BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem tentado capitalizar as notícias favoráveis na área econômica nos últimos dias em busca de votos a um mês das eleições. Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, ele tenta reduzir a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobretudo no eleitorado de baixa renda.
Nesta semana, o governo comemorou dados como o PIB (Produto Interno Bruto) maior que o esperado no segundo trimestre, a queda no desemprego, a alta do rendimento dos trabalhadores e uma nova rodada de corte no preço dos combustíveis anunciada pela Petrobras.
Ministros de Bolsonaro aproveitaram a onda de boas notícias para inundar as redes sociais com mensagens celebrando as divulgações, após o governo amargar um período negativo na economia, sobretudo a inflação elevada e resistente no primeiro semestre, puxada por alimentos e pelos seguidos aumentos nos preços de gasolina e diesel.
Um dos pontos de virada vem sendo o mercado de trabalho. A taxa de desemprego está em queda, após ter chegado a dois dígitos no início do ano. O rendimento médio real dos trabalhadores brasileiros, por sua vez, voltou a crescer, embora ainda esteja 2,9% menor no trimestre encerrado em julho na comparação com igual período do ano passado, segundo o IBGE.
Outra boa notícia para o governo foi o resultado o PIB, divulgado nesta quinta, que mostrou alta de 1,2% no segundo trimestre ?percentual que surpreendeu positivamente o mercado e levou a uma onda de revisões para cima do resultado de 2022.
Também nesta quinta, a Petrobras ?que vem intensificando os anúncios de corte de combustíveis, incluindo produtos cujos reajustes não eram divulgados amplamente? cortou o preço da gasolina em 7%. Bolsonaro postou o preço mais barato do combustível em suas redes sociais minutos depois.
Na mesma toada, Caixa anunciou nesta semana a ampliação do financiamento do programa habitacional Casa Verde e Amarela, e o Ministério da Cidadania prepara a inclusão de mais 804 mil famílias no Auxílio Brasil turbinado.
"Brasil crescendo acima das expectativas e superando países do G7 (OCDE). Inflação menor que EUA e Alemanha (IPCA). Desemprego caindo (Caged). Investimentos em alta (Banco Central)", afirmou Bolsonaro em rede social nesta quinta-feira (1º). "Contra fatos não há argumentos. Que comece o ?mas?", complementou, em referência às análises que ponderam os dados positivos.
O Ministério da Economia também comemorou os números. Após passar anos comentando o resultado do PIB apenas por meio de notas, a pasta decidiu convocar uma entrevista com jornalistas para que os técnicos pudessem exaltar os resultados.
"Se no segundo trimestre, com juro real no pico, a gente cresceu 1,2%, a economia tem robustez para crescer mais ainda quando esses fatores aliviarem", afirmou o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos, Rogério Boueri.
Os técnicos ainda minimizaram o impulso de medidas atípicas neste ano, como o saque extraordinário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ?que elevou o PIB em 0,09 ponto percentual nas contas do governo.
O ministro Paulo Guedes (Economia) fez coro ao discurso de exaltação à força da economia brasileira e repetiu nesta quinta que o país está "condenado a crescer".
"O que era uma previsão otimista para o ano inteiro, que era crescer 2%, já foi superada em seis meses", comemorou. "Se [o Brasil] não crescer nada daqui até o fim do ano, já tem, o que a gente chama de 'carry' [carrego], um crescimento de 2,4%", acrescentou.
O entusiasmo tem levado o governo a deixar de lado o temor de analistas sobre os riscos para as contas públicas em 2023, após a enxurrada de recursos liberados às vésperas das eleições para cortar impostos sobre combustíveis, aumentar benefícios sociais e criar auxílios para caminhoneiros e taxistas ?e que devem continuar em grande parte.
Guedes relativiza dizendo não haver "nenhuma bomba fiscal" para o ano que vem.
Juliana Damasceno, economista-sênior da Tendências Consultoria, avalia que as boas notícias estão sendo muito mais motivadas por um choque extraordinário de receitas, e que uma retirada da ajuda conjuntural seria penosa para a atividade econômica.
"As boas notícias são tão limitadas que, mesmo sem as bombas fiscais inseridas no Orçamento, há previsão de déficit para o ano que vem", diz ela, em referência ao rombo de R$ 63 bilhões previsto pelo governo para 2023 ?sem considerar uma possível elevação de R$ 400 para R$ 600 no Auxílio Brasil, como Bolsonaro promete.
"O Ministério da Economia e a SPE [Secretaria de Política Econômica] defendem que está havendo uma consolidação fiscal, quando na verdade não há esforço de fato nessa direção", diz ela.
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