SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deve trazer como reflexo uma melhora da relação entre o Brasil e a China.
A avaliação é do executivo Pedro Parente, sócio-fundador da gestora eB Capital e ex-presidente da Petrobras e da BRF.
"Se tem um aspecto que a gente pode acreditar que vai mudar se o ex-presidente Lula ganhar, é a relação com a China", afirmou Parente, durante participação em evento da Anbima e da B3 em São Paulo nesta terça (20).
Segundo o especialista, o Brasil vive hoje um momento macroeconômico global que oferece uma oportunidade única, com a guerra entre Rússia e Ucrânia e a crise energética na Europa, podendo ser o país emergente de escolha dos investidores internacionais.
"Se houver uma certa competência do governo que entrar, especialmente com a esperada melhora da relação com a China, se o ex-presidente Lula ganhar a eleição, a gente tem uma oportunidade de recuperar a atratividade como um país emergente de escolha para os investimentos internacionais", afirmou Parente.
Durante o governo Bolsonaro, a relação com a China foi marcada por hostilidades oriundas do presidente, de ministros e de seus filhos contra o gigante asiático.
Em maio de 2021, Bolsonaro sugeriu que o país asiático teria se beneficiado economicamente da pandemia e afirmou que a Covid-19 pode ter sido criada em laboratório -ecoando tese que não encontra respaldo em investigação da OMS sobre as possíveis origens do vírus.
Em 2020, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já havia comparado a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986.
"Dada a necessidade do aumento da produção de alimentos que está dada pelo crescimento da população, especialmente de países asiáticos, e mais especialmente ainda, a Índia, como também pelo aumento da urbanização, o Brasil é indispensável no cenário internacional", disse Parente.
Ele acrescentou que, como contraponto ao cenário positivo traçado para a relação com a China e para o agronegócio no país, é a preocupação do setor, "e que faz com que eles majoritariamente prefiram o candidato Bolsonaro, que volte aquela instabilidade derivada de invasões injustificadas sobre propriedades produtivas, e uma certa desorganização no campo. Isso seria muito ruim."
PARENTE CRITICA A "BANALIZAÇÃO DO DESVIO" NO BRASIL
O executivo também fez duras críticas ao que classificou como a "banalização do desvio" no país, evocando o conceito da "banalização do mal" cunhado pela filósofa alemã Hannah Arendt. Ele se referia a medidas que têm sido adotadas pela classe política no país que, em sua avaliação, não deveriam ser aceitas pela sociedade.
Ele citou o orçamento secreto como exemplo. "Como é que é aceitável um orçamento secreto? No meu tempo, se a gente fosse ao Congresso, em uma CPI, e falasse de um orçamento secreto, a gente saía preso", afirmou Parente, que chegou a ocupar o cargo de chefe de gabinete da presidência de Fernando Henrique Cardoso.
"Orçamento secreto é inaceitável, e essa falta de indignação me incomoda muito", disse o executivo.
"A gente está se acostumando como sociedade, a aceitar coisas muito abaixo daquilo que seria o potencial do nosso país", afirmou Parente, que também fez referência às discussões sobre o avanço limitado de reformas no país, como a tributária.
Os diversos interesses de todos os envolvidos nas propostas de mudança no regime fiscal do país, disse, impedem que uma discussão mais robusta a respeito do tema consiga ganhar corpo e promova um avanço que seja, de fato, relevante.
"Não se olha a partir de um ponto de vista de qual seria um sistema ideal, que de fato permita um aumento da produtividade brasileira, que deveria acontecer, e no entanto, a gente não consegue fazer por causa dessa banalização do desvio e da aceitação da mediocridade."
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