SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Janaína Tifoski, 35, foi obrigada a aprender educação financeira de uma das maneiras mais dolorosas para uma mulher: após deixar o que ela vê como uma relação abusiva. Ela se casou jovem, aos 19 anos, com um homem quatro anos mais velho. Desse relacionamento teve quatro filhas, as duas primeiras fruto de gestações planejadas.

Mas o marido começou a beber demais e se mostrou extremamente ciumento, abusava dela física e psicologicamente, afirma Janaína. Sem sintomas, ela diz que só soube que estava grávida da terceira filha no nono mês de gestação. Depois de ter a criança, tentou a laqueadura pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas encontrou barreiras.

"Eles queriam que eu tivesse passado por pelo menos duas cesarianas para liberar o procedimento, mas tinha tido dois partos normais e uma cesárea", afirma.

Em meio a um relacionamento segundo Janaína cada vez mais conturbado, ela engravidou pela quarta vez. Na época, como professora de uma escola de educação infantil, ela respondia pelos gastos das filhas com educação ?as crianças recebiam bolsa de estudos, ela comprava uniforme, material escolar, alimentação.

"Mas nenhum de nós dois controlava os gastos. Não havia planejamento, sempre faltava dinheiro, a gente pegava empréstimo e se endividava cada vez mais", diz.

Até que a escola onde ela trabalhava fez um corte de pessoal e Janaína foi demitida. A filha mais nova tinha apenas 2 anos. E foi neste momento que ela decidiu que não iria depender de um marido alcoólatra e que não a respeitava, segundo Janaína.

"Eu o coloquei para fora de casa, troquei as fechaduras e pedi ajuda para os meus pais. Comecei a procurar cursos que ensinavam como lidar com dinheiro, precisava reconquistar minha autonomia, parar de gastar com supérfluos."

Hoje com 35 anos, ela se formou em pedagogia. Está casada pela segunda vez, com Alan, técnico em logística. Eles têm um filho de 3 anos. As filhas do primeiro casamento estão com 14, 13, 11 e 9 anos.

Diferentemente do primeiro companheiro, Alan ajudou Janaína a controlar o orçamento e a pensar no futuro, afirma ela.

"Ele gasta menos que eu, mas compra coisas mais caras. Ele avalia muito a qualidade, sabe que algo que custa mais hoje pode render melhor. Eu não tinha essa ideia clara na cabeça. Comprava sempre o tênis mais barato, que logo estragava e eu precisava comprar de novo", diz.

Com uma renda familiar de R$ 4.000, eles investem na Bolsa e em títulos públicos de renda fixa. A família mora com os pais de Janaína, mas já tem uma poupança para dar entrada na casa própria. A educação financeira está passando de mãe para filhas.

"Tenho um aplicativo, o Mozper, que ajuda a gerenciar os gastos das meninas. Cada uma tem a sua conta e o seu cartão. Deposito uma quantia por mês e também parte da pensão delas", diz Janaína.

"Temos um combinado: tudo o que custar até R$ 100 eu pago. Acima disso, elas vão ter que juntar dinheiro para comprar", afirma. Ela acredita que, ao aprender a lidar com o dinheiro agora, as meninas vão aprender o valor das coisas e se tornarão independentes financeiramente.

"Não vão precisar passar pelo que eu passei."


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