SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de o BC (Banco Central) decidir manter a taxa Selic no patamar de 13,75% ao ano, as aplicações de renda fixa seguem com rentabilidades ainda bastante atraentes.
Com a inflação em trajetória de desaceleração ao longo das últimas semanas, o juro real oferecido pelos investimentos de renda fixa passa a ficar mais atraente, diz Andrew Storfer, diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças). O juro real é o rendimento após o desconto da inflação.
"Quando temos uma inflação declinante, e a Selic permanece estável, o juro real acaba subindo", diz o especialista.
Em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a registrar deflação (queda) com o impacto da baixa dos combustíveis, enquanto produtos como os de higiene pessoal, vestuário e parte dos alimentos mostraram alta.
No mês passado, o índice oficial de inflação do país recuou 0,36%, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com a nova trégua, a inflação voltou a um dígito no acumulado de 12 meses. A alta dos preços atingiu 8,73% até agosto, após 10,07% até o mês anterior.
Os juros no patamar atual, acrescenta o diretor da Anefac, tendem a gerar um impacto negativo para o consumo e o crédito, mas, sob a ótica da aplicação financeira, reforçam ainda mais a atratividade da renda fixa.
Segundo levantamento realizado por Storfer, com o atual nível da taxa básica de juros, um investimento de R$ 1.000 no título público pós-fixado Tesouro Selic, que acompanha de perto a rentabilidade da taxa básica de juros, renderia ao aplicador R$ 114,57, considerado um intervalo de 12 meses.
O valor considera uma aplicação com taxa de juros de 13,89% ao ano e já desconta a incidência da alíquota do Imposto de Renda de 17,5% para os investimentos resgatados no prazo de um ano.
Pelos cálculos da Anefac, os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) de bancos de médio porte representam a opção mais rentável dentre as principais alternativas, devolvendo ao investidor que aplicar R$ 1.000 no prazo de um ano o valor de R$ 124,78, descontado o IR na fonte. Nesse caso, os juros considerados são de 15,13% ao ano.
Em relação aos grandes bancos, o rendimento recebido após 12 meses seria de R$ 105,50, mediante a aplicação com juros de 12,79%.
No caso das LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e das LCAs (Letras de Crédito Agrícola), que não têm desconto do IR, o ganho líquido dentro do prazo de um ano será de R$ 123,75, remunerado por um juro de 12,38% ao ano.
"Aplicações como Tesouro Direto, CDBs dos grandes bancos, fundos conservadores e letras de crédito são seguras e têm um rendimento, dependendo do prazo, bem próximo ou mesmo acima da Selic", afirma o diretor da Anefac.
Storfer acrescenta que, no caso dos CDBs de instituições de menor porte, embora ofereçam rendimentos mais atraentes, também expõem o investidor a um nível de risco maior.
Nesse caso, o especialista diz que o investidor deve procurar fazer um aporte dentro do limite coberto pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que assegura o valor de até R$ 250 mil por CPF e conglomerado financeiro, em caso de eventuais problemas financeiros que a instituição emissora venha a sofrer no meio do caminho.
POUPANÇA RENDE MENOS DA METADE DA SELIC
Já a caderneta de poupança tem o menor retorno entre as opções analisadas, mesmo sem ter o desconto do IR.
Mesmo com a recente trajetória de alta na taxa básica de juros, que aumenta a atratividade de produtos de renda fixa de modo geral, o rendimento da poupança não muda.
A despeito da escalada da Selic, que saiu da mínima histórica de 2% em março de 2021 para os atuais 13,75% ao ano, a aplicação da caderneta segue com o rendimento inalterado em 6,17% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial).
A remuneração da poupança é de 0,5% ao mês sempre que a Selic estiver acima de 8,5% ao ano. Já quando a taxa básica é de até 8,5%, o rendimento da poupança equivale a 70% da Selic.
"Nesse cenário, a poupança, apesar de ser uma aplicação fácil e segura, não fica competitiva, rendendo menos da metade da Selic", diz Storfer.
A inflação em níveis ainda pressionados somada às condições financeiras mais restritivas impostas pelo avanço da Selic, tem contribuído para saques cada vez maiores de recursos da poupança.
A caderneta de poupança registrou saque líquido de R$ 22,016 bilhões em agosto, em um cenário de alta dos juros que reduz a competitividade da aplicação frente a outros investimentos, mostraram dados do BC.
O volume de retiradas ficou muito acima do resultado negativo de R$ 5,468 bilhões no mesmo mês de 2021 e representa o maior saque líquido nominal (ou seja, sem descontar a inflação) para todos os meses da série histórica do BC, iniciada em 1995.
O rombo recorde foi registrado mesmo diante dos pagamentos pelo governo federal de benefícios sociais turbinados em ano eleitoral. Repasses como o adicional do Auxílio Brasil, o complemento do Auxílio Gás e benefícios a caminhoneiros e taxistas foram iniciados em agosto.
Com o resultado, a caderneta de poupança acumula um saque líquido de R$ 85,168 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, também recorde da série. No mesmo período de 2021, o dado estava negativo em R$ 15,630 bilhões.
O fluxo de recursos na poupança passou a acumular retiradas significativas em 2021, quando o poder de compra do brasileiro caiu significativamente diante de uma inflação de dois dígitos e um intenso choque de juros.
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QUANTO RENDEM R$ 1.000 COM A SELIC A 13,75% AO ANO
Os valores mostram o resultado líquido após o desconto do Imposto de Renda (se houver), sem considerar a inflação, em R$
Tipo de investimento - Juros ao ano (em %) - 6 meses de aplicação - 12 meses de aplicação - 18 meses de aplicação
CDB (bancos médios)* - 15,13 - 1.058,37 - 1.124,78 - 1.194,08
CDB (grandes bancos)* - 12,79 - 1.049,61 - 1.105,5 - 1.163,2
Fundo de investimento conservador - DI* - 13,75 - 1.053,23 - 1.113,44 - 1.175,88
LCA/LCI - 12,38 - 1.060,07 - 1.123,75 - 1.191,25
Poupança - 6,17 - 1.030,39 - 1.061,7 - 1.093,96
Tesouro Selic* - 13,89 - 1.053,74 - 1.114,57 - 1.177,69
*Investimentos com incidência de IR sobre o rendimento. As alíquotas variam conforme o período da aplicação, sendo de 15% (36 meses), 17,5% (12 e 18 meses) e 20% (6 meses) | Fonte: Anefac
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