresários, a assessoria da Tecnisa informou que a companhia "não fala em nome de Meyer Nigri" e que ele "não é porta-voz da empresa".
"A Tecnisa é uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial", informou, por meio de nota.
Afrânio Barreira, do grupo Coco Bambu, divulgou nota na qual afirma que nunca se manifestou a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Acrescenta que ações que visem a romper com a democracia não correspondem ao seu pensamento e posicionamento.
"A democracia é a chave para construção de um Brasil melhor. Valorizo, e muito, a oportunidade de conseguir votar e escolher os representantes de nosso povo brasileiro, e todo cidadão deveria ter a consciência da importância deste momento."
"Valorizo e sempre defenderei um processo eleitoral honesto e justo", afirmou o empresário, que acrescenta muitas vezes se manifestar com reações em emojis a alguma mensagem, mas sem necessariamente estar endossando seu teor, ou ter lido todo o seu conteúdo.
"Não somos conspiradores nem a favor de nenhum golpe", disse o empresário José Koury, por meio de nota encaminhada por sua equipe de comunicação.
"As mensagens obtidas em um grupo privado de amigos do WhatsApp foram deturpadas em seu sentido e contexto." Ainda segundo ele, os empresários são contra qualquer tipo de ditadura. Ele também disse que não comentaria mais sobre o assunto.
A preocupação com investidas frequentes de grupos bolsonaristas contra a democracia levou entidades empresariais e da sociedade civil, políticos e cidadãos a endossarem cartas em defesa do Estado de Direito democrático no Brasil.
Ao Metrópoles alguns empresários também se manifestaram negando que defendem um golpe de Estado ou que apoiam atos que sejam ilegítimos, ilegais ou violentos.
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