SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que seu governo não seguirá a mesma política econômica da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em entrevista ao Jornal Nacional na noite desta quinta (25).
O petista afirmou que Dilma é competente e foi importante na Casa Civil, mas, na Presidência, errou ao segurar o preço dos combustíveis e ao conceder desonerações da folha de pagamentos e isenções de impostos.
Mas, de acordo com o ex-presidente, sua sucessora tentou reverter os erros e foi impedida pelo Congresso.
Questionado sobre como enfrentar as perspectivas de um ano difícil para a economia em 2023, com as contas públicas comprometidas, ele afirmou que já passou por situação semelhante em sua primeira eleição.
"Meus economistas diziam que o Brasil estava quebrado. Peguei o país com mais de 10% de inflação, desemprego de 12%, devendo ao FMI. Reduzimos a inflação para a meta durante todo o meu período, a dívida pública caiu de mais de 60% para 39% do PIB, tínhamos reserva e ainda emprestamos para o FMI."
LULA DIZ QUE AGRONEGÓCIO BOLSONARISTA É CONTRA PROTEÇÃO AMBIENTAL
O candidato petista afirmou que o atual apoio de parcela expressiva do agronegócio ao presidente Bolsonaro se deve às políticas de defesa da Amazônia, do Pantanal e da Mata Atlântica e ao controle do desmatamento.
"Esse é o agronegócio fascista e direitista. O empresário sério, que exporta, quer preservar", afirmou.
Lula disse também que fazendeiros não têm motivo para temer invasões do MST. "O MST está fazendo uma coisa extraordinária hoje, que é cuidar de produzir. O MST de 30 anos atrás não existe mais", disse.
O petista também criticou a política de facilitar a compra de armas por produtores rurais. "Nós queremos pacificar o país. O Brasil pode ter tanto o grande quanto o pequeno produtor."
O candidato afirmou ainda que pretende deslanchar um grande plano de investimento em infraestrutura e recuperar obras paradas: "Este país vai andar".
Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno com 15 pontos à frente do presidente Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição. O ex-presidente tem 47% dos votos, ante 32% do atual titular do Planalto, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada no dia 18.
A entrevista não tratou de questões econômicas que aparecem como divergências marcantes entre Lula e seu principal concorrente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição.
Há consenso entre os principais candidatos de que é necessário criar regras para dar mais proteção aos trabalhadores por aplicativos, mas divergência sobre o futuro da reforma trabalhista, feita em 2017, na gestão do então presidente Michel Temer (MDB).
Apoiado pelas principais centrais sindicais do país, Lula propõe em seu programa revogar parte das alterações feitas na época. A ideia é formar uma mesa de negociação entre governo, trabalhadores e empresários para formular uma nova legislação. O PT quer também ampliar a negociação coletiva, mediada por sindicatos.
Já a campanha de Bolsonaro sinaliza a continuidade das políticas nessa área, defendendo a reforma de 2017. O ministro Paulo Guedes (Economia) ainda não desistiu do projeto de lançar uma nova forma de contrato de trabalho que flexibiliza certos direitos dos empregados (como recolhimento do FGTS) para, em troca, tentar ampliar a formalização.
Em relação às privatizações, a proposta petista é fortalecer as estatais. No caso mais impactante, o da Petrobras, o programa é ampliar os investimentos em tecnologia e pesquisa na Petrobras, afirmou o professor da Unicamp Guilherme Mello, um dos responsáveis pela elaboração do programa econômico de Lula.
O ex-presidente já deu declarações contra a venda da Eletrobras, mas a campanha tem mudado o tom nas últimas semanas. Uma ala do partido tem dito ser muito difícil reverter a privatização --mas entende que, apesar do processo de venda, o governo continuará como maior acionista da empresa e exercerá certa influência.
Guedes, ministro Bolsonaro, quer manter a agenda de privatizações. O candidato à reeleição ignorou o futuro da Petrobras no plano de governo, mas já se mostrou ser favorável à operação.
As perspectivas para a economia do país também têm sido assunto central em reuniões dos dois líderes de intenção de voto com empresários e executivos, mas com sinais opostos.
Bolsonaro tenta colar no rival a imagem de alguém que levará o país a crises. Em almoço na terça, o presidente afirmou que o adversário pode transformar o país em uma nova Venezuela.
Ele também promoveu medidas de seu governo e fez previsões otimistas. Segundo relatos, o presidente disse que os preços de combustíveis e do gás de cozinha vão cair ainda mais nos próximos 40 dias.
Já Lula, em suas reuniões com empresários, tem buscado passar mensagem oposta à que Bolsonaro tenta colar nele.
Segundo pessoas presentes em mais de um encontro com empresários e o ex-presidente, Lula costuma dizer que, caso eleito, conduzirá um governo que terá previsibilidade e credibilidade e que isso abrirá caminho para o país receber investimentos.
Afirma ainda que fará uma gestão participativa e que ouvirá diversos segmentos na tomada de decisões.
O Jornal Nacional entrevistou nesta semana os candidatos Jair Bolsonaro (PL), na segunda, e Ciro Gomes (PDT), na terça. Nesta sexta (26) será feita a última entrevista, com Simone Tebet (PMDB).
Os quatro candidatos com maior intenção de votos nas pesquisas devem participar de debate neste domingo (28), organizado pela Band em pool com Folha de S.Paulo, UOL e TV Cultura.
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