SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro Paulo Guedes, da Economia, repetiu nesta sexta-feira (26) em palestra no Rio Grande do Sul as metáforas que tem usado para comparar a situação econômica do Brasil com a do resto do mundo.
"O Brasil está voltando da clínica de reabilitação quando está acabando o baile funk, [são] 3 da manhã, todo mundo [está] bêbado e a polícia chegou", disse. "O mundo está nessa situação depois de 20, 30 anos de ganhos da globalização, agora começa o refluxo."
De acordo com ele, enquanto países europeus e os Estados Unidos enfrentam turbulências pelo rompimento das cadeias de abastecimento durante a pandemia e pelo que chamou de refluxo da globalização, o Brasil está pronto para avançar no sentido contrário.
Segundo o ministro da economia, o Brasil está "limpinho" e cresce 2,5% somente porque os juros ainda estão elevados.
Paulo Guedes participou de um evento organizado pela Aclame (Associação da Classe Média), em Porto Alegre (RS).
Por cerca de uma hora e meia, defendeu a agenda econômica do atual governo ?disse que conseguiu aprovar reformas, como a da Previdência, e a Lei da Liberdade Econômica, e marcos legais do setor de infraestrutura? e tentou explicar sua posição sobre a reeleição.
"Continuo contra a reeleição. Agora, se tivesse um Lula, uma Dilma e um Fernando Henrique, um Bolsonaro, dava. Mas com duas Dilmas, dois Lulas e dois Fernando Henrique, precisa de dois Bolsonaro", disse, em referência aos mandatos duplos dos presidentes anteriores.
Aos empresários que assistiam a palestra, Guedes também defendeu as medidas recentes que buscavam reduzir o IPI (Imposto de Produtos Industrializados). O decreto publicado na quarta (24) foi a terceira tentativa do governo de cortar o imposto da indústria.
Medidas anteriores foram barradas por decisão do Supremo Tribunal Federal, que atendeu a pedidos que consideravam o corte um risco ao funcionamento da Zona Franca de Manaus (AM).
Na publicação mais recente, o que é produzido na Zona Franca fica blindado do corte de 35%, que atinge cerca de 4.000 produtos. "Tudo o que é feito lá [na Zona Franca] fica protegido", disse Guedes.
"Foi um bom deal [acordo, em inglês]. Estamos baixando um imposto de desindustrialização em massa." Segundo o ministro, a intenção da Economia é zerar o tributo gradualmente. A progressão no corte deve chegar também à tarifa de importação do Mercosul (que em julho aprovou uma redução de 10%).
"Vamos fazer uma integração competitiva da economia brasileira dentro da economia global, mas dentro agora de uma reconfiguração das cadeias produtivas." Segundo o ministro da Economia, houve uma mudança na maneira como o Brasil vem sendo tratado no exterior.
Sempre que "chegava lá", afirmou, era alvo de críticas ("eu ia com um escudinho e capacete, ia preparado para apanhar") pela condução da agenda ambiental do país ("vocês estão queimando florestas").
Agora, disse o ministro da Economia, o tratamento mudou porque, segundo ele, passado o choque da pandemia, ficou claro para o mundo que o "Brasil é a segurança energética para a Europa, e segurança alimentar para o mundo."
Guedes também voltou a cobrar nesta sexta a devolução de empréstimos pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Em junho, ele já havia dito que o banco tinha aplicado uma "rasteira" no governo para segurar o calendário de devoluções ao Tesouro Nacional.
"Ainda falta dar um pequeno passo, precisamos despedalar o BNDES. O BNDES está devendo uma pedalada para nós", disse. Ele fez elogios ao presidente da instituição, Gustavo Montezano, a quem chamou de extraordinário.
"Mas tem uma máquina e a máquina gosta de receber algumas vantagens."
A discordância entre a pasta e o banco já motivou a frustração no valor devolvido pelo banco em 2021. O governo esperava um repasse antecipado de R$ 100 bilhões, mas a instituição efetuou um pagamento menor, de R$ 63 bilhões.
Referente a 2021, como mostrou a Folha, o BNDES pagou, em média, R$ 108,1 mil a seus empregados por meio de seu programa de PLR (participação nos lucros e resultados).
"O BNDES ainda está nos devendo R$ 90 bilhões e a diretoria não queria assinar", disse Guedes, que atribui a hesitação a uma preocupação do BNDES com o Tribunal de Contas da União.
O ministro da Economia também criticou o que chamou de um bônus de R$ 100 mil para os funcionários. "Pode até pagar o bônus, mas tem que devolver o dinheiro."
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