BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Menos de duas semanas após suspender encontros com empresários em meio às manifestações pró-democracia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca apoio do segmento com ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na área econômica e tentando colar no rival a imagem de alguém que levará o país a crises.
Em almoço na terça-feira (23), Bolsonaro afirmou que o adversário não será um "Lulinha paz e amor" em um novo mandato e pode transformar o país em uma nova Venezuela. A retórica foi usada diante de uma plateia de aproximadamente 40 integrantes do grupo Esfera, que reúne empresários de diferentes setores.
Na ocasião, Bolsonaro buscou contrastar as críticas ao adversário com um otimismo sobre o cenário econômico ligado a medidas de seu governo. Segundo relatos, o presidente disse que os preços de combustíveis e do gás de cozinha vão cair ainda mais nos próximos 40 dias.
Estiveram presentes no encontro, por exemplo, Flávio Rocha, dono da Riachuelo; André Esteves, presidente do BTG; Luiz Carlos Trabuco, ex-presidente do Bradesco; e Isaac Sidney, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
O evento teve dois momentos: um privado, com cerca de dez pessoas, e um maior, com os demais. Em uma de suas falas, relatada reservadamente à reportagem por participantes, Bolsonaro pediu que os empresários percebessem o que estaria ocorrendo nos países vizinhos Argentina, Venezuela, Colômbia e Chile.
Com exceção do caso venezuelano (uma ditadura, sem alternância de poder), presidentes alinhados à esquerda voltaram a comandar recentemente esses países. As nações vizinhas também passam por crises na economia ?e o bolsonarismo usa isso como ilustração para o que poderia ocorrer no Brasil numa eventual vitória de petistas.
"É isso que vocês querem?, questionou Bolsonaro. "Pensa bem. O Lula que está voltando não é o ?Lulinha paz e amor?", disse.
O termo "Lulinha paz e amor" é uma referência à postura mais moderada que o petista adotou em 2002 para diminuir a resistência do mercado financeiro e ampliar arco de alianças políticas tradicionais. A estratégia levou o petista ao Palácio do Planalto após três derrotas. Agora, 20 anos depois, ele disputa o mesmo cargo contra Bolsonaro.
Se mostrando otimista e tranquilo, segundo presentes, o chefe do Executivo disse que pesquisas internas mostrariam ele atrás do petista dentro da margem de erro.
CIRO NOGUEIRA FALA EM VOLTA DE NEGOCIATAS COM PARLAMENTARES
Para tentar conquistar os empresários, o presidente levou ainda três dos seus principais ministros ?Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicações) e Ciro Nogueira (Casa Civil).
Um dos principais articuladores do governo no Congresso e dirigente do centrão, Ciro Nogueira sugeriu que uma volta de Lula poderia levar o PT a fazer negociatas com parlamentares em busca de apoio ?enquanto Bolsonaro já teria uma base formada.
Nogueira fez um cálculo de que a esquerda deve eleger 150 dos 513 deputados, enquanto o restante deve ter um perfil governista. "Alguns podem dizer ?essa base vai ser cooptada? [se o PT ganhar]. Cooptada como? Entregando estatais, os ministérios de porteira fechada, como víamos no passado. Acho que isso seria um retrocesso muito grande", afirmou.
"Nós precisamos de base política e hoje temos essa base". Ele afirmou que, hoje, o Brasil vive um regime presidencialista com Constituição "totalmente parlamentarista".
O ministro foi aliado dos governos petistas no passado e assumiu a mais importante pasta de Bolsonaro em 2021. Sua chegada ao Planalto selou aliança do presidente com o centrão, que tanto criticou em 2018.
O almoço de Bolsonaro e ministros com empresários seria, inicialmente, um jantar no mesmo dia do manifesto à democracia feito neste mês.
A carta em defesa do Estado democrático de Direito foi assinada por nomes como os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles e lida na USP (Universidade de São Paulo) em um ato da sociedade civil, no último dia 11.
O encontro acabou sendo adiado após a campanha entender que o risco à imagem do chefe do Executivo poderia ser ainda maior com a agenda mantida. O encontro do grupo Esfera ocorre a seis semanas da disputa eleitoral. De acordo com o último Datafolha, Bolsonaro avançou, mas segue 15 pontos atrás de Lula em intenções de voto.
Ao final do evento, o anfitrião João Camargo, presidente do grupo Esfera, fez um desagravo a dois alvos da operação da Polícia Federal contra bolsonaristas no mesmo dia ? também criticada por Bolsonaro no encontro, como mostrou a coluna Mônica Bergamo.
Ao elogiar José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan, Meyer Nigri, da Tecnisa, apoiadores do presidente, Camargo arrancou aplausos dos presentes.
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